Economia

Juro baixo e câmbio depreciado permanecerá por um tempo, diz Campos Neto

Em entrevista à Record News, Campos Neto também voltou a avaliar que a economia já iniciou processo de retomada e a um ritmo acelerado

Roberto Campos Neto: "A inflação projetada vinha para baixo, para baixo, para baixo. Quando houver uma percepção de que o pior do crescimento já passou e que deve começar a acelerar, pode ser que as projeções subam um pouco" (Isac Nóbrega/PR/Flickr)

Roberto Campos Neto: "A inflação projetada vinha para baixo, para baixo, para baixo. Quando houver uma percepção de que o pior do crescimento já passou e que deve começar a acelerar, pode ser que as projeções subam um pouco" (Isac Nóbrega/PR/Flickr)

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Reuters

Publicado em 7 de julho de 2020 às 09h27.

Última atualização em 7 de julho de 2020 às 09h30.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse na segunda-feira que a expectativa da autoridade monetária é que o que chamou de novo equilíbrio entre juro mais baixo e taxa de câmbio mais desvalorizada tende a persistir no país "durante um tempo".

Em entrevista à Record News, Campos Neto também voltou a avaliar que a economia já iniciou processo de retomada e a um ritmo acelerado, e frisou que, assim como as projeções para a atividade devem começar a melhorar, as estimativas para a inflação também podem subir.

"Entendemos que passamos por um modelo onde nós temos os juros um pouco mais baixos e o câmbio um pouco mais desvalorizado", disse Campos Neto na entrevista veiculada na noite de segunda.

"Nós entendemos que esse novo equilíbrio é um equilíbrio que vai permanecer durante um tempo, ou seja, nós entendemos que, se o Brasil fizer o trabalho fiscal bem feito, nós conseguiremos sobreviver com uma taxa de juros mais baixa por um tempo mais longo, e o outro lado da moeda é um câmbio um pouco mais depreciado", acrescentou.

Campos Neto frisou que a desvalorização cambial mais recente não foi restrita ao Brasil, ainda que no país tenha sido mais forte, mas se deu nos mercados emergentes em geral como resultado da forte saída de recursos em meio à crise, em março e abril. "De abril para cá tem estabilizado, não só para o Brasil, mas nos mercados emergentes de uma certa forma", afirmou.

"A gente consegue ver que existe um retorno. Obviamente que o Brasil não recebeu nem perto da parte dos recursos que saíram, mas acho que, fazendo um trabalho onde se mostra qual é nossa agenda, o caminho do retorno da credibilidade, acho que esses recursos tendem a voltar rapidamente."

Sobre a atividade econômica, Campos Neto afirmou que o pior impacto da crise da Covid-19 para o país se deu nas últimas duas semanas de abril e a primeira semana de maio. Desde então, o país "engrenou uma melhora" e os dados de junho estão relativamente fortes, acrescentou.

"Nós temos, por exemplo, dados de arrecadação, dados de tráfego, dados de consumo de energia, dados de fluxo financeiro. Esses dados corroboram com a visão de que o pior já ficou para trás e a gente vai ter um crescimento", disse ele.

"E esse início da volta do crescimento tem sido de uma forma até relativamente acelerado", completou.

Reforçando mensagem já dada por ocasião da divulgação do último Relatório de Inflação, Campos Neto disse que os diretores do BC consideram que o mais provável é que o desempenho da economia no ano seja melhor do que a retração de 6,4% projetada oficialmente pela autarquia.

Campos Neto reforçou, ainda, que a autoridade monetária não desistiu de perseguir as metas de inflação de 2020 (4%) e 2021 (3,75%) e previu que as projeções para a inflação --atualmente abaixo das metas centrais-- podem subir com a percepção de reaquecimento da economia.

"A inflação projetada vinha para baixo, para baixo, para baixo. Quando houver uma percepção de que o pior do crescimento já passou e que deve começar a acelerar, pode ser que as projeções subam um pouco."

Ele disse que o BC não considera imprimir moeda, e lembrou que o Comitê de Política Monetária já comunicou que ainda vê espaço, ainda que pequeno, para uma redução de juros.

"Entendemos que (ao) utilizar ferramentas não convencionais antes de utilizar a convencional você acaba tendo um movimento de perda de credibilidade que pode ser muito danosa", afirmou.

WhatsAPP

Questionado sobre a decisão do BC de determinar que as bandeiras Visa e Mastercard suspendessem o uso do aplicativo do Whatsapp para pagamentos e transferências, conforme parceria recém anunciada, Campos Neto reiterou que a decisão foi tomada porque o BC entendeu se tratar de um arranjo de pagamento importante, que demandaria avaliação.

"Se for demonstrado para o BC que é um sistema aberto, e é um sistema competitivo, vai ter autorização, não vai ter nenhum problema", afirmou.

"Se atender todos os requisitos será liberado imediatamente."

Campos Neto também afirmou que a plataforma de pagamentos instantâneo do BC, o Pix, irá modificar o modelo de negócios de algumas atividades. A plataforma está prevista para estrear em novembro.

Ele exemplificou que, com o Pix, o pagamento de uma compra online será por meio de transferência imediata.

"A hora que você comprou, segundos depois o produto já está indo para sua casa", disse.

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