Economia

Irlanda é 1º país da zona do euro a deixar plano de resgate

"Saímos do plano de ajuda (...), mas sem dúvida, é só primeira etapa e sabemos que não é o fim da viagem", reconheceu o ministro das Finanças, Michael Noonan


	Dublin: Irlanda depende muito de suas exportações, o que a coloca em situação de fragilidade caso a situação de seus sócios comerciais piore
 (Wikimedia Commons/EXAME.com)

Dublin: Irlanda depende muito de suas exportações, o que a coloca em situação de fragilidade caso a situação de seus sócios comerciais piore (Wikimedia Commons/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 13 de dezembro de 2013 às 16h41.

Dublin - A Irlanda se tornará neste domingo o primeiro país da zona do euro sob assistência financeira a deixar o plano de resgate internacional, assinado em 2010 em troca de dolorosas reformas, e recuperar sua plena soberania.

"Saímos do plano de ajuda (...), mas sem dúvida, é só uma primeira etapa e sabemos que não é o fim da viagem", reconheceu o ministro das Finanças, Michael Noonan, em um discurso na semana passada.

A República da Irlanda recuperará sua plena soberania após ter sido obrigada a aceitar um resgate internacional de 85 bilhões em 2010, quando o estouro da bolha imobiliária era uma ameaça de quebra total de seu sistema bancário.

A troika de credores - Comissão Europeia, Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI) - impôs, em troca, uma série de aumentos de impostos, vendas de ativos públicos e outras dolorosas "reformas estruturais".

A saída da Irlanda do plano de ajuda, no final de anos de austeridade, constitui um exemplo para os outros três estados europeus sob assistência: Chipre, Grécia e Portugal. A situação econômica irlandesa mudou substancialmente neste tempo.

Os pequenos bancos se fundiram em instituições viáveis e o Anglo Irish Bank foi liquidado em fevereiro com seus ativos tóxicos. "A redução do sistema bancário foi significativa, e agora é de um tamanho mais apropriado para a economia irlandesa" comemora Philip O'Sullivan, economista chefe de Investec Ireland.

O crescimento, contudo, é frágil. Dublin prevê um aumento do PIB de 0,2% este ano, mas espera 2% em 2014. Contudo, o país convenceu, sobretudo, os investidores: de volta aos mercados, capta dinheiro a taxas de juros adequados, inferiores em todo caso aos da Itália ou Espanha.

Contudo, o "setor bancário continuará sendo o maior desafio para a época posterior ao plano de resgate" segundo os economistas da corretora Goodbody.

Apesar do saneamento dos bancos irlandeses, os testes de resistência do setor que serão realizados em toda a Europa poderiam evidenciar as fragilidades herdadas de arriscados empréstimos hipotecários.

Esse é um dos desafios do país, enfrentando, além disso, outros desequilíbrios.


Irlanda, dependente de exportações

A Irlanda depende muito de suas exportações, o que a coloca em situação de fragilidade caso a situação de seus sócios comerciais piore.

Também depende de uma zona de euro ainda convalescente de seus numerosos problemas.

A demanda interna continua deprimida devido a um forte índice de endividamento das famílias, os escassos empréstimos concedidos pelos bancos e as drásticas medidas de austeridade que prejudicam o poder aquisitivo.

Sobretudo, continua sendo difícil a situação do emprego: apesar de uma leve melhoria, a taxa de desemprego era de 12,5% em novembro.

Prova do mal-estar reinante no país é a imigração massiva de irlandeses: 90.000 deixam o país cada ano.

Apesar dessas sombras no panorama irlandês, o governo decidiu sair do plano de ajuda, renunciando a pedir a seus sócios internacionais uma linha de crédito de segurança ou precaução.

"Não saltamos do avião sem paraquedas" afirma, contudo, Noonan. "Temos reservas de liquidez de mais de 20 bilhões de euros", explica.

A única incerteza para os irlandeses é se o 'adeus' à troika significará o final da austeridade.

A Comissão europeia continuará vigiando de perto os progressos da Irlanda até que seja devolvido 75% das ajudas. O próximo orçamento, em outubro de 2014, prevê novos cortes nos gastos e mais altas de impostos.

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