Economia

Lucro de bancos pode encolher em 2016 pela 1ª vez em décadas

Não há apetite dos brasileiros para tomar empréstimos em um cenário de deterioração da economia


	Bancos: projeções indicam outro ano de avanço de apenas um dígito no crédito, principalmente porque não há apetite dos brasileiros para tomar empréstimos
 (Reuters/ Sergio Moraes)

Bancos: projeções indicam outro ano de avanço de apenas um dígito no crédito, principalmente porque não há apetite dos brasileiros para tomar empréstimos (Reuters/ Sergio Moraes)

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Da Redação

Publicado em 27 de dezembro de 2015 às 16h26.

O aumento do desemprego combinado com juros ascendentes deve sustentar a piora dos calotes nos grandes bancos no próximo ano, que caminha para ser ainda mais fraco sob o ponto de vista de oferta de crédito. Além da previsível deterioração na qualidade dos ativos, efeitos adversos de maior tributação podem fazer com que o resultado em conjunto das maiores instituições do País - Bradesco, Itaú Unibanco, Banco do Brasil e Santander - encolha, pela primeira vez em décadas, e que o retorno sobre o patrimônio fique abaixo dos tradicionais 20%.

As projeções indicam outro ano de avanço de apenas um dígito no crédito, principalmente porque não há apetite dos brasileiros para tomar empréstimos em um cenário de deterioração da economia brasileira e aumento do desemprego.

Os mais pessimistas apostam em estabilidade ou até mesmo encolhimento das carteiras, com exceção das linhas de imobiliário e consignado (com desconto em folha).

Na outra ponta, financiamento de automóveis vai continuar em queda, podendo se estabilizar apenas no final de 2017, segundo o Goldman Sachs. Para o crédito em geral, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) projeta alta nominal de 7,8% em 2015 e no próximo ano.

"O orçamento de 2016 vai carregar a expectativa de um Produto Interno Bruto (PIB) negativo para o próximo ano. A inadimplência deve aumentar, mas em um processo gradativo", avaliou o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, em recente conversa com a imprensa.

Até novembro, segundo dados do Banco Central, o crédito cresceu 7,4% ante um ano, totalizando R$ 3,177 trilhões. A expectativa é de alta de 7% neste ano, contra projeção de 9% no início de 2015. Caminha, assim, para renovar o menor patamar de alta em mais de uma década, conforme a base histórica do regulador. No ano passado, avançou 11,3%. Já a inadimplência, levando em conta atrasos superiores a 90 dias, fechou o mês passado em 3,3%, contra indicador de 3,2% em outubro e 2,8% no mesmo período do ano passado.

"Nesse ano, houve desaceleração um pouco mais rápida do crédito, o que é normal, uma vez que a demanda em 2015 foi menor, impactada pela postergação de decisões por parte de muitos participantes", avaliou Murilo Portugal, presidente da Febraban, em recente entrevista à imprensa. "Os bancos também adotaram um cuidado adicional na hora de liberar recursos, em um esforço de avaliar com mais cautela os riscos nas operações", acrescentou.

A postura cautelosa para emprestar será mantida em 2016. Depois de priorizarem os segmentos de menor risco, os grandes bancos restringiram os empréstimos para a compra da casa própria, via elevação de juros e exigência de maior entrada, e reforçaram a negociação de créditos em atraso. Até mesmo os adimplentes entraram na mira, em um esforço dessas instituições para evitar uma piora ainda mais acentuada dos calotes, uma vez que há impacto da Lava Jato no âmbito empresarial e do ambiente macroeconômico, que tem se refletido no orçamento das famílias.

Inadimplência

Um executivo de alto escalão de um banco estrangeiro diz que a inadimplência em 2016 deve subir de forma preocupante, obrigando as instituições a reforçar mais as provisões para devedores duvidosos, as chamadas PDDs. No terceiro trimestre, um colchão adicional de R$ 16 bilhões foi feito, aproveitando os ganhos com a majoração da contribuição social sobre o lucro líquido (CSLL). Os grandes bancos esperam que o pico dos calotes se materialize apenas no final do próximo ano, podendo ficar, em alguns casos, para o começo de 2017. Descartam, porém, que se aproxime dos níveis vistos na crise de 2009.

"Vemos risco nas grandes e médias empresas que não estavam envolvidas na primeira onda de aumento da inadimplência, no início de 2015, se a atividade econômica não melhorar em meados de 2016", observam Carlos Macedo, Marcelo Cintra, Tyson Bryan e Steven Goncalves, do Goldman Sachs, em relatório a clientes.

Isso pode afetar, conforme eles, pequenas e médias empresas e também pessoas físicas que já enfrentam mais dificuldades para honrar seus compromissos, criando uma nova curva na inadimplência dos bancos. Mais do que elevar o pico dos calotes, o ciclo atual pode ultrapassar os 18 meses de outros períodos, afetando os resultados bancários de 2016.

Lucros contidos

No cenário mais pessimista, estimado pelo Bank of America Merril Lynch (BofA), o lucro dos grandes bancos no próximo ano pode chegar a cair 18%, ante expectativa de expansão ainda de dois dígitos em 2015. O Goldman Sachs projeta retração de 5%, totalizando R$ 73 bilhões para o lucro combinado de Bradesco, Itaú, BB e Santander. UBS e Deutsche Bank esperam desaceleração dos resultados, mas ainda com alta de um dígito no próximo ano.

Erivelto Rodrigues, da Austin Ratings, não acredita em redução do lucro dos bancos em 2016. A redução de despesas e o investimento em eficiência feito nos últimos anos, segundo ele, devem possibilitar aos bancos elevarem seus lucros em 10% no próximo exercício. "A inadimplência não vai aumentar tanto assim. Os bancos já constituíram provisões suficientes. Em 25 anos acompanhando o setor bancário, nunca vi redução de lucro e não será dessa vez", avaliou ele.

Do lado positivo, receitas com serviços e tarifas e o resultado com seguros devem atenuar as más notícias do mercado de crédito. Algum alento pode vir, segundo especialistas, das margens financeiras, visto que o Banco Central já sinalizou que pode elevar a taxa básica de juros, atualmente em 14,25% ao ano. Seguir com uma política monetária contracionista pode contribuir para o alongamento do processo de reprecificação das carteiras, efeito que pode, contudo, ser minimizado com o baixo crescimento do crédito, na opinião do Goldman Sachs.

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