Economia

Juro do mercado não guia política monetária, diz Tombini

O presidente do Banco Central foi contundente ao afirmar que as taxas de juros nos mercados não servirão de "guia" para a condução da política monetária

Presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, durante audiência na Câmara dos Deputados, em Brasília (Ueslei Marcelino/Reuters)

Presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, durante audiência na Câmara dos Deputados, em Brasília (Ueslei Marcelino/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 24 de setembro de 2015 às 16h50.

Brasília - Em uma aparição surpresa, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, foi bastante contundente nesta quinta-feira ao afirmar que as taxas de juros nos mercados não servirão de "guia" para a condução da política monetária nos próximos meses, reforçando que a volatilidade no mercado vem do aumento dos prêmios de riscos e pode estar contaminando temporariamente as expectativas.

Tombini, que deu uma declaração e respondeu a perguntas de jornalistas antes da coletiva de imprensa sobre o Relatório Trimestral de Inflação, disse que o BC irá assegurar que o mercado de câmbio funcione de forma eficaz, e não descartou usar diretamente as reservas internacionais para segurar a escalada do dólar sobre o real.

"O BC reafirma sua estratégia de política monetária, de manutenção da Selic... por período suficientemente prolongado", afirmou Tombini, acrescentando que o aumento nos prêmios de riscos não "devem ser entendidos como mudança da política monetária".

Ele disse ainda que o atual momento dos mercados financeiros já estava sendo esperado pelo BC e que a entidade não foi pega de surpresa.

Diante da aguda falta de confiança dos agentes econômicos, afetada pela crise econômica e política do país, os contratos de DIs dispararam nos últimos dias, precificando apostas de que o BC voltaria a elevar a taxa básica de juros novamente neste ano, mesmo após a autoridade monetária ter interrompido o ciclo de aperto no início deste mês.

Após a fala de Tombini, os contratos de juros futuros reverteram alta e passaram a cair. Ele voltou a repetir que o objetivo do BC é levar a inflação para o centro da meta --de 4,5 por cento pelo IPCA, com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos-- no final de 2016, apesar de o próprio BC ter piorado sua projeção para o indicador.

INTERVENÇÕES

Tombini também foi muito questionado se o BC usaria as reservas internacionais, hoje na casa de 370 bilhões de dólares, para fazer leilões de dólares no mercado à vista e segurar a disparada da moeda norte-americana, que chegou a 4,2491 reais na máxima desta sessão, mas depois inverteu o sinal e passou a cair.

No entanto, as respostas foram evasivas, mas não descartando o mecanismo.

"Certamente todos os instrumentos estão à disposição do BC", disse, completando que eventual uso de instrumentos será analisado no dia a dia e que não daria mais detalhes.

"Em relação às reservas internacionais, são um seguro. Pode e deve ser utilizado" afirmou Tombini, acrescentado que o BC vem atuando em algumas frentes, como a venda de swaps cambiais, que têm sido bastante úteis.

Ele ressaltou ainda que tanto o BC quanto o Tesouro Nacional têm atuado em conjunto e têm os "instrumentos adequados para tirar riscos da mesa", bem como que as ações têm objetivo de garantir o funcionamento satisfatório e adequado do mercado.

O BC intensificou sua atuação no mercado de câmbio na véspera, com dois leilões de venda de dólares com compromisso de recompra e um leilão de novos swaps cambiais, equivalentes a venda futura de dólares. Também durante a sessão passada, anunciou para esta quinta-feira outro leilão de novos swaps, na qual vendeu a oferta total de até 20 mil contratos.

No relatório de inflação divulgado mais cedo, o BC defendeu que a economia está ainda mais fraca, compensado a alta do dólar na inflação.

Ao longo de sua participação, Tombini disse que as metas de superávit primário --economia feita pelo setor público para pagamento de juros da dívida-- de 2015 (equivalente a 0,15 por cento do PIB) e de 2016 (0,70 por cento do PIB) são factíveis e necessárias.

Para ele, "há tempo de tomar medidas necessárias para indicar a vontade e capacidade do governo de fazer ajustes", ao ser questionado sobre o encontro com representantes da agência de classificação de risco Fitch na véspera e eventual avaliação de perda do grau de investimento pelo país.

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