Janet Yellen, indicada para comandar o Federal Reserve, se encontra com o senador Charles Schumer no Capitólio, Washington (Jonathan Ernst/Reuters)
Da Redação
Publicado em 6 de janeiro de 2014 às 23h59.
Washington - Janet Yellen, que foi confirmada nesta segunda-feira pelo Senado dos Estados Unidos como a primeira mulher a assumir a Presidência do Federal Reserve (Fed) - o banco central americano -, é uma acadêmica prestigiada e uma das poucas pessoas que conseguiu antecipar a crise de 2008.
Janet, confirmada, após vários atrasos pelo plenário do Senado com 56 votos a favor e 26 contra, para substituir Ben Bernanke à frente do Fed, vai assumir o comando do banco central americano no dia 31 de janeiro, quando seu antecessor termina seu mandato.
Nascida no Brooklyn (Nova York) em 1946, no seio de uma família judia, a nova presidente do Fed conta com uma extraordinária trajetória profissional, coroada por sua capacidade de prever uma crise que ninguém parecia antecipar.
O Fed divulga suas deliberações internas, porém, com quase cinco anos de atraso.
Graças às transcrições das reuniões de seu Conselho de Governadores, publicadas no final de 2012, são conhecidas as opiniões de seus membros nos meses prévios ao surgimento da crise financeira que foi fruto da explosão da bolha imobiliária, e entre elas se sobressai a de Yellen, devido ao seu acertado pessimismo.
"As possibilidades de uma contração do crédito e de uma recessão econômica são muito reais", afirmou Yellen em dezembro de 2007, quando era presidente do Federal Reserve de San Francisco, cargo que desempenhou de 2004 até 2010, quando passou a ser vice-presidente do Fed.
Frente a ela, o todo-poderoso presidente do Federal Reserve de Nova York, William Dudley, afirmou então que "o medo tinha diminuído", e "o risco" de uma crise hipotecária "tinha diminuído", postura defendida pelo grande maioria dos membros do banco central.
Meses depois, o sistema financeiro entrou em colapso, um dos bancos de investimento mais antigos dos EUA, o Lehman Brothers, quebrou e gigantes como o Citigroup e a AIG tiveram que ser resgatados com fundos federais.
Esse acerto foi um dos pontos de inflexão na já bem-sucedida carreira de Janet Yellen.
Posteriormente, e após ser promovida a "número 2" do Fed, se transformou em um dos principais suportes do atual presidente do banco central, Ben Bernanke, ao pôr em prática o agressivo plano de estímulo monetário conhecido como "relaxamento quantitativo", que consiste na multimilionária compra de bônus para impulsionar a recuperação econômica.
Precisamente, durante sua audiência de confirmação no Senado em novembro, Janet reiterou sua intenção de continuar o legado de Bernanke e manter as expansivas políticas monetárias enquanto a economia americana não mostrar sinais de uma recuperação mais consolidada.
É, além disso, considerada uma "pomba" (o que no jargão de o Fed significa que está especialmente preocupada com o desemprego, frente aos "falcões", mais concentrados em controlar a inflação), em um momento no qual o desemprego nos EUA continua com níveis excepcionalmente altos, após fechar novembro com uma taxa de 7%.
O Fed obedece um duplo mandato de fomento do pleno emprego e controle da estabilidade de preços, e os "falcões" criticam que a política monetária expansiva, por uma excessiva ênfase na luta contra o desemprego dos últimos anos, provoque um reaquecimento da economia.
A trajetória profissional de Yellen está cheia de honrarias e reconhecimentos, e o Nobel de economia Joseph Stiglitz afirmou recentemente - ao expressar seu apoio à sua candidatura frente à do ex-secretário do Tesouro Larry Summers - que Janet foi "uma de suas melhores alunas" em seus quase 50 anos de ensino.
Doutora em economia "cum laude" (com honras) pela Universidade de Brown em 1971, foi professora em centros prestigiados como Harvard, London School of Economics e Berkeley, onde começou a dar aulas em 1980 e que recentemente lhe concedeu o título de professora emérita.
Janet é apaixonada por economia e vive cercada por ela. É casada com o Nobel de Economia e professor de Berkeley, George Akerlof, com quem tem um filho, Robert, também professor universitário na Universidade de Warwick do Reino Unido.
Além de sua trajetória acadêmica, desempenhou cargos na Administração como presidente do Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca sob o mandato de Bill Clinton entre 1997 e 1999, antes de sua ampla experiência no âmbito do Federal Reserve.
Finalmente, para coroar sua extraordinária carreira, Yellen foi aprovada hoje como a primeira mulher que vai presidir o Federal Reserve, justo quando o órgão acaba de completar seu primeiro século de história.