Aumentos: na tarifa da energia elétrica e do imposto sobre os combustíveis devem manter impacto no índice (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 2 de agosto de 2017 às 14h15.
São Paulo - O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) deve fechar agosto com alta de 0,41% após os preços na capital paulista caírem marginalmente (-0,01%) em julho, conforme estimativa do coordenador do índice, André Chagas. Em junho, o indicador havia subido 0,05%.
Segundo ele, as principais pressões neste mês devem vir de energia elétrica, com impacto altista de 0,22 ponto porcentual, e de combustíveis, que devem produzir efeito positivo de 0,17 ponto no índice.
No caso de energia, a elevação estimada de 6,6% em agosto considera o reajuste de 5,5% anunciado pela Eletropaulo em julho, assim como a adoção da bandeira amarela no mês passado, que só são captados no IPC quando efetivamente aparecem nas contas dos consumidores.
Há também impacto de 0,03 ponto da revisão da alíquota de PIS/Cofins sobre as faturas de luz da Eletropaulo.
A gasolina deve continuar o movimento de elevação já observado na última quadrissemana de julho, quando subiu 0,28%, de queda de 2,40% na terceira leitura do mês.
"A política de revisão de preços da Petrobras não impediu a inflação da gasolina", disse Chagas. O etanol, contudo, continuou recuando (-1,14%, de 3,89% na terceira quadrissemana) mesmo com elevação do tributo, já que a cana de açúcar está no meio da safra, segundo o coordenador.
A previsão dele é que ambos os combustíveis subam 5,97% em agosto, já considerando a redução de R$ 0,08 na alíquota o PIS/Cofins sobre o etanol nas distribuidoras.
No dia 20 de julho, o governo havia anunciado o aumento de zero para R$ 0,1964 por litro, mas foi informado pelo setor que a alíquota havia extrapolado o limite máximo. Após a mudança, o valor cobrado é de R$ 0,1109 por litro.
Alimentação, por outro lado, deve continuar a segurar a inflação em agosto, pois deve seguir mostrando baixa de preços, embora em menor intensidade.
Chagas estima queda de 0,19% para o grupo depois de recuo de 0,26% em julho. Os principais itens a contribuir com a redução no segmento são os semielaborados, enquanto os industrializados e os in natura devem subir mais em agosto.
Em julho, os semielaborados, subgrupo que compreende as proteínas animais, foi a principal surpresa de baixa do indicador, segundo Chagas. "As condições de exportações de carnes estão desfavoráveis depois da Operação Carne Fraca, além disso a safra recorde reduz o preço das rações para os animais, o que é repassado para o preço ao consumidor."
Por outro lado, o aumento dos planos de saúde foi maior que o esperado no grupo Saúde, que subiu 1,18% na última quadrissemana de julho, de 0,04% na anterior.
Índice anual
A projeção para o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) para 2017 subiu para 3,03%, de 2,96% anteriormente, segundo o coordenador.
A mudança, explica ele, acontece devido ao impacto altista da elevação da alíquota do PIS/Cofins sobre os combustíveis anunciada no dia 20 do mês passado. Mas, por outro lado, Chagas reduziu algumas estimativas para outros grupos, como Alimentação e Despesas Pessoais, que estão surpreendendo para baixo.
Em julho, quando o indicador teve baixa marginal de 0,01%, Alimentação (-0,26) e Despesas Diversas (0,03%) já ajudaram a segurar a alta proporcionada pelo aumento dos combustíveis. Segundo Chagas, a queda mais surpreendente foi de viagens e excursões (-2,70%), pois julho é um período de forte alta desses preços em função das férias escolares.
Ele explica que, o setor até tentou aumentar os preços no mês, conforme se observa na variação da segunda quadrissemana, de alta de 3,15%, mas teve de fazer uma "liquidação" a partir de então diante da ausência de demanda. "O ciclo econômico recessivo não está ajudando o setor de hotelaria."
No acumulado em 12 meses até o mês passado, o IPC-Fipe acumulou 2,10%, a taxa mais baixa desde novembro de 2006 (1,78%), segundo a instituição. "A recessão bastante extensa está provocando esse ajuste forte nos preços."
O único índice que parece resistir é o de serviços destinados às famílias, nomeado de Índice Geral de Serviços (IGS) de serviços de trabalho intensivo, que compreende reparos no domicílio e alimentação fora de casa, por exemplo.
Em julho, esse índice subiu 0,37%, de 0,29% em junho, apesar do IGS geral ter desacelerado para alta de 0,08%, de 0,68% no sexto mês do ano, por influência das quedas em administrados. "Não é uma taxa exorbitando (4,3% em 12 meses), mas considerando o que está acontecendo no resto da economia ainda é uma memória inflacionária forte e mais ou menos consistente."
Os administrados, apesar da desaceleração no mês em virtude das contas de luz mais baratas sob incidência de bandeira verde, principalmente, preocupam Chagas. A ausência de chuvas atualmente aumenta o risco de a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) acionar a bandeira vermelha patamar 2 na conta de luz, que adiciona R$ 3,50 a cada 100 quilowatt-hora, em setembro. "Isso pode carregar uma memória inflacionária ao longo do ano devido ao forte peso de energia", avalia.