Economia

Liberação de FGTS é band aid em caso que requer quimioterapia, diz Abimaq

Diretor da Associação, Mário Bernardini afirma que não considera a medida do governo um erro, mas diz que é insuficiente e "se esgota em si mesmo"

FGTS: governo pretende liberar saques de contas ativas e inativas (SOPA Images / Contributor/Getty Images)

FGTS: governo pretende liberar saques de contas ativas e inativas (SOPA Images / Contributor/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 30 de julho de 2019 às 16h39.

No curto prazo o Brasil precisa aumentar os investimentos públicos para levar a economia à retomada do seu crescimento e não apenas aumentar o consumo, disse nesta terça-feira, 30, o diretor de Competitividade da Associação da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Mário Bernardini.

Para ele, que faz questão de lembrar que o Brasil já teve sua experiência malsucedida no estímulo à demanda apartada do investimento na oferta, liberar recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) é aplicar "um 'band aid' em um paciente cujo caso requer quimioterapia".

"Não diria que o governo está dando um tiro no pé ou cometendo um erro. Apenas que é insuficiente e se esgota em si mesmo", disse, acrescentando que o FGTS vai colocar no mercado R$ 20 bilhões a R$ 25 bilhões - o governo fala em R$ 30 bilhões - que depois acabam.

Segundo Bernardini, tomando como base a liberação de recursos do FGTS e do PIS/Pasep no governo Temer, é sabido que metade dos recursos vai para pagar dívidas, o que é muito bom porque desalavanca as famílias, e que só metade vai para o consumo.

"Essa parte que vai para o consumo é muito pouco. Acho que isso é um band aid para um caso que precisa de quimioterapia. E a quimioterapia, neste caso, é investimento público em infraestrutura escolhendo aqueles setores que têm mais conteúdo em construção civil, que responde mais à fila do desemprego, e tocando as coisas que já estão prontas", afirmou Bernardini.

Não é preciso inventar nada, de acordo com o diretor da Abimaq. De acordo com ele, tem um monte de obras que estão começadas e paradas e que basta o governo concluí-las para elas darem efeitos. "A relação custo-benefício é favorável até que durante um ano, um ano e meio se teria condições e um ambiente em que os investimentos privados internos e externos se sentissem confortáveis para começarem a substituir o investimento público" disse.

Para Bernardini, as duas coisas não são excludentes. Uma complementa a outra e neste momento a partida tem que ser dada pelo investimento público.

De acordo com o diretor da Abimaq, a retomada de crescimento é mais importante no curto prazo do que as reformas a que o governo tem tanto se dedicado, já que os impactos das reformas da Previdência e tributária são para o médio e longo prazo.

"Mas o governo precisa deixar a ideologia de lado e investir em infraestrutura. Não faz por uma questão de sua ideologia liberal. Temos quase 30 mil obras iniciadas e não acabadas para concluir. Não estamos pedindo para inventar coisas novas. É só acabar as obras começadas", reiterou.

O diretor da Abimaq diz que o que mais preocupa é o desemprego porque deságua no aumento da violência. Para ele, do jeito que a situação se encontra a retomada do emprego não virá antes de dois anos. E o País, segundo ele, não aguenta esperar mais dois anos com 13 milhões de pessoas desempregadas. "O governo deveria deixar a ideologia de lado, abrir uma exceção e promover investimentos públicos até que os investimentos privados possam ser retomados", sugeriu.

A questão do desemprego no Brasil para Mario Bernardini é apavorante porque contribui cada vez mais para o aumento da criminalidade. Isso porque, de acordo com ele, o maior número de desempregados está entre os mais jovens. "Que esperança esse jovem tem? Vai ser adotado pelo tráfico porque o traficante dá ao jovem um salário. E o que o governo está fazendo?", criticou Bernardini.

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