Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 21 de março de 2025 às 06h02.
Última atualização em 21 de março de 2025 às 10h42.
O projeto de lei para ampliar a isenção do Imposto de Renda (IR) para os trabalhadores que recebem até R$ 5.000 e criar uma faixa de isenção parcial para quem recebe entre R$ 5.001 e R$ 7.000 tem potencial de gerar um choque no consumo de R$ 50 bilhões por ano e elevar o PIB entre 0,1 e 0,3 ponto percentual, segundo economistas e relatórios consultados pela EXAME.
A medida apresentada pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda precisa da aprovação do Congresso Nacional. Caso o PL seja aprovado ainda neste ano, as novas regras começam a valer em 2026.
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, afirma que o impacto pode ser no máximo em torno de 0,2 ponto percentual adicional no crescimento da economia do país. A avaliação do economista é que a medida tem mais um efeito "midiático" para a população do que de crescimento mais forte.
"Mas o conjunto de todas as medidas feitas até agora pode ter um impacto maior no total, principalmente o consignado privado", diz Vale.
Além da isenção do IR, o governo liberou o saldo remanescente do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) retido para trabalhadores da modalidade de saque-aniversário e lançou o crédito consignado com carteira assinada (CLT), que começa nesta sexta-feira.
Segundo relatório da MCM 4intelligence elaborado em 14 de março, assim que a nova tabela progressiva do IRPF entrar em vigor, os milhões de trabalhadores afetados por essa mudança terão um bônus sobre o seu salário mensal líquido, dado o menor desconto de imposto de renda retido na fonte.
A avaliação da consultoria é que esse valor a mais de renda se traduzirá em aumento de gastos da população, em meio à percepção de perda de poder de compra por parte das famílias brasileiras.
O cálculo é que, com mais 16 milhões de pessoas isentas, cerca de R$ 50 bilhões serão potencialmente incluídos na economia por ano a partir de 2026. O impacto no PIB em 2026, segundo a conta da consultoria, será de 0,3 p.p — e em 2027, 0,1 p.p.
Os autores do relatório afirmam que o choque mais forte sobre o consumo deve durar um ano e depois se dissipar rapidamente ao longo dos trimestres seguintes. Isso explica o impacto maior no PIB de 2026 em relação a 2027.
Outro choque que a medida pode ter é o impacto na queda da taxa de desemprego. Segundo a MCM, a isenção pode estimular uma queda entre 0,1 e 0,2 p.p nos próximos dois anos.
Em contrapartida, o aquecimento da economia deve gerar um choque inflacionário entre 0,4% e 0,8% no acumulado em quatro trimestres. A avaliação é que o governo sinaliza para medidas de estímulo em um momento de economia já aquecida — o que pode pressionar ainda mais a taxa de juros.
Segundo os autores do relatório, a adoção da isenção de R$ 5.000,00 deve ser um choque persistente, que vai ter seu valor real corroído paulatinamente pela inflação ao longo de vários anos.
"Uma vez elevado, é politicamente inviável que a isenção de R$ 5.000,00 seja reduzida, mas é provável que novos reajustes demorem a acontecer", afirma.
Variáveis Econômicas | 2026 | 2027 |
---|---|---|
PIB - Média do ano | 0,3 | 0,1 |
Inflação - Acum. 4 trimestres | 0,4 | 0,8 |
Expectativa de inflação - Acum. 4 trimestres | 0,7 | 0,3 |
Taxa de desemprego - Média do período | -0,1 | -0,2 |
Taxa de desemprego - Fim do período | -0,2 | -0,1 |
Taxa de juro anual - Média do período | 0,7 | 0,9 |
Taxa de juro anual - Fim do período | 1,2 | 0,6 |