Redator na Exame
Publicado em 24 de janeiro de 2025 às 08h13.
Última atualização em 24 de janeiro de 2025 às 08h27.
O Banco do Japão (BOJ, na sigla em inglês) aumentou a taxa básica de juros para 0,5%, ao ano, após um avanço de 25 pontos-base realizado nesta sexta-feira, 24. Com a medida, os juros do país atingiram o maior nível desde 2008.
A decisão do órgão busca combater o avanço da inflação no país, que mostra sinais de persistência, e o aumento dos salários dos japoneses. O BOJ já havia falado que um “ciclo virtuoso” era necessário para o avanço dos juros, onde salários mais altos pressionariam os preços do país.
Dentro do conselho do banco, apenas Toyoaki Nakamura foi contrário à deliberação, argumentando que o BOJ deveria esperar dados que serão divulgados antes da próxima reunião do órgão. Com eles, seria possível saber se o poder de lucro das empresas aumentou ou não, o que afetaria no avanço dos salários.
Os mercados mostraram uma boa recepção do aumento dos juros, com o iene valorizando 0,6% ante o dólar. Já o Nikkei 255, índice que acompanha as 255 principais empresas públicas do japão, mostrou um crescimento marginal.
Vale dizer que o rendimento dos títulos de 10 anos chegaram a 1,23%, um avanço de 2,5 pontos-base.
No Japão, todo ano ocorrem negociações salariais entre sindicatos empresariais e empregados no começo de fevereiro ou março. O momento é chamado de “Shunto” e está na mira do BOJ, considerando que a expectativa é de um forte aumento para 2025, de acordo com Ryozo Himino, vice-governador do banco central japonês.
A declaração foi reforçada nesta sexta, após a entidade confirmar que várias empresas devem continuar com os aumentos salariais este ano. A justificava são o crescimento do lucro das empresas e um mercado de trabalho aquecido.
Nesse sentido, Tomoko Yoshino, presidente da Confederação Sindical do Japão (Rengo), disse que a organização está buscando um avanço de, pelo menos, 6% dos salários para empresas menores. No geral, o aumento da remuneração dos japoneses deve superar a do ano passado, que foi de 5,1%.
Em dezembro, o índice de inflação do Japão (CPI, em inglês), mostrou um crescimento de 3,6% na comparação mensal, o maior patamar desde janeiro de 2023. Enquanto isso, a inflação subjacente, que exclui os itens mais voláteis, atingiu 3%, o maior nível desde outubro de 2023.
Com os dados até o momento, o BOJ projeta uma inflação geral em torno de 2,5% para o próximo ano fiscal (findado em março de 2026).
Em setembro do ano passado, Naoki Tamura, membro do conselho do banco central do Japão, informou que a taxa neutra de juros seria em torno de 1%, o que traria equilíbrio para a economia e barraria o avanço da inflação.
Contudo, o BOJ ainda não publicou nenhuma projeção de até onde pretende aumentar os juros. Mesmo assim, a fala vai em concordância à nota de Vincent Chung, co-gerente de portfólio de estratégia de renda fixa diversificada da T. Rowe Price.
De acordo com o especialista, a entidade deve realizar "uma série de aumentos graduais, elevando potencialmente a taxa de política monetária para 1% até o final do ano". No comunicado, Chung também informou que a autoridade monetária não deve realizar outras intervenções cambiais como as de 2024. Ao todo, o Japão gastou mais de 15,32 trilhões de ienes (R$ 576,46 bilhões) para estabilizar a moeda durante o ano.