Economia

Jovens empreendedores estão construindo uma nova Cuba

Desde o anúncio da abertura, em 2010, o número de empreendedores no país só aumentou

Bandeira de Cuba em Havana: "Institui-se a figura do presidente e vice-presidente da República", informou no sábado o jornal oficial Granma (REUTERS/Alexandre Meneghini/Reuters)

Bandeira de Cuba em Havana: "Institui-se a figura do presidente e vice-presidente da República", informou no sábado o jornal oficial Granma (REUTERS/Alexandre Meneghini/Reuters)

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EFE

Publicado em 10 de fevereiro de 2018 às 12h28.

Havana - Cuba encara em 2018 uma esperada transição política que a levará a um novo presidente, ainda que o país já viva profundas mudanças há oito anos, como o nascimento de uma classe empreendedora que construiu uma nova paisagem econômica e social, mas que atravessa momentos de incerteza.

Edifícios em ruínas de Havana se tornaram elegantes restaurantes e modernos hotéis privados, mas pelas mãos de jovens empreendedores também floresceram negócios inovadores como web designing e organização de eventos.

Foi uma mudança gradual que começou em outubro de 2010, quando o presidente Raúl Castro abriu o setor privado ao aumentar o número de profissões para desenvolver o trabalho autônomo, iniciativa que já soma 567.982 empreendedores, 12% da força de trabalho.

Um terço deles são jovens, como Marta Deus, de 29 anos, que em 2013 lançou junto com sua melhor amiga a empresa Deus Expertos Contables, que presta serviços de assessoria e contabilidade a outros empreendedores.

"Havia muita desinformação porque não tínhamos uma cultura de negócios em Cuba. Muita gente estava muito perdida sobre como obter a licença, como pagar impostos e o que declarar", contou à Agência Efe Marta nos escritórios da sua firma, onde já trabalham cinco pessoas.

Marta é uma empreendedora nata que também lançou a Mandao Express, um serviço de correio, e a revista "Negolution", na qual são narradas as histórias de outros autônomos.

"Acredito que foi um setor que mudou a sociedade cubana, trouxe qualidade e bom serviço (...). Foi uma revolução na nossa sociedade", indicou.

No entanto, o setor privado vive momentos difíceis desde agosto, quando o governo cubano suspendeu temporariamente a concessão das licenças mais cobiçadas, como restaurantes e aluguéis turísticos, para "corrigir irregularidades".

Seis meses depois, o setor segue paralisado e um sentimento de pessimismo e preocupação vem crescendo entre os empreendedores, "à espera de um novo regulamento que não se sabe como será", afirmou Marta.

É provável que essa nova medida não chegue até depois de abril, quando será eleito um novo presidente, cargo que possivelmente será ocupado pelo "número dois" do governo, Miguel Díaz-Canel, de 57 anos, que aposta no continuísmo.

"Eu acredito que ter alguém mais jovem pode ser bom para entender os benefícios do setor privado, mas a maioria das pessoas opina que tudo seguirá a mesma linha", apontou Marta, que reconhece as "mudanças positivas" a partir das reformas de Raúl Castro.

Aproveitando esse novo "marco legal", a designer cubana Idania del Río, de 36 anos, se associou à espanhola Leire Fernández, de 41, para abrir a Clandestina, uma loja que deu um ar de modernidade à velha Havana.

"Às vezes não nos damos conta de quanto as coisas mudaram. Há uma economia nova", indicou Idania, ainda que tenha lamentado a forte desaceleração que a chegada de Donald Trump representou a essa "dinâmica positiva" na ilha, impulsionada também pela reaproximação com os Estados Unidos.

Em nível interno, Leire considerou que "Cuba segue avançando", ainda que os tempos sejam diferentes do resto do mundo: "Foram quase 60 anos a um ritmo muito lento e nestes últimos três anos as coisas têm se movido depressa".

"Nosso objetivo não é outro a não ser gerar talento, gerar ideias e gerar emprego", acrescentou a espanhola sobre o papel que o setor privado pode desempenhar na ilha.

Há alguns meses, a Clandestina abriu caminho na internet e já vende suas camisetas, bolsas e acessórios com os designs criados por Idania em outros países, como EUA, Cingapura e Nova Zelândia.

"Foi um passo tremendo. Tem um impacto muito profundo porque uma das barreiras do talento cubano é justamente como sair para o mundo", explicou Idania.

Em pouco mais de dois anos, Cuba passou de estar praticamente desconectada a ter mais de mil zonas de wi-fi públicas, permitir internet nas residências e planeja oferecer este ano conexão móvel, uma pequena revolução digital que foi crucial para o surgimento de negócios vinculados ao mundo virtual.

É o caso do Gerbet, projeto do informático Gerardo Rodríguez, de 31 anos, que após quatro anos trabalhando em uma empresa estrangeira lançou seu negócio que oferece serviços de desenvolvimento de sites, marketing digital e design de marcas a outros empreendedores.

"Foi um salto no vazio", reconhece Gerardo, que viveu meses de incerteza até que conseguiu seu primeiro cliente um mês antes de ficar sem economias.

O setor privado foi uma saída viável para muitos jovens qualificados como Gerardo e contribuiu para mitigar a fuga de cérebros que sofria a ilha.

"O fato de agora qualquer pessoa poder ter o seu próprio projeto erguido com o seu próprio esforço é um incentivo para ficar no país", disse Gerardo.

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