Economia

Mansueto: Brasil não chegou na armadilha de liquidez para emissão de moeda

Secretário disse que não há "dogmatismo fiscal" do governo, mas que problemas estruturais do Brasil não podem ser justificados pela falta de gasto público

Mansueto: secretário negou que a Embraer terá problemas após o fim da negociação com a Boeing (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Mansueto: secretário negou que a Embraer terá problemas após o fim da negociação com a Boeing (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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Reuters

Publicado em 5 de maio de 2020 às 12h46.

Última atualização em 5 de maio de 2020 às 13h16.

O Brasil não chegou no ponto de uma armadilha de liquidez, com juros próximos de zero, que teoricamente poderia abrir a possibilidade de emissão de moeda pelo Banco Central, afirmou nesta terça-feira o secretário do Tesouro, Mansueto Almeida.

Segundo Mansueto, a fala recente do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre o assunto foi "muito mais do ponto de vista teórico".

"Ele disse 'olha, se a gente chega numa situação de juro zero que você pode emitir sem nenhuma restrição inflacionária, as pessoas querem dinheiro, querem guardar dinheiro, numa situação como essa você pode financiar a dívida pública com emissão de moeda'", disse Mansueto.

"Mas a gente está muito longe disso", completou, durante transmissão ao vivo para uma consultoria política.

A declaração foi dada em meio a debates crescentes entre economistas sobre o financiamento dos gastos com a crise via compra de títulos públicos do Tesouro pelo BC --prática conhecida como impressão de dinheiro.

"Se precisar gastar mais 20, 30 bilhões (de reais) este ano porque a saúde precisa, vamos gastar. Não tem nenhum dogmatismo fiscal. Agora não vale a gente querer transformar os grandes problemas estruturais do Brasil como sendo um problema de falta de gasto público porque não é", afirmou Mansueto.

O secretário do Tesouro destacou que não haverá dificuldade de vender títulos públicos ao mercado se os juros caírem "porque título é preço".

"Quando os juros caem, bolsa cai, investidor olha para várias oportunidades de investimento", afirmou ele.

"O que pode acontecer é o investidor falar que quer um preço um pouquinho maior. Mas isso tudo faz parte do processo. Eu não tenho nenhum problema de financiar a dívida pública", frisou.

Na semana passada, Guedes havia dito que o Banco Central pode sim emitir moeda em meio à crise com o coronavírus e que um bom economista não tem dogma.

"Realmente você cair numa situação em que a inflação vai praticamente para zero, juros colapsam e existe o que a gente chama de armadilha da liquidez tecnicamente, o Banco Central pode sim emitir muito uma moeda e pode sim inclusive comprar dívida interna", afirmou o ministro.

FOCO NA TRAJETÓRIA DA DÍVIDA

Mansueto também disse nesta terça-feira que o eventual abandono do teto de gastos exigiria um aumento da carga tributária do país, o que não seria desejável.

Ele ressaltou que em 2020 a prioridade do governo é "salvar vidas" e que a relação dívida/PIB pode fechar o ano próxima de 90%, mas afirmou que, para os investidores, o importante é a sinalização dada para a trajetória desse endividamento. Ou seja, que não haja elevação permanente das despesas.

Mansueto afirmou, ainda, que seria positivo se o país pudesse ter um aumento de investimentos públicos, mas que isso demandaria uma redução de gastos obrigatórios.

Sobre o auxílio emergencial de 600 reais, Mansueto disse que a despesa com o programa pode chegar a até 130 bilhões de reais, ou 1,8% do PIB, considerando seu prazo atual. Uma eventual extensão do auxílio, disse, deve ser discutida "de forma adulta e transparente" com o Congresso, no momento adequado e caso isso seja necessário.

INVESTIMENTOS PRIVADOS

Para o secretário do Tesouro, o país tem boas oportunidades de investimento e que poderá atrair capital externo no pós-crise se instituir marcos regulatórios adequados.

"Se haverá ou não investimento em aeroportos, rodovias, saneamento, no setor de energia, tudo depende de construírmos marcos regulatórios adequados e atrativos", afirmou ele.

Mansueto citou que a aprovação do marco para o saneamento, em tramitação no Congresso, seria exemplo de um "bom sinal" na saída da crise.

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