Economia

Lava Jato seca títulos e faz Votorantim recorrer à Europa

A Votorantim Cimentos está contando com os investidores europeus para acabar com a seca de vendas de bonds do Brasil, causada pela Operação Lava Jato


	Votorantim Cimentos: a Votorantim Cimentos se reunirá com investidores na Europa nesta semana
 (Marcos Rosa/VEJA)

Votorantim Cimentos: a Votorantim Cimentos se reunirá com investidores na Europa nesta semana (Marcos Rosa/VEJA)

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Da Redação

Publicado em 4 de maio de 2015 às 23h11.

A Votorantim Cimentos SA está contando com os investidores europeus, descontentes os yields em mínimas históricas na região, para acabar com a seca de cinco meses das vendas de bonds do Brasil no exterior.

A fabricante de cimento contratou bancos para agendar reuniões com os investidores para uma possível venda de bonds em euros, disse uma fonte com conhecimento do assunto na quarta-feira.

A oferta seria a primeira desde que a Operação Lava Jato, uma investigação sobre pagamentos de propinas à Petrobras, praticamente fechou o mercado em novembro.

A Votorantim Cimentos está recorrendo à Europa em um momento em que os investidores estão fugindo diante dos baixos yields provocados pela compra de bonds sem precedentes do Banco Central Europeu.

A dívida soberana despencou em toda a região na semana passada e os traders rejeitaram um leilão da dívida alemã. Isso está criando uma abertura para a Votorantim Cimentos.

Suas notas em euros com vencimento em 2021 pagam um prêmio de 2,95 pontos porcentuais sobre as notas de referência. É três vezes a média para bonds similares com grau de investimento.

“Estamos em um ambiente de baixo yield na Europa; não restou nada, sob uma perspectiva do yield”, disse Patrik Kauffmann, gestor de recursos da Solitaire Aquila Ltd., de Zurique. “Este é um emissor com grau de investimento, por isso haverá apetite”.

Kauffmann disse que compraria os bonds se a oferta for “atrativa”.

A Votorantim Cimentos, com sede em São Paulo, se reunirá com investidores na Europa nesta semana, disse a fonte, que pediu anonimato porque não está autorizada a falar publicamente.

Em um e-mail, a assessoria de imprensa da fabricante de cimento disse que a empresa “avalia de forma permanente as oportunidades de mercado”.

‘Nome forte’

A Votorantim Cimentos está buscando explorar o mercado internacional depois de a Petrobras divulgar seus resultados financeiros auditados, no dia 22 de abril, pela primeira vez desde agosto.

A seca de emissões é a mais longa desde que a crise financeira congelou os mercados de crédito em 2008.

“O mercado de euros esta demandando notas”, disse Carlos Gribel, chefe de renda fixa da Andbanc Brokerage LLC em Miami, por e-mail.

“O mercado europeu é mais seletivo, mas a Votorantim tem nome para fazer isso. Tinha que ser um nome forte e eles têm isso”.

As dívidas corporativas denominadas em euros têm um yield médio de 0,96 ponto porcentual sobre os papéis soberanos de referência, segundo dados do Bank of America Corp.

A Votorantim Cimentos também teve a perspectiva sobre sua classificação BBB elevada de negativa para estável pela Fitch Ratings no mês passado.

A agência de rating citou a posição de caixa forte da empresa e sua presença nos mercados de cimento do Brasil, dos EUA e da Europa.

A empresa ainda terá que pagar um prêmio exigido pelos investidores devido ao impacto da fragilidade da economia sobre a demanda pelo cimento, disse Kauffmann, da Solitaire.

Crise econômica

A economia brasileira encolherá 1,18 por cento neste ano, resultado que seria o pior desde 1990, segundo pesquisa do Banco Central com analistas divulgada nesta segunda-feira.

A empresa gerou cerca de 70 por cento de sua receita consolidada no país em 2014, segundo um comunicado financeiro publicado em seu site.

Leonardo Kestelman, gestor de recursos da Dinosaur Securities, disse que a Votorantim Cimentos não deve ser a única empresa brasileira a vender bonds na Europa, onde os yields devem continuar baixos em meio à política monetária.

A Votorantim Cimentos “deve ser bem-sucedida”, disse ele por telefone, de São Paulo.

“Os investidores europeus precisam de notas e, sendo de grau de investimento, terá demanda. A Votorantim será o balão de ensaio. Se essa oferta correr tranquila, veremos mais algumas empresas vir”.

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