Economia

Lagarde ainda é exceção em bancos centrais dominados por homens

Cerca de 20% dos bancos centrais não tem mulheres em cargos de chefia, e mais da metade deles está no Oriente Médio e na Ásia-Pacífico

Christine Lagarde: liderança contrasta com o sistema do euro 100% masculino dos governadores de bancos centrais nacionais (Simon Dawson/Bloomberg)

Christine Lagarde: liderança contrasta com o sistema do euro 100% masculino dos governadores de bancos centrais nacionais (Simon Dawson/Bloomberg)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 8 de março de 2020 às 08h00.

Última atualização em 8 de março de 2020 às 08h00.

A nomeação de Christine Lagarde para comandar o Banco Central Europeu foi um evento marcante para melhorar a diversidade de gênero na formulação de políticas econômicas, mas bancos centrais globais ainda têm um longo caminho a percorrer.

A liderança de Lagarde contrasta com o sistema do euro 100% masculino dos governadores de bancos centrais nacionais, segundo relatório do Fórum Oficial das Instituições Monetárias e Financeiras (OMFIF, na sigla em inglês) divulgado na quinta-feira.

Embora a Europa seja a região com melhor desempenho em termos de diversidade de bancos centrais, apenas 14 instituições são lideradas por mulheres em todo o mundo, o que representa menos de 30% da economia global.

Alguns esforços recentes para nomear mulheres para altos cargos em bancos centrais fracassaram. Embora o governo do Reino Unido tenha trabalhado com especialistas em diversidade para substituir Mark Carney à frente do Banco da Inglaterra, apenas duas mulheres se candidataram, e o posto foi assumido por Andrew Bailey.

Somente 14 bancos centrais do mundo são administrados por uma mulher. O BCE é chefiado por uma mulher, mas todos os 19 membros são dirigidos por homens

Somente 14 bancos centrais do mundo são administrados por uma mulher. O BCE é chefiado por uma mulher, mas todos os 19 membros são dirigidos por homens (Divulgação/Bloomberg)

Na Irlanda, a vice-presidente Sharon Donnery foi “negligenciada” como candidata à liderança com a mudança de Philip Lane para o BCE, disse o relatório. O comando foi assumido por Gabriel Makhlouf.

“Talvez o processo de seleção precise mudar”, disse Danae Kyriakopoulou, economista-chefe e diretora de pesquisa da OMFIF. “É legítimo lembrar aos recrutadores que um banco central é formado por uma equipe e que eles não estão apenas escolhendo os melhores indivíduos, considerados isoladamente, mas a melhor combinação de mentes.”

No geral, o índice de equilíbrio de gênero do OMFIF subiu para 28% em 2020 em relação aos 25% um ano antes, disse o think tank, sendo que a pontuação de 100% representa o equilíbrio perfeito entre homens e mulheres. A melhora reflete o avanço em cargos de alto escalão, bem como a nomeação de mais mulheres para cargos de vice-presidente.

A Espanha liderou o índice, seguida por Aruba, Islândia e Malásia, afirmou o think tank. A pontuação da Ásia-Pacífico melhorou. Em breve, o Canadá poderá ingressar nas fileiras de um banco central com uma mulher no comando, já que a vice-presidente sênior, Carolyn Wilkins, está entre os favoritos para assumir a presidência ainda este ano.

A inclusão de grupos anteriormente sub-representados na liderança pode incentivar a competição e ajudar a garantir a diversidade de opiniões na formulação de políticas. Isso é importante para bancos centrais “à luz de seu dever social de se assemelharem à sociedade que servem”, afirma o relatório.

Cerca de 20% dos bancos centrais não possui mulheres em cargos de chefia ou em comitês de política monetária, e mais da metade deles está no Oriente Médio e na Ásia-Pacífico.

“Uma ação é necessária para corrigir as assimetrias de oportunidades e nivelar o campo de jogo, e criar ambientes de trabalho mais inclusivos e de apoio”, afirmou o relatório. “As coisas não vão mudar sem políticas modernas e progressivas.”

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