Economia

Lagarde vai defender um 'liberalismo moderado'

Nova diretora-gerente do FMI é favorável a certas regulações no sistema econômico

Christine Lagarde: "o liberalismo é uma questão de regras bem aplicadas" (Win McNamee/Getty Images)

Christine Lagarde: "o liberalismo é uma questão de regras bem aplicadas" (Win McNamee/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 17 de junho de 2012 às 09h24.

Paris - Liberal pragmática, favorável a certas regulações, Christine Lagarde, a nova diretora-gerente do FMI, é, principalmente, uma negociadora que deve seguir o caminho já tomado pela instituição para reforçar as ferramentas contra a crise e a abertura aos países emergentes.

Quando era ministra de Finanças da França e em toda a campanha para o cargo no Fundo Monetário Internacional (FMI), a primeira mulher a dirigir a instituição já defendia um "liberalismo moderado".

"O liberalismo é uma questão de regras bem aplicadas", afirmava frequentemente.

Segundo um antigo colaborador no Ministério, Lagarde está no meio do caminho entre os defensores da desregulamentação e dos que preferem uma economia totalmente regulada.

"Seu posicionamento tem ganhado força com a crise. Ela mantém uma certa distância do modelo americano ao qual conhece bem e adere em grande parte", disse.

Ex-advogada, não tem formação acadêmica em economia. Alguns apontam isso como sua principal fraqueza quando tiver que atuar numa economia mundial convalescente, comenta Charles Wyplosz, diretor do Centro Internacional de Estudos Monetários e Bancários de Genebra, mas opina que isso não é necessariamente um defeito.

"Christine Lagarde tem uma capacidade impressionante de absorver tudo o que seus conselheiros dizem e um talento único para vendê-los a quem for necessário. Está muito bem para o FMI".

"Diplomata hábil" e "grande negociadora" são duas qualidades em que todos estão de acordo, inclusive os mais críticos, ao descrever a francesa.


"Uma de suas grandes características é encontrar consenso onde parecia impossível", explica Agnès Bénassy-Quéré, diretora do Centro Francês de Estudos Prospectivos e Informações Internacionais (CEPII).

Lagarde vai contar com o apoio, principalmente, das equipes "muito qualificadas" do Fundo, "essencialmente selecionadas e organizadas por Dominique Strauss-Kahn", seu antecessor no cargo e compatriota, afirma Charles Wyplosz.

Não são esperadas grandes mudanças na doutrina estabelecida por Strauss-Kahn na instituição de Washington durante a crise, favorável a uma intervenção pública crescente.

"Acho que ela vai continuar com as reformas já iniciadas, Lagarde tem a autoridade necessária", confirmou Eswar Prasad, economista do Brookings Institution.

Com a crise, "as diferenças dogmáticas se atenuaram muito", afirma Agnès Bénassy-Quéré. O governo de direita, da qual Lagarde faz parte, se diferencia por "uma intervenção muito grande do Estado para reaquecer a economia".

O lançamento de sua candidatura resume suas posições: não anunciou nenhuma revolução, mas pretende "reforçar" a "legitimidade" do FMI, melhorar a representação das potências emergentes, aumentar sua "eficácia", principalmente quanto a "vigilância" dos desequilíbrios mundiais, e sua "capacidade para responder às necessidades dos países membros".

"Ela deve ganhar a confiança dos paises emergentes realizando as reformas de seu antecessor e ampliá-las", aponta Eswar Prasad.

A margem de manobra é estreita, já que precisa "convencer os europeus" no momento em que, com a recuperação, "o ritmo das reformas diminua".

Sobre a regulação dos fluxos de capitais e o sistema monetário, o FMI e a presidência francesa do G20, incorporada até agora por Christine Lagarde, estão em sintonia.

Lagarde deve esperar uma "batata quente" como é a crise da dívida na Europa.

Segundo Charles Wyplosz, a francesa deveria "se afastar das relações com os europeus" principalmente para que esqueçam um pouco de sua origem, já que os países emergentes têm reclamado da monopolização europeia na direção do FMI. "Muitos consideram que a Zona do Euro não tem gerido bem a crise da dívida".

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