Economia

Leões africanos querem imitar os tigres asiáticos

Duas décadas de rápida aceleração do crescimento na África sugerem que o continente mais pobre está começando a entender seus desafios

Operários trabalhando na construção de um navio petroleiro em Lagos, na Nigéria (Eddie Seal/Bloomberg News)

Operários trabalhando na construção de um navio petroleiro em Lagos, na Nigéria (Eddie Seal/Bloomberg News)

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Da Redação

Publicado em 4 de agosto de 2014 às 22h48.

Lagos/Cidade do Cabo/Johanesburgo - ThankGod Agbagu vê as estradas pavimentadas e os arranha-céus que surgiram em Lagos, a maior cidade da África, como sinais de um futuro melhor.

“Isso é desenvolvimento, progresso”, disse o alfaiate de 30 anos em entrevista por telefone da capital comercial da Nigéria, em 30 de julho.

“Definitivamente, vejo muitas oportunidades aí. Pode ser que as coisas não melhorem muito durante a minha vida, mas talvez sim para aqueles que vierem depois de nós”.

Duas décadas de rápida aceleração do crescimento na África sugerem que o continente mais pobre está começando a entender seus desafios e aumentaram a perspectiva de que os “leões africanos” imitem as economias dos “tigres asiáticos” no século 21.

As vantagens da África incluem enormes quantidades de recursos sem explorar, uma população jovem e uma classe média em expansão.

Por outro lado, há uma pobreza e uma desigualdade desenfreadas, um aumento da violência militante islamita e uma infraestrutura estarrecedora.

Dados compilados pelo Banco de Desenvolvimento Africano apoiam a premissa de uma África em alta: a média de esperança de vida subiu de 37 anos em 1950 para 58 anos em 2011 e a matrícula no ensino fundamental cresceu de 52 por cento em 1990 para 77 por cento em 2011.

A governança melhorou em 46 de 52 países africanos nos 13 anos até 2013, segundo a Fundação Mo Ibrahim, que leva em conta indicadores como a segurança e o estado de direito, os direitos humanos e o progresso econômico.

Crescimento mais acelerado

Em 24 de julho, o FMI disse que estima que as economias da África Subsaariana cresçam 5,4 por cento neste ano e 5,8 por cento em 2015, em comparação com 1,7 por cento e 3 por cento para os EUA nesses dois anos, respectivamente.

O FMI, com sede em Washington, projetou que o crescimento da China seja de 7,4 por cento neste ano e de 7,1 por cento em 2015.

Contudo, a paz continua esquiva em vários países africanos.

Na Nigéria, os rebeldes do Boko Haram combatem as forças de segurança há cinco anos no intuito de impor a lei islâmica.

A violência, que se espalhou para o vizinho Camarões, cobrou mais de 2.053 vidas no primeiro semestre deste ano, segundo a Human Rights Watch, com sede em Nova York.

Também há conflitos no Sudão do Sul, na República Centro Africana e na Somália, e o Al-Shabaab, um grupo militante ligado ao Al-Qaeda, realizou atentados no Quênia, matando dezenas de pessoas.

Padrões mascarados

A África obteve 5,7 por cento dos projetos internacionais de investimento estrangeiro direto no ano passado, frente a 3,6 por cento há uma década, disse a empresa de contabilidade EY em sua pesquisa Africa Atractiveness Survey de 2014, publicada em 15 de maio.

Mais de 400.000 empresas novas foram registradas no continente no ano passado, segundo o Banco de Desenvolvimento Africano, com sede em Túnis.

Os dados econômicos e a perspectiva otimista mascaram os péssimos padrões de vida ainda enfrentados pela maioria dos 1,1 bilhões de habitantes da África.

Países africanos ocuparam os últimos 18 lugares no ranking de 2014 dos níveis de desenvolvimento em 187 países do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas.

Cerca de 72 por cento da população da África Subsaariana, 585 milhões de pessoas, vive na pobreza ou à beira dela, disse a agência em relatório do dia 24 de julho.

O presidente americano Barack Obama receberá mais de 40 líderes africanos numa cúpula que começa hoje em Washington. A reunião de três dias visa impulsionar os laços econômicos e abordar a insuficiência de infraestrutura e investimentos da África.

Rehema Juma, desenvolvedor comercial do Quênia, antecipa que a África demore décadas para concretizar seu potencial completo.

“Por agora não vejo uma mudança nas coisas”, disse Juma, 30, em entrevista de Nairóbi, no dia 26 de julho.

“A política e a corrupção vão asfixiar o crescimento, independentemente de quantos recursos descobrirmos. Provavelmente meus netos possam ver uma mudança e uma África melhor, quando nossa democracia amadurecer e a corrupção for minimizada”.

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