O chanceler irlandês, Eamon Gilmore: o FMI aprovou no dia 17 de dezembro o desbloqueio de um novo lote de ajuda de 890 milhões de euros para Irlanda (©afp.com / Johannes Eisele)
Da Redação
Publicado em 27 de dezembro de 2012 às 16h15.
Dublin - A Irlanda, a partir de 1º de janeiro o primeiro país sob resgate financeiro a assumir a presidência semestral da UE, aproveitará essa posição e a reputação de "bom aluno" na aplicação de cortes, para promover o crescimento e o emprego, que seguem sendo seus pontos fracos.
"O que faremos durante nossa presidência é impulsionar medidas que promovam o emprego e o crescimento econômico", declarou à AFP o ministro de Relações Exteriores e Comércio, Eamon Gilmore.
"E não se trata só de uma declaração retórica. Há algumas medidas legislativas cruciais que nos empenharemos em impulsionar", disse.
A Irlanda, que já não consegue se financiar nos mercados, recorreu a uma ajuda da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI) que implicou em uma intervenção de suas economias.
A economia irlandesa, cujo rápido crescimento no passado rendeu ao país o apelido de "Tigre Celta", foi devastada na crise financeira de 2008-2009 pela grande exposição de seus bancos - que haviam concedido amplos empréstimos imobiliários às hipotecas subprime dos Estados Unidos - ao estouro da bolha imobiliária.
O Estado decidiu então resgatar seus bancos, o que disparou a 32% do PIB o déficit de 2010. Ante a desconfiança gerada pelo acúmulo de dívida, as taxas de juros exigidas pelos investidores para comprar bônus irlandeses tornaram-se proibitivas, levando Dublin a pedir o resgate.
Com isso, o país recebeu no final de 2010 um resgate de 85 bilhões de euros da UE, do Banco Central Europeu (BCE) e do FMI e destinou 24 bilhões ao resgate de seu setor bancário.
O FMI aprovou no dia 17 de dezembro o desbloqueio de um novo lote de ajuda de 890 milhões de euros para Irlanda em meio a este plano para evitar a quebra.
O desbloqueio deste lote, o nono desde o lançamento do programa, eleva a 19,4 bilhões de euros o montante total de empréstimos acordados pelo Fundo Monetário Internacional ao país, segundo a instituição multilateral.
Paralelamente, alguns economistas apontam que a economia irlandesa cresceu 0,2% no terceiro trimestre, após ter crescido 0,4% no segundo, e que a Irlanda retornou parcialmente aos mercados, captando cerca de dois bilhões de euros em emissões de títulos da dívida desde julho.
"No ano passado, existia a convicção de que havia muitas possibilidades de que a Irlanda caísse em default. Por isso os progressos têm sido impressionantes desde 2011", disse John MacHale, professor de economia na Universidade Nacional da Irlanda.
"Estamos indo por um bom caminho. Ao mesmo tempo, há riscos fundamentais e uma grande incerteza sobre o crescimento, mas os números do terceiro trimestre são relativamente animadores", afirmou.
Contudo, a população tem pago um preço elevado por esta recuperação econômica.
A principal organização de caridade da Irlanda, a Sociedade de São Vicente de Paula, afirmou ter recebido 6.000 chamadas telefônicas na semana passada de pessoas que precisavam de ajuda. Entre 30% e 40% destas pessoas ligavam pela primeira vez.
"A pobreza está se infiltrando nas classes médias e seus efeitos são devastadores", disse o vice-presidente da Sociedade, Tom McSweeney.
O desemprego continua sendo alto (14,6% em novembro) e os especialistas consideram improvável o retorno aos níveis de emprego da época anterior à crise.