Energia elétrica: certame acabou salvo de um fracasso maior por essas empresas que tradicionalmente não disputam os leilões (REUTERS/Lang Lang)
Da Redação
Publicado em 13 de abril de 2016 às 16h39.
São Paulo - O leilão de linhas de transmissão promovido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) nesta quarta-feira viabilizou cerca de 6,7 bilhões de reais em empreendimentos, com a concessão de 58 por cento dos projetos oferecidos e boa parte dos lotes arrematados sem deságio, enquanto as principais disputas foram protagonizadas por empresas de fora do setor elétrico.
O certame acabou salvo de um fracasso maior por essas empresas que tradicionalmente não disputam os leilões --fundos de investimento e grupos de engenharia e infraestrutura, como o Pátria Investimentos e a WPR Participações, do Grupo WTorre, que destacaram-se em diversas disputas, em um certame também marcado por vários lotes vazios, sem proposta de investidores.
Os novos players acabaram atraídos para a disputa após a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) ter elevado as taxas de retorno dos projetos de transmissão, atendendo a pleito do Tribunal de Contas da União (TCU), que queria evitar um leilão ainda mais esvaziado, e foram favorecidos também pela definição de lotes com menos projetos em relação aos certames anteriores.
"Para nós é excelente isso, novos entrantes. Talvez a forma como conseguimos estruturar os lotes, menores, fez com que empresas não tradicionais do setor pudessem vir a participar... isso é bom, diversificação é importante", afirmou o diretor da Aneel José Jurhosa, em entrevista ao final da licitação.
Dos 24 lotes de empreendimentos ofertados, que demandariam cerca de 12,2 bilhões de reais em investimentos, apenas 14 foram arrematados, ou 58 por cento do total.
As linhas não arrematadas serão incluídas pela Aneel em um próximo leilão previsto para 1° de julho, de forma a evitar que grandes atrasos tragam problemas futuros para o escoamento da energia no sistema, disse Jurhosa.
Entre os vencedores do leilão também figuraram empresas de energia, como a State Grid e a Alupar, com dois lotes arrematados cada, enquanto a Taesa, controlada pela Cemig e pelo fundo Coliseu, levou um projeto.
O resultado com diversos empreendimentos sem propostas já era esperado devido à recessão e à crise política, aliadas a um receio maior dos investidores quanto ao setor de transmissão, que no ano passado já havia registrado dois leilões em que mais da metade dos lotes não teve oferta.
Nesse cenário já sem grandes expectativas, a forte disputa entre empresas por alguns lotes surpreendeu, enquanto outros sete empreendimentos foram arrematados sem deságio --quando há disputa, o consumidor tende a ser beneficiado com tarifas mais baixas no futuro.
Entre as empresas de fora do setor, destacaram-se a WPR Participações, que é voltada a infraestrutura e faz parte do Grupo WTorre, com dois lotes.
Também levaram projetos a Zopone Engenharia, a F3C Empreendimentos, o grupo Transmissão do Brasil, do Pátria Investimentos, e os consórcios Brasferpower, KV-LT, MPE-KV e Geogroup, cujas composições não foram divulgadas.
A menor participação das elétricas se dá em um momento em que o principal investidor de transmissão no país, a estatal Eletrobras, enfrenta grande dificuldade para entrar em novos projetos devido a problemas de caixa.
Outras empresas do setor, como a privada Cteep e estatais estaduais, têm limitado os investimentos enquanto aguardam uma solução do governo federal para bilhões de reais em indenizações prometidas a elas ainda no final de 2012, quando renovaram contratos de concessão antigos por tarifas menores, em um programa federal para reduzir a conta de luz.
LOTES
O Pátria ficou com o maior empreendimento do leilão, o A, e receberá 404,9 milhões de reais por ano para construir e operar linhas em Piauí, Ceará e Maranhão.
A State Grid arrematou o segundo maior, o C, com receita anual de 334,56 milhões de reais para projetos em Mato Grosso, e um lote menor, O, com receita de 58,2 milhões de reais.
A Alupar ganhou a disputa pelos lotes I e T, com receitas de 48,5 milhões de reais por ano e 28,1 milhões de reais por ano, respectivamente, enquanto a Taesa ficou com o lote P, com receita de 56 milhões anuais, sem deságio.
A WPR Participações levou os lotes E e M, com receitas anuais de 121,6 milhões e 59,6 milhões de reais, respectivamente, com deságios elevados, de 14 por cento e 15 por cento.
O consórcio KV-LT levou o lote F, com receita de 145,2 milhões por ano, e o consórcio MPE-KV ficou com os empreendimentos do lote W, com receita anual de 8,7 milhões de reais.
A F3CE Empreendimentos arrematou o lote L, com receita de 17,3 milhões de reais, enquanto o consórcio Brasferpower levou o Q, com 40 milhões anuais, e o consórcio Geogroup ficou com o lote X, por receita anual de 8,5 milhões de reais.