Cumprimento do teto de gastos em 2019 está relativamente equacionado (Thinkstock Photos/Thinkstock)
João Pedro Caleiro
Publicado em 14 de junho de 2018 às 13h42.
Última atualização em 14 de junho de 2018 às 14h11.
São Paulo - Crescimento mais fraco, riscos para a inflação e desemprego estacionado.
Esta é a economia brasileira em 2018 de acordo com avaliação feita por economistas do Itaú em reunião com jornalistas na sede do banco em São Paulo nesta quinta-feira (14).
O economista-chefe Mário Mesquita disse que o cenário "desafiador" é resultado de uma evolução positiva e duas negativas ocorridas nas últimas semanas.
O que surpreendeu para cima foi o PIB do 1o trimestre, com a demanda doméstica até melhor do que o balanço geral, e os dados de atividade de abril, com setores como serviços e produção industrial acima das expectativas.
“É uma recuperação que estava vindo de maneira moderada, mas robusta e consistente”, disse Renato Salles, economista do banco.
Já as notícias negativas foram o aperto das condições financeiras, com juros mais altos nos Estados Unidos e depreciação do real, e o choque da greve dos caminhoneiros.
O banco prevê que a produção industrial tenha tido uma queda de 9,5% em maio em relação ao mês anterior e que a inflação de junho venha bastante elevada, também com impacto do dólar.
Alguns setores, como o automotivo, não indicaram enfraquecimento da demanda então poderiam, em tese, compensar perdas nos meses seguintes.
Já outros que trabalham sempre no limite, como o de papel e celulose e alguns serviços, não recuperariam o tempo perdido. Além disso, o distúrbio impactou na confiança de consumidores e investidores.
O tamanho do efeito só ficará claro nos dados de agosto divulgados a partir de setembro, mas o Itaú trabalha com um impacto geral próximo aos 0,2% do PIB já citados pelo Ministério da Fazenda.
Veja as previsões do Itaú para a economia brasileira em 2018 e 2019:
2018 | 2019 | |
---|---|---|
Alta do PIB | 1,7% | 2,5% |
Desemprego | 12,2% | 11,8% |
Inflação | 3,8% | 4,1% |
Selic | 6,5% | 8,0% |
Câmbio | 3,70 | 3,70 |
Segundo Mesquita, a eleição de 2018 está mais parecida com a de 1989, com uma profusão de candidatos.
"Não vi nenhum, dos principais, que esteja ignorando ou minimizando a questão do ajuste fiscal”, diz ele.
Sem citar nomes, aponta que os economistas das equipes expressam preocupação com o tema mas diferem no equilíbrio dos remédios de cortes de gastos e aumentos de receita. O cenário para 2019 é de ajuste gradual com "reformas leves", incluindo a da Previdência.
“Não é só Previdência, tem que discutir funcionalismo e subsídios. Mas a certeza é que sem Previdência a conta não fecha”, disse Pedro Schneider, economista do banco.
Schneider nota que o cumprimento do teto de gastos em 2019 está relativamente equacionado mas não comporta a continuidade dos subsídios para o diesel, hoje feita por crédito extraordinário (fora do teto).
O benefício está previsto para acabar no final do ano e se for estendido, precisará ser compensado por outros cortes de gastos.
Uma questão mais urgente é a regra de ouro, que impede o governo de se endividar para cobrir gastos correntes e que também está perto de um limite.
Schneider classificou como “muito inteligente” a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) protocolada ontem pelo deputado Pedro Paulo (DEM-RJ) para adaptar a regra.
A nova proposta é que ao invés da punição dos agentes, que incluem impeachment por crime de responsabilidade, a violação da regra dispare medidas corretivas automáticas como suspensão do abono salarial e cortes de jornada no funcionalismo público, com redução proporcional de salários.
“Mas a regra de ouro é só um termômetro; a doença mesmo é a trajetória insustentável da dívida”, nota.