Economia

Joaquim Levy e o dilema de R$ 651,2 bilhões

Além dos escândalos de corrupção, o país enfrenta o problema da dependência de empresas com o BNDES, e sua carteira de crédito de R$ 651,2 bilhões


	Joaquim Levy: “vimos uma grande expansão de bancos públicos, inclusive do BNDES, nos últimos anos, mas isso não pode durar para sempre”, diz especialista
 (Ueslei Marcelino/Reuters)

Joaquim Levy: “vimos uma grande expansão de bancos públicos, inclusive do BNDES, nos últimos anos, mas isso não pode durar para sempre”, diz especialista (Ueslei Marcelino/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 16 de abril de 2015 às 22h03.

São Paulo - O escândalo de corrupção aparentemente sem fim que consome o Brasil, centrado principalmente na Petrobras, tem dominado as manchetes e a atenção de investidores.

Mas o país ainda enfrenta, talvez, um problema maior e possivelmente mais difícil resolver: como tornar suas empresas menos dependentes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES?

Os R$ 651,2 bilhões (US$ 212,5 bilhões) da carteira de crédito do banco estatal pressionam a dívida do governo e contribuem para colocar o país sob risco de um rebaixamento do crédito soberano para junk (grau especulativo).

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que tem reiterado desde que assumiu em janeiro esforços para preservar o grau de investimento, agora busca conter a generosidade do banco estatal demandando que as empresas obtenham parte de seu financiamento no mercado local de crédito corporativo.

“Vimos uma grande expansão de bancos públicos, inclusive do BNDES, nos últimos anos, mas isso não pode durar para sempre”, disse Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra SA.

Ainda que a ampliação da Operação Lava Jato em meio a uma economia em dificuldades sejam fatores que limitam o apetite do investidor, o Brasil poderá ter poucas outras chances de fazê-lo após anos de apoio estatal aos chamados “campeões nacionais”.

O aumento nos empréstimos totais do banco com sede no Rio de Janeiro -- cujos créditos podem sair a uma taxa de juros subsidiada de cerca de metade da taxa básica do país -- foi impressionante. O montante praticamente quintuplicou na última década, acima até do total de empréstimos concedidos pelo Banco Mundial, segundo dados disponíveis do site do BNDES.

Os R$ 187,8 bilhões que o banco emprestou no ano passado representaram mais de duas vezes o volume emitido no mercado de títulos corporativos do Brasil.

Aumento da dívida

Para pagar tudo isso o governo transferiu cerca de R$ 388 bilhões para o banco controlado pelo estado entre 2009 e 2014, segundo a Moody’s Investors Service.

Tais repasses ajudaram a elevar a dívida bruta do Brasil para o equivalente a 65,1 por cento do PIB, nível mais alto desde ao menos 2006.

“A expansão do BNDES com recursos do Tesouro se esgotou”, disse Levy, ao lado do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, em entrevista coletiva para anunciar o plano no dia 9 de abril. “Nós precisamos aumentar o apetite por instrumentos de renda fixa”.

Coutinho disse que as empresas terão que vender no mercado local debêntures com vencimento de pelo menos dois anos para se qualificarem para o montante máximo possível de empréstimos do BNDES com a taxa subsidiada de 6 por cento. O programa é destinado a empresas com rating AA ou superior.

Múltiplos obstáculos

Em um comunicado enviado por e-mail, a assessoria de imprensa do BNDES disse que o banco não possui projeções sobre qual será a diminuição no volume total de empréstimos como resultado do programa.

O Ministério da Fazenda não respondeu a mensagens telefônicas e a e-mail questionando o possível impacto da medida sobre as contas fiscais do país.

O plano de Levy enfrenta múltiplos obstáculos.

Com a maior economia da América Latina a caminho de sua pior contração em um quarto de século e a taxa básica de juros a 12,75 por cento, nível mais alto dos últimos seis anos, as vendas de títulos locais despencaram 60 por cento no primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado.

Levy também tem enfrentado oposição no Congresso a esforços para reduzir gastos em um momento em que o descontentamento com a presidente Dilma Rousseff gera protestos e alimenta pedidos de impeachment.

Ainda assim, uma maior de títulos no mercado local ajudará a empresas do país a reduzir dependência em relação ao BNDES, disse Mansueto Almeida Jr., consultor econômico independente e ex-membro do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o Ipea, ligado ao governo.

“Isso deverá trazer algum alívio”, disse ele por telefone, de Brasília. “Trata-se de uma medida que pode ser tímida no início, mas que deverá criar uma estrutura legal importante para o futuro”.

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