Loyola: "O BC tem de dar liquidez e observar o efeito dessa depreciação (do real). Se necessário, sobe os juros" (José Cruz/Agência Brasil)
Reuters
Publicado em 7 de junho de 2018 às 18h09.
Última atualização em 7 de junho de 2018 às 18h26.
São Paulo - São limitados os instrumentos que o Banco Central e o Tesouro Nacional têm para enfrentar a atual crise nos mercados financeiros domésticos, causada por temores dos investidores com a cena política brasileira, e ainda é cedo para saber até onde ela vai.
A avaliação é de Gustavo Loyola, que presidiu o Banco Central por duas ocasiões nos anos 1990 e para quem a situação fiscal do Brasil também pesa neste cenário.
"As armas do BC e do Tesouro, numa questão política, são limitadas", afirmou ele à Reuters nesta quinta-feira.
Os DIs e o dólar disparam nas últimas semanas, sendo que nesta sessão a moeda já bateu o patamar de 3,95 reais, o maior intradia desde fevereiro de 2016. O Ibovespa derretia cerca de 6 por cento neste pregão.
O mercado doméstico piorou após a greve dos caminhoneiros elevar as preocupações com a deterioração do quadro fiscal do Brasil, com a redução do preço do diesel gerando impacto bilionário sobre as contas do governo.
Além disso, pesquisas eleitorais têm mostrado dificuldade de ganhar tração na corrida presidencial dos candidatos que o mercado considera como mais comprometidos com ajustes fiscais.
"Temos um quadro (político) que foge dos padrões, com opiniões populistas", afirmou Loyola, referindo-se aos pré-candidatos à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT), que têm aparecido como preferidos do eleitorado em pesquisas de opinião.
O ex-presidente do BC evita falar em exagero dos mercados nestes dias, mas acredita que está havendo especulação, e que o BC e o Tesouro têm atuado de maneira adequada, buscando dar liquidez neste momento via leilões de swaps cambiais --equivalentes à venda futura de dólares-- e títulos do governo.
Mas aponta que não se pode mexer nas reservas internacionais do país, hoje por volta de 380 bilhões de dólares, com venda de dólares à vista.
E também não concorda com avaliações --"levianas até" segundo ele-- de que parte dessa turbulência foi provocada pelo BC quando mudou sua política monetária no mês passado ao decidir manter a Selic em 6,50 por cento, mesmo com todas as sinalizações de que iria reduzi-la novamente diante da inflação ainda fraca.
"A culpa vem do campo político, com o Congresso e o Planalto", disse ele. "O BC tem de dar liquidez e observar o efeito dessa depreciação (do real). Se necessário, sobe os juros" e, eventualmente, pode ser mais explícito sobre sua política monetária, acrescentou.
Na véspera, o diretor de Política Monetária do BC, Reinaldo Le Grazie, reforçou que a autoridade não vai reagir ao câmbio, mas sim aos seus efeitos secundários.
O mercado vive uma verdadeira queda-de-braço com o BC, com os DIs já precificando alta da Selic neste mês, ignorando o cenário inflacionário e a atividade econômica fraca.
"Na verdade, o Brasil não avançou quase nada (no campo fiscal) e, no que avançamos, houve recuo", afirmou Loyola, referindo-se à greve dos caminhoneiros que custou ao governo 13,5 bilhões de reais até o final deste ano entre subsídios e renúncias tributárias.