Economia

Juro responde por mais da metade da dívida do brasileiro

Em abril de 2011, os juros equivaliam a 60% de uma dívida de R$ 653 bilhões

Dados são do Banco Central (Wilson Dias/ABr)

Dados são do Banco Central (Wilson Dias/ABr)

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Da Redação

Publicado em 27 de junho de 2011 às 08h53.

São Paulo - Cresceu neste ano a parcela dos juros no total da dívida dos brasileiros. Em abril de 2010, a fatia dos juros correspondia a 56% de uma dívida total de R$ 524 bilhões. Em abril deste ano, o último dado disponível no Banco Central (BC), os juros equivaliam a 60% de uma dívida de R$ 653 bilhões, aponta estudo da LCA Consultores.

"Com as medidas macroprudenciais do BC no fim de 2010 e a alta dos juros básicos iniciada em janeiro, a dívida total aumentou puxada neste ano pelos encargos financeiros", diz Wermeson França, economista da LCA, responsável pelo estudo.

Na sua avaliação, o avanço da parcela dos juros em detrimento do valor principal emprestado mostra uma piora na qualidade da dívida. Isto é, o brasileiro está se endividando mais, não necessariamente porque está indo às compras, mas por causa dos encargos financeiros cobrados nos empréstimos.

Cheque especial

Outra informação, segundo o economista da LCA, que confirma que o aumento do endividamento do consumidor está sendo impulsionado pelos juros, aparece nas estatísticas do BC. As duas únicas linhas de crédito que registraram crescimento na média diária de concessões entre dezembro de 2010 e abril deste ano foram o cheque especial e o cartão de crédito, as linhas de financiamento que têm os juros mais elevados e que normalmente são usadas de forma emergencial, isto é, para pagar outras dívidas.

Entre dezembro de 2010 e abril deste ano, a média diária real de concessões no cheque especial aumentou 6,2% e, no cartão de crédito, o acréscimo foi de 17%. Já no caso do crédito pessoal, houve um recuo de 3,7% nas concessões nesse período, e nos veículos e aquisição de outros bens, a retração foi ainda maior, de 10,6% e de 11%, respectivamente.

Altamiro Carvalho, economista da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP), relata que os consumidores estão fazendo novos financiamentos para quitar dívidas antigas. Tanto é que, no ano até abril, os dados de vendas da Fecomercio-SP mostram que o faturamento cresceu apenas 0,73%, sustentado pelos supermercados - cujas vendas praticamente não são influenciadas pelo crédito e que aumentaram 3,02% no período. Nos demais segmentos, como eletrônicos, móveis e veículos, que são movidos a financiamentos, houve queda.


Risco

O aumento do endividamento, com maior peso dos juros, pode levar a uma piora da inadimplência neste ano. "Não vai ser nada explosivo, mas a inadimplência vai mudar de patamar", alerta França, da LCA.

Em 2010, a inadimplência do consumidor encerrou o ano em 5,7% e em abril, último dado do BC, tinha subido para 6,1%. Até dezembro, deve atingir 7,2%, prevê o economista. Ele pondera que o resultado deste ano deve ficar abaixo do de 2009, o ano do rescaldo da crise financeira, quando o calote chegou a 7,7%.

Já o presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade, Miguel Ribeiro de Oliveira, não acredita que o aumento do endividamento, puxado pelos juros, leve necessariamente à alta da inadimplência. "Teria de ocorrer uma forte elevação do desemprego para a inadimplência disparar." Ele acredita que o aumento do endividamento pode até jogar a favor do objetivo do BC de reduzir o consumo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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