Veículos: a perda acentuada do valor dos seminovos, com até cinco anos de uso, ainda assusta consumidores brasileiros (REUTERS/Rodrigo Paiva)
Da Redação
Publicado em 29 de abril de 2013 às 08h50.
São Paulo - A manutenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido até o fim do ano para carros novos é um alívio para as montadoras - que terão o melhor abril da história em vendas -, mas mantém o desânimo no comércio de usados. A desvalorização de preços segue acentuada, o que dificulta a troca por modelo mais atualizado.
Desde maio de 2012, quando o governo reduziu o IPI, o Fiat Palio Attractive com dois anos de uso, por exemplo, teve desvalorização de 19,5%. O Chevrolet Agile LT 2011 perdeu 15,3% de valor, segundo pesquisa da consultoria Molicar. Os porcentuais incluem os efeitos da cobrança parcial do imposto retomada em janeiro.
Visto como movimento normal num mercado que cada vez mais se aproxima das características dos países desenvolvidos, a perda acentuada do valor dos seminovos, com até cinco anos de uso, ainda assusta consumidores brasileiros.
"Muitos brasileiros ainda acham que o carro é investimento e não se conformam ao constatarem que um modelo comprado há três anos por R$ 45 mil hoje pode valer em média R$ 30 mil", diz Vítor Meizikas, analista de mercado da Molicar.
A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mostra que o preço dos carros novos subiu em média 2,37% de janeiro a março, em razão principalmente da volta parcial do IPI em janeiro.
No mesmo período, os carros usados tiveram deflação de 0,23%. No acumulado dos últimos 12 meses, enquanto o carro novo teve o preço médio reduzido em 3,22%, o usado ficou 8,16% mais barato.
"A desvalorização do usado reduz o fôlego do consumidor no momento em que ele tenta atualizar seu bem", afirma Meizikas. No exemplo do Agile, seria preciso colocar quase R$ 9 mil a mais para trocar o modelo 2011 por um 2013. A desvalorização no período foi de 24,7%.
Para compor a tabela dos usados, a Molicar realiza pesquisas semanais e leva em conta os preços cobrados nas lojas. São ouvidas 500 revendas em São Paulo e 300 em 12 das principais regiões de outros Estados.
Na avaliação de Meizikas, ao conceder benefícios fiscais para os automóveis novos, o governo promoveu mudanças no comportamento dos consumidores. Muitas pessoas que antes compravam um carro com até quatro anos de uso agora partem direto para o zero.
Além do imposto menor, os bancos dão prioridade ao financiamento de novos, com juros mais baixos e exigência de valor menor de entrada. Há alguns dias, Roberto Giannetti, dono da Giannetti Automóveis, estava prestes a vender um Nissan Sentra 2007 por R$ 30 mil.
"Antes de fechar o negócio, o cliente foi a uma concessionária e preferiu comprar o zero", diz Giannetti. "O carro novo custou R$ 60 mil, mas ele deu R$ 36 mil de entrada e financiou o resto em 48 vezes sem juros."
Instalada há quase 50 anos na região conhecida como "Boca", tradicional ponto de venda de usados no centro de São Paulo, a loja da Giannetti está à venda. Ele busca um novo endereço, em prédio menor.
"Vendíamos em média 100 carros por mês, mas desde o ano passado essa média é de 10 a 12, por isso não precisamos de uma área tão grande", afirma. "O negócio de usados está muito ruim. O governo ajuda demais o mercado de novos e nós não temos vez."