Economia

Lista de Fachin atrasará reforma da Previdência, dizem analistas

Contudo, os analistas ainda acreditam que a reforma saia este ano, pois o governo se esforçará por um cenário econômico mais favorável para as eleições

Temer: "(A lista) aumenta o senso de urgência com a reforma porque torna o governo e os principais partidos, como o PMDB e o PSDB, mais dependentes da economia para construir algum plano crível para a eleição de 2018" (Ueslei Marcelino/Reuters)

Temer: "(A lista) aumenta o senso de urgência com a reforma porque torna o governo e os principais partidos, como o PMDB e o PSDB, mais dependentes da economia para construir algum plano crível para a eleição de 2018" (Ueslei Marcelino/Reuters)

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Reuters

Publicado em 12 de abril de 2017 às 16h18.

São Paulo - A abertura de inquérito que investiga diversos ministros e parlamentares da base do presidente Michel Temer na operação Lava Jato deve atrasar a votação da reforma da Previdência, considerada fundamental para a recuperação da economia, mas não a ponto de impedir que saia do papel ainda neste ano.

O motivo é que o governo e seus baldados, acreditam especialistas ouvidos pela Reuters nesta quarta-feira, vão se esforçar politicamente para que a medida passe pelo Congresso Nacional para que, em 2018, o ambiente econômico esteja mais favorável e gere mais chances a eles nas eleições.

"(A lista) aumenta o senso de urgência com a reforma porque torna o governo e os principais partidos, como o PMDB e o PSDB, mais dependentes da economia para construir algum plano crível para a eleição de 2018", afirmou o cientista político da consultora Tendências, Rafael Cortez.

Na véspera, o relator da operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Edson Fachin, autorizou a abertura de 76 inquéritos contra parlamentares, ministros de Estado e outras autoridades a partir das delações feitas por executivos da Odebrecht, o que deve provocar lentidão nas atividades legislativas e comprometer a agenda de reformas.

Assim, há avaliações fortes de que a reforma da Previdência só deverá ser aprovada no segundo semestre deste ano, ao contrário do que estimava a equipe econômica, para este semestre.

Essa lentidão, no entanto, não causou surpresa no mercado financeiro. Os investidores continuavam dando o benefício da dúvida ao atual governo e precificando que a Previdência será alterada em breve pelo Congresso Nacional.

Nesta sessão, juros futuros, Bovespa e o dólar tinham leves oscilações, com argumentos, entre outros, de que a lista de Fachin não trouxe grandes novidades, com os nomes dos políticos envolvidos já conhecidos antes.

"Esse risco já estava incorporado e temos um progresso na direção das reformas, às vezes com coisas mais positivas, às vezes com menos. Mas a coisa está caminhado", afirmou o economista-chefe do Banco J.Safra e ex-secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall.

Mais negociações

Apesar do cenário otimista desenhado, os especialistas sabem que o governo terá de negociar ainda mais para conseguir avançar com a reforma da Previdência.

Antes da lista do ministro do STF, o governo já havia aberto mão de importantes pontos da reforma, como as regras de transição, ainda sem detalhes.

"O que foi revelado já estava no radar. A análise mais comum do mercado é de um processo que envolve todo o meio político, mas a negociação para a aprovação da reforma será mais dura e lenta", afirmou o economista-chefe da Votorantim Corretora, Roberto Padovani.

O esforço do governo, avaliaram os especialistas, vem porque existe a expectativa de que a lista de Fachin, com o desenrolar das investigação, tenha mais impacto na eleição de 2018.

Na lista de políticos citados, estão nomes de possíveis presidenciáveis, como Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra, pelo PSDB, além do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, atualmente a principal possibilidade do PT na disputa.

"Embora estes desenvolvimentos tenham o potencial de atrasar a votação da reforma da Previdência, as perspectivas para a sua aprovação final permanecem intactas", escreveu a consultoria Eurasia em relatório divulgado pela manhã.

"O impacto mais duradouro do escândalo da Lava Jato em curso será sentido nas eleições de 2018, onde o sentimento 'anti-establishment' provavelmente dominará as escolhas dos eleitores", acrescentou.

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