Economia

Inflação bate menor nível do ano e alimenta expectativa de corte na Selic

Alimentos e transportes puxaram o IPCA para baixo em junho; índice mede a inflação oficial do país

Carne: apesar da queda geral no grupo de alimentos, tomate e carnes pesaram no mês, com altas de 5,25% e 0,47%, respectivamente (Paulo Amorim/Getty Images)

Carne: apesar da queda geral no grupo de alimentos, tomate e carnes pesaram no mês, com altas de 5,25% e 0,47%, respectivamente (Paulo Amorim/Getty Images)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 10 de julho de 2019 às 09h03.

Última atualização em 10 de julho de 2019 às 11h22.

São Paulo - Alimentos e transportes puxaram a inflação para baixo em junho.

Segundo anúncio feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na manhã desta quarta-feira, (10), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 0,01% no mês, a menor taxa do ano até agora.

O número representa uma queda de 0,12 ponto percentual em relação à taxa de maio, que veio em 0,13%. No ano, o IPCA acumula alta de 2,23%.

Já nos últimos 12 meses, atinge 3,37%, abaixo do centro da meta estipulada pelo pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4,25%. O intervalo de tolerância para a taxa de inflação vai de 2,75% a 5,75%.

As quedas dos grupos alimentos e transportes foram de 0,31% e 0,25%, respectivamente, na comparação com maio, com um peso de 43%, quase a metade do IPCA. 

O preço dos alimentos, que tiveram a segunda queda mensal consecutiva, foi pressionado pela redução nos valores das frutas e do feijão carioca, que somam três quedas mensais seguidas.

Apesar da queda geral no grupo alimentos, tomate e carnes pesaram, com altas de 5,25% e 0,47%, respectivamente. No primeiro semestre do ano, os preços dos alimentos acumulam crescimento de 2,89%.

O grupo que teve a maior variação no índice foi de Saúde e cuidados pessoais (0,64%), devido à alta de 1,50% do item higiene pessoal.

Gráfico - IBGE - 2019-7-10

Juros

inflação sob controle, somada às estimativas cada vez mais fracas para o crescimento da economia, alimentam as expectativas de economistas sobre o começo de um ciclo de afrouxamento monetário no Brasil.

"Neste contexto, esperamos que o Banco Central inicie um ciclo moderado de flexibilização das taxas, potencialmente já na reunião do Copom de 31 de julho, se o projeto de reforma da Previdência for votada pelo menos em primeiro turno antes do recesso parlamentar, que começa no dia 18"  escreve Alberto Ramos, chefe de pesquisa macroeconômica do banco americano Goldman Sachs.

O Banco Central tem repetido exaustivamente que a continuidade do processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para a queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia.

A taxa Selic é mantida em seu patamar mais baixo, de 6,5% ao ano, há mais de um ano. 

"Em linhas gerais o resultado (do IPCA de junho) é benigno e confirma a perspectiva de queda de juros agora em julho", analisa Andre Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos.

 

GrupoMaio (variação em %)Junho (variação em %)
Índice Geral0,130,01
Alimentação e Bebidas-0,56-0,25
Habitação0,980,07
Artigos de Residência-0,10,02
Vestuário0,340,3
Transportes0,07-0,31
Saúde e Cuidados Pessoais0,590,64
Despesas Pessoais0,160,15
Educação-0,040,14
Comunicação-0,03-0,02

 

GrupoMaio (impacto em p.p.)Junho (impacto em p.p.)
Alimentação e Bebidas-0,14-0,06
Habitação0,150,01
Artigos de Residência00
Vestuário0,020,02
Transportes0,01-0,06
Saúde e Cuidados Pessoais0,070,08
Despesas Pessoais0,020,01
Educação00,01
Comunicação00

Expectativa

No último Boletim Focus, que reúne as previsões de economistas de mercado, a mediana das previsões para o IPCA de 2019 seguiu em alta de 3,80%. Há um mês, estava em 3,89%.

A projeção para o índice em 2020 permaneceu em 3,91%. Quatro semanas atrás, estava em 4%.

25 anos de Plano Real

Desde a introdução do Plano Real, há 25 anos, em julho de 1994, o IPCA acumulou alta de 508,23%, segundo o IBGE.

Nestes 25 anos, a maior pressão inflacionária veio do grupo Habitação, com alta de 1.020,82%. Fernando Gonçalves, gerente de Sistema Nacional de Índices de Preços (SNIPC), evitou dar uma explicação definitiva para a elevação acima da média nesse grupo mas lembrou que dele fazem parte preços monitorados, como a conta de luz.

Na outra ponta, o grupo Artigos de Residência teve a menor inflação do Plano Real, com avanço de 174,29% desde julho de 1994. O grupo Alimentação e Bebidas, um dos mais importantes para a percepção popular sobre a inflação, teve variação abaixo da média com IPCA, acumulando alta de 486,28% no período.

O IBGE aproveitou os 25 anos do Plano Real para compilar dados do SNIPC, desenvolvido em 1980. O plano de estabilização interrompeu a dinâmica de hiperinflação, mostra o compilado. No acumulado de janeiro de 1980 a junho de 1994, o IPCA registrou alta de 11.253.035.454.003,90%, em contraste com os 508,23% de julho de 1994 a junho passado.

No período de 1980 até hoje, a maior variação mensal ficou com março de 1990, mês da introdução do Plano Collor, quando o IPCA registrou alta de 82,39% apenas naquele mês. A menor variação foi registrada em agosto de 1998, quando o IPCA recuou 0,51%. Aquele ano, anterior à introdução do câmbio flutuante, registrou a menor inflação da histórica, com alta de 1,65% no IPCA.

(Com Estadão Conteúdo)

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