IPCA do mês passado mostrou uma leve aceleração sobre outubro, após alta de 0,59 por cento em outubro
Da Redação
Publicado em 7 de dezembro de 2012 às 11h34.
Rio de Janeiro/São Paulo - Puxado pelo aumento mais significativo de preços nos grupos não-alimentícios, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) surpreendeu ao subir 0,60 por cento em novembro, acima do esperado e atingindo a maior variação em sete meses.
O resultado acabou reforçando a expectativa de que a Selic deve permanecer por mais tempo na atual mínima histórica de 7,25 por cento ao ano, e não voltar a cair no próximo ano como preveem alguns agentes econômicos.
Segundo informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira, o IPCA do mês passado mostrou uma leve aceleração sobre outubro, após alta de 0,59 por cento em outubro.
O resultado surpreendeu muitos analistas, que esperavam desaceleração da alta para 0,50 por cento em novembro segundo a mediana das estimativas de 35 bancos e consultorias consultados pela Reuters.
Com isso, no acumulado de 12 meses até novembro, o IPCA avançou 5,53 por cento no mês passado, mostrando alta ante os 5,45 por cento de outubro. Neste caso, é o maior avanço desde fevereiro último, quando atingiu 5,85 por cento, e também ficou acima da expectativa do mercado, de alta acumulada de 5,44 por cento em novembro.
TRANSPORTES O resultado do IPCA do mês passado veio, segundo o IBGE, dos grupos não-alimentícios, com destaque para Transportes, cujos preços subiram 0,68 por cento, ante 0,24 por cento de outubro. A principal influência veio de passagens aéreas, que custaram em média 11,80 por cento a mais em novembro, depois de terem registrado alta 1,62 por cento em outubro.
Também pesaram no indicador os preços da gasolina, cuja alta passou de 0,75 a 1,18 por cento no período, e do etanol, com ajustes crescendo de 0,04 a 0,63 por cento.
"A alta das passagens aéreas é pontual. Trata-se de um efeito de calendário", disse a economista do IBGE Eulina Nunes dos Santos, referindo-se aos feriados de Finados (2 de novembro) e Proclamação da República (15 de novembro).
Segundo ela, até mesmo as altas nos preços dos combustíveis foram "localizadas". Em novembro, as maiores pressões tanto em etanol quanto na gasolina se concentraram nas cidades de Curitiba (PR) e Salvador (BA).
O grupo Habitação também mostrou aceleração da alta, fechando o mês passado a 0,64 por cento, ante 0,38 por cento, devido principalmente à energia elétrica, cujos preços subiram 1,38 por cento agora, após queda de 0,24 por cento em outubro.
Já a alta de preços no grupo Alimentação e bebidas arrefeceu em novembro, mas não tanto como analistas esperavam, fechando a 0,79 por cento, ante 1,36 por cento do mês anterior. Carnes subiram 0,40 por cento em novembro, ante 2,04 por cento em outubro. No ano, o grupo acumulam alta de 8,74 por cento, superando o avanço de 7,18 por cento visto em 2011 todo.
"Alimentos não desaceleraram tanto em comparação com o IPCA-15. Eu tinha alta de 0,26 para alimentos (em novembro)", disse o economista da Votorantim Corretora, Bruno Surano.
O indicador de novembro veio também na contramão da sua prévia, o IPCA-15, que no mês passado desacelerou a alta para 0,54 por cento, ante avanço de 0,65 por cento em outubro, já influenciado pelos alimentos.
O mercado esperava para este fim de ano uma desaceleração nos preços das commodities, após a pressão proveniente dos efeitos da seca nos Estados Unidos nos últimos meses.
O resultado do IPCA de novembro acima do esperado, no entanto, já levou a revisões nas projeções para o ano, embora seja esperada desaceleração em dezembro, contando ainda com os alimentos.
Para o economista da Austin Rating Rafael Leão, o IPCA deste ano fechará com alta de 5,60 por cento, ante 5,45 por cento calculados até então.
Apesar do resultado, o mercado ainda vê que, pelo menos para início de 2013, a inflação deve perder força, com preços menores em vestuários, por exemplo.
POLÍTICA MONETÁRIA Na opinião de analistas, este resultado acaba reforçando as perspectivas de boa parte do mercado de uma Selic estável por vários meses, mas já há avaliações de que a taxa básica de juros poderia cair para o patamar de 6 por cento no próximo ano.
"O Banco Central já ponderou, de certa forma, esse risco na ata da última reunião do Copom, ao dizer que a inflação vai convergir de forma não linear. Portanto, já contempla que ocorrerão alguns 'espirros' na inflação em alguns momentos, e não vai preocupar o governo", avaliou Leão, da Austin Rating.
Na ata da última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) também transmitiu a mensagem que os juros permanecerão estáveis por período prolongado e elevou suas projeções para a inflação neste ano.
Na quinta-feira à noite, o presidente do BC, Alexandre Tombini, reforçou que a melhor estratégia é manter "as condições monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado" para fazer a inflação convergir para o centro da meta, de 4,5 por cento pelo IPCA.
"Pode ser que ano que vem surjam algumas outras medidas, como macroprudenciais. Acredito que estamos em pausa técnica para avaliação dos efeitos da política monetária adotadas sobre a dinâmica da inflação", completou Leão.