Combustíveis: guerra na Ucrânia fez preço internacional do petróleo disparar (Rodrigo Capote/Getty Images)
Carolina Riveira
Publicado em 11 de março de 2022 às 09h04.
Última atualização em 11 de março de 2022 às 09h56.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal métrica da inflação brasileira, variou 1,01% em fevereiro, a maior alta para o mês desde 2015 e encerrando a sequência de desaceleração que vinha ocorrendo desde outubro.
No acumulado de 12 meses até fevereiro, o índice teve alta de 10,54%. O valor segue superior ao de 2021, quando o IPCA fechou em 10,06%, uma das maiores altas desde a criação do Plano Real.
Em janeiro, a alta mensal havia sido muito menor, de 0,54%, e o acumulado de 12 meses em 10,38% na ocasião.
Os principais impactos no índice em fevereiro vieram da Educação (5,61%) e da Alimentação e Bebidas (1,28%), aponta o IBGE. Juntos, os dois grupos representaram 57% do IPCA de fevereiro.
“Em fevereiro, são incorporados no IPCA os reajustes habitualmente praticados no início do ano letivo. Portanto esse [a educação] foi o item que teve o maior impacto no mês, com peso de 0,31 ponto percentual”, disse em nota da Agência IBGE o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov.
No caso dos alimentos, problemas na safra são a principal explicação para as altas.
“O grupo de Alimentação sofreu impactos dos excessos de chuvas e também de estiagens que prejudicaram a produção em diversas regiões de cultivo no Brasil", disse Kislanov.
Nos alimentos, a maior alta foi da cenoura (que aumentou 55,41% em um mês), seguida por abobrinha (34,05%), repolho (25,71%), melancia (24%) e batata-inglesa (23,49%).
Os números de fevereiro trazem ainda poucos impactos da guerra na Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro e que fez os preços do petróleo dispararem no mercado internacional.
No IPCA de fevereiro, por ora, o preço da gasolina no mês recuou 0,47% e o do etanol, 5,04%, embora o diesel tenha tido alta, de 1,65% - mesmo com o ICMS, principal imposto sobre os combustíveis, congelado pelos estados até o fim de março.
No acumulado de 12 meses, no entanto, os combustíveis seguem sendo os campeões da inflação brasileira. O grupo de Combustíveis e energia medido pelo IBGE acumula alta de 28% nos 12 meses até fevereiro. A maior alta acumulada é do óleo diesel, que subiu 40% em um ano.
Com os combustíveis em fevereiro sem grandes altas, o maior impacto no IPCA no grupo dos Transportes veio dos automóveis novos (alta de 1,68%), que subiram pelo 18º mês consecutivo, aponta o IBGE, ainda com reflexo dos desafios na cadeia de suprimentos e fornecimento de peças globalmente.
Automóveis usados (1,51%) e motocicletas subiram (1,72%) em trajetória parecida.
O ônibus urbano também começou a subir (0,45%) com os primeiros reajustes nas passagens do transporte público, que vinham represadas e foram impactadas pelo aumento do diesel em 2021.
Para os próximos meses, as novas altas no preço dos combustíveis no mercado internacional, além de outros potenciais impactos da guerra na Ucrânia - como o suprimento de fertilizantes ao agro brasileiro - devem trazer novos aumentos ao bolso do consumidor.
Nesta sexta-feira, passa a valer nas refinarias da Petrobras o aumento de preço em gasolina, diesel e GLP (gás de cozinha) anunciado ontem pela empresa. Diesel e gasolina acumulavam 57 dias sem alta, e a Petrobras afirmou que o reajuste, para acompanhar os preços do mercado internacional, foram necessários para evitar "desabastecimento".
A previsão para 2022, por ora, é de inflação em 5,65% na mediana dos analistas ouvidos na última edição do boletim Focus, do Banco Central.
A projeção começou o ano na casa dos 5% e vem aumentando desde então. Assim, o atual índice acima de 10% do IPCA teria de cair quase pela metade para chegar a esse patamar.
A inflação prevista atualmente, ainda que não fosse mais revisada, está acima da meta do Banco Central, de 3,5% para 2022, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos (ou seja, máximo de 5%).
Com as pressões inflacionárias, analistas já apontam que o BC pode demorar mais a desacelerar o processo de altas na taxa básica de juros, a Selic, e passam a ver os juros perto de 13%. O boletim Focus desta semana seguiu com a projeção de Selic fechando o ano em 12,25%, ante os atuais 10,75%.
*Matéria em atualização. Mais informações em instantes