Plantação de soja: agro fechará 2021 em queda, segundo nova projeção do Ipea (Secom/MT/Divulgação)
Estadão Conteúdo
Publicado em 22 de dezembro de 2021 às 12h17.
Última atualização em 22 de dezembro de 2021 às 12h23.
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revisou para baixo a previsão de crescimento do produto interno bruto (PIB) para 2021, de um avanço de 4,8% para 4,5%. Para 2022, a estimativa saiu de 1,8% para 1,1%, mas segue em patamar maior do que a mediana das projeções do mercado divulgada no boletim Focus, que aposta em crescimento de 0,5% no ano que vem.
As estimativas anteriores do Ipea haviam sido divulgadas em setembro.
"A redução da previsão para este ano levou em conta os indicadores de atividade econômica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do terceiro trimestre e de outubro, que vieram abaixo do esperado", justificou o Ipea em nota de divulgação da Visão Geral da Conjuntura, análise trimestral da economia brasileira publicada nesta quarta-feira, 22.
O instituto estima que tenha havido melhora na atividade econômica em novembro, o que atenuaria os efeitos negativos do desempenho de outubro no agregado do último trimestre de 2021.
O Ipea estima que a produção industrial tenha crescido 0,6% em novembro ante outubro, e o volume de serviços prestados tenha avançado 0,4%. As vendas do comércio varejista teriam alta de 0 3%, embora, no varejo ampliado, que inclui as atividades de veículos e material de construção, a expectativa seja de queda de 0,7%.
Como resultado, o Monitor do PIB, apurado pela Fundação Getulio Vargas com a mesma metodologia de cálculo das Contas Nacionais Trimestrais do IBGE, teria uma expansão de 0,4% em novembro ante outubro, após a queda de 0,7% registrada no mês anterior.
Assim, o instituto prevê uma alta de 0,1% no PIB quarto trimestre deste ano ante o terceiro trimestre, quando o Brasil teve variação negativa do PIB e entrou em recessão técnica.
Os técnicos do órgão lembram que o setor manufatureiro, particularmente a indústria de transformação, segue enfrentando restrições pelo lado da oferta. A desorganização mundial das cadeias produtivas ainda provoca escassez e encarecimento de insumos, enquanto a crise hídrica permanece pressionando os preços da energia elétrica.
"O consumo de bens, por sua vez, tem sido afetado negativamente pelo aumento da inflação, que segue pressionando o orçamento das famílias. Refletindo esse quadro, a confiança dos agentes diminuiu nos últimos meses. Além da queda generalizada entre os empresários, a confiança das famílias também sofreu deterioração. Nossas previsões sugerem, no entanto, com base nos indicadores disponíveis até o momento, que o nível de atividade em novembro deve apresentar crescimento, com exceção do comércio varejista ampliado", avalia o Ipea, na Visão Geral da Conjuntura.
"Pesa sobre o cenário do quarto trimestre a inflação mais alta do que o esperado anteriormente, o que afeta o poder de compra e as expectativas dos consumidores. O consequente ciclo de aperto monetário mais rigoroso terá efeitos que perdurarão pelos trimestres subsequentes, dada a defasagem dos mecanismos de transmissão da política monetária para a atividade econômica", justificou o órgão.
Para o fechamento de 2021, a maior revisão ocorreu na projeção para a agropecuária, que fechará 2021 com queda de 1,2%, ante uma previsão anterior de crescimento de 1,2%. A diferença é explicada pelos problemas climáticos que afetaram a safra, pelo pior desempenho na produção de bovinos e pela revisão do crescimento do setor em 2020 nas Contas Nacionais do IBGE, que aumentou fortemente a base de comparação para o crescimento deste ano.
A projeção para o PIB da indústria passou de alta de 5,4% para 4,9%, enquanto a do setor de serviços foi revista de 4,7% para 4,5%. Em 2022, a agropecuária cresceria 2,8%, a indústria ficaria estagnada (0,0%), e os serviços teriam avanço de 1,3%.
Segundo o Ipea, a piora nas expectativas para o PIB de 2022 é decorrente do impacto negativo da elevação da inflação sobre o poder de compra das famílias e da necessidade de elevação mais acentuada da taxa de juros, que já encarece o crédito.
"Por outro lado, o Auxílio Brasil e o aumento da população ocupada podem influenciar positivamente a demanda, que também poderá ser estimulada pelo esperado aumento dos investimentos em infraestrutura", ponderou o instituto em nota.
As previsões para a inflação no Brasil também foram revistas em relação às últimas projeções, divulgadas em novembro. A expectativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2021 passou de 9,8% para 10,0%, enquanto que para o Índice Nacional de Preço ao Consumidor (INPC) subiu de 10,1% para 10,2%. Para 2022, as projeções para o IPCA e o INPC foram mantidas em 4,9% e 4,6%, respectivamente.
"A manutenção das taxas é baseada na estimativa de acomodação dos preços do petróleo e das demais commodities, combinada à menor probabilidade de efeitos climáticos intensos e à projeção de um aumento da safra brasileira, que devem resultar em pressão menor sobre combustíveis, energia elétrica e alimentos. De certa forma, a descompressão inflacionária já é percebida em algumas categorias no final de 2021, como o anúncio feito pela Petrobras de redução no preço das refinarias. Porém, há riscos que seguem associados, externamente, à possibilidade de novos aumentos de preços de commodities e, internamente, à percepção de fragilidades na política fiscal, além do processo eleitoral, com efeitos que podem desencadear maior volatilidade no mercado cambial", alertaram os pesquisadores do Ipea.
O Ipea estima que a taxa básica de juros, a Selic, suba de 9,25% ao ano ao fim de 2021 para 11,75% ao ano ao fim de 2022. A projeção para a taxa de câmbio é que se mantenha em R$ 5,71 tanto ao término de 2021 quanto de 2022.
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