Economia

Leilão da Aneel termina com indiana Sterlite como maior vencedora

A Sterlite, que estreou no país no ano passado, ficou com seis projetos, que demandarão cerca de 3,6 bilhões de reais para serem construído

Bolsa: Executivos da Sterlite e diretores da Aneel comemoram resultado do leilão (B3/Divulgação)

Bolsa: Executivos da Sterlite e diretores da Aneel comemoram resultado do leilão (B3/Divulgação)

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Reuters

Publicado em 28 de junho de 2018 às 22h43.

Última atualização em 28 de junho de 2018 às 22h58.

São Paulo - Um leilão de concessões para a construção de novas linhas de transmissão de energia no Brasil terminou na noite desta quinta-feira com um resultado acima das mais otimistas previsões, com deságio recorde, viabilizando a construção de empreendimentos que demandarão cerca de 6 bilhões de reais.

O destaque do certame foi a atuação da indiana Sterlite Power, que liderou em número de projetos arrematados e ainda ficou com o maior lote do evento. A companhia responderá sozinha por mais da metade dos investimentos viabilizados na licitação.

Apesar do desconforto com um atraso de cerca de sete horas para o início do certame, devido a uma liminar judicial, os investidores ofereceram deságios altos frente à receita máxima estabelecida pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para os projetos --muitos passaram de 50 por cento, e o maior alcançou mais de 70 por cento.

Tais patamares de descontos não eram vistos desde a década passada, quando a estatal Eletrobras e suas subsidiárias dominavam os certames ao aceitar assumir empreendimentos com baixas margens.

Nesta quinta-feira, no entanto, todos o lotes foram arrematados por empresas privadas, sempre com grande disputa entre diversos agentes nacionais e estrangeiros, após as receitas máximas terem sido elevadas para atrair investidores, algo que vem sendo registrado nas últimas licitações.

"A expectativa era muito boa, mas foi acima do esperado a concorrência e o deságio dos lances pelos lotes", disse à Reuters o secretário-adjunto de Planejamento do Ministério de Minas e Energia, Moacir Carlos Bertol.

Antes do leilão, especialistas já previam um bom resultado e grandes deságios, mas havia uma previsão de que questões macroeconômicas e um ambiente de risco político poderiam deixar os descontos abaixo dos cerca de 40 por cento registrados em um certame no final do ano passado.

Após o prolongado atraso inicial e depois de cerca de cinco horas de leilão, o deságio médio dos 20 lotes licitados foi o maior da série histórica, de cerca de 55 por cento. Até a licitação desta quinta-feira, o recorde anterior havia sido registrado em 2007 (54,84 por cento).

"Algumas horas a mais não fazem diferença, nós já nos preparamos por seis meses para o leilão", comentou com jornalistas o presidente do Conselho de Administração da Sterlite Power, Pratik Agarwal.

A Sterlite, que estreou no país no ano passado e desde então tem sido ativa nos leilões de transmissão, ficou com seis projetos, que demandarão cerca de 3,6 bilhões de reais para serem construídos, de acordo com estimativa da Aneel.

A companhia indiana levou o lote 3, para a construção de linhas entre o Ceará e o Rio Grande do Norte, o maior empreendimento leiloado, no qual terá que investir 1,2 bilhão de reais.

Os representantes da companhia indiana, inclusive, comemoraram com empolgação o resultado. "Hexa, hexa, hexa!", gritavam, enquanto se cumprimentavam no salão da bolsa B3, onde foi realizado o evento.

A Cteep, transmissora controlada pela colombiana Isa, conquistou a concessão de dois empreendimentos, que devem receber investimento de cerca de 880 milhões de reais.

A brasileira Energisa arrematou um projeto, orçado em quase 480 milhões de reais, enquanto a CPFL, da chinesa State Grid, ficou com um lote que demandará aproximadamente 102 milhões de reais.

Outros

Companhias de engenharia e serviços e empresas de outros setores também se destacaram na concorrência, principalmente nos lotes de menor porte.

Um grupo com Lyon Infraestrutura e PLM Empreendimentos levou três empreendimentos, enquanto um consórcio entre BrEnergia, Brasil Digital Telecomunicações e Enind Engenharia ficou com dois lotes, assim como um consórcio com JB Construtora, JHH Participações e a comercializadora de energia Total.

A Zopone Engenharia ficou com um projeto, assim como a F3C Empreendimentos e um consórcio entre IG Transmissão e ESS Energias Renováveis.

Outras gigantes do setor elétrico, como a portuguesa EDP, a espanhola Iberdrola, por meio de sua controlada Neoenergia, e a brasileira Equatorial chegaram a fazer propostas por diversos lotes, mas sem sucesso, em meio à intensa disputa.

A Taesa, controlada pela mineira Cemig e pela colombiana Isa, fazia parte de um consórcio com a Cteep que arrematou um projeto, mas decidiu exercer o direito de saída da associação pelo empreendimento.

O leilão teve um total de 47 empresas e consórcios inscritos, segundo a Aneel, e muitos lotes receberam mais de uma dezena de lances.

Atraso

O leilão começou por volta das 16h, após atraso devido a embate judicial que envolveu uma das empresas interessadas.

A licitação, prevista inicialmente para começar às 9h desta quinta-feira, ficou suspensa por liminar obtida pela JAAC Materiais e Serviços, que foi à Justiça após não ser habilitada para disputar o certame.

O leilão foi retomado após a derrubada da liminar, que envolveu um acordo com a JAAC, que havia enfrentado um problema no aporte de garantias exigido pelas regras.

Ao final, a JAAC não conseguiu vencer o lote 3, para o qual havia se inscrito. A vencedora, mais uma vez, foi a Sterlite, levando o empreendimento com um deságio de quase 60 por cento, para o qual aceitou receber uma receita anual de 85 milhões de reais.

(Por Luciano Costa)

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