Guido Mantega: economistas colocaram em dúvida declaração do ministro da Fazenda de que PIB de 2014 poderá ser um pouco maior que o de 2013 (Marcello Casal Jr./Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 27 de fevereiro de 2014 às 18h35.
Brasília - Principal fator que impulsionou o crescimento de 2,3% da economia em 2013, os investimentos representam o maior desafio para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2014, comentam economistas.
Segundo os especialistas, as incertezas associadas às eleições e a falta de reformas estruturais que melhorem a competitividade da indústria desestimulam o interesse dos empresários em investir e podem comprometer o PIB deste ano.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os investimentos (públicos e privados) aumentaram 6,3% no ano passado.
Os economistas, no entanto, entendem que esse ritmo dificilmente se manterá nos próximos meses, pondo em dúvida a declaração do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que o PIB de 2014 poderá ser um pouco maior que o de 2013.
“Do lado dos investimentos, temos um ambiente de incerteza, não apenas por ser um ano eleitoral. O Banco Central norte-americano está retirando os estímulos e existem dúvidas em relação à economia chinesa. Sem contar com o fantasma de um eventual racionamento de energia no Brasil. Tudo isso afeta negativamente das decisões de investimentos”, diz o economista chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa.
Segundo o Boletim Focus, pesquisa do Banco Central com instituições financeiras divulgada toda semana, os analistas de mercado apostam em crescimento de 1,67% para a economia brasileira neste ano.
Rosa acredita que a projeção pode subir um pouco nas próximas semanas por causa do resultado do PIB de 2013, mas não acredita que a melhoria seja significativa. “Apesar de ter vindo acima do esperado, o crescimento do quarto trimestre não garante um desempenho melhor para a economia neste ano”, ressalta.
Professora de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) no Rio de Janeiro, Virene Matesco diz que o aperto monetário promovido pelo Banco Central, que ontem (26) reajustou a taxa Selic para 10,75% ao ano, continuará a se refletir sobre o crédito e o consumo neste ano.
Além disso, ela destaca que o país tem problemas estruturais que continuam a comprometer o crescimento da economia, principalmente da indústria.
“Para este ano, o próprio Banco Central prevê aumento de apenas 3% nas exportações, enquanto vamos continuar a importar bastante. Isso é ruim para a indústria nacional, que está estagnada e sem competitividade [com os produtos estrangeiros]”, declara Matesco. De acordo com o IBGE, a indústria cresceu apenas 1,3% no ano passado, depois de retrair-se 0,8% no ano anterior.
Apesar da alta dos investimentos em 2013, a professora destaca que essa arrancada não teve grande impacto sobre o PIB do ano passado: “Todo mundo já previa a expansão de 2,3%”. Para 2014, ela também acredita que os investimentos dificilmente manterão o ritmo.
“Os próximos meses, na verdade, são de os empresários entrarem em compasso de espera e não investirem. Temos eleições, Copa do Mundo e a ameaça de as agências de risco rebaixarem a nota da dívida do Brasil. Este é um ano atípico”, destaca.
Para o professor Robson Gonçalves, do MBA da Fundação Getulio Vargas em São Paulo, os investimentos são atualmente o principal desafio para manter a expansão do PIB em 2014.
Ele acredita que o resultado de 2013 indica que o país pode estar saindo de um modelo de expansão apoiado no consumo para o crescimento sustentado pela expansão do setor produtivo. O professor, no entanto, defende a ação direta do governo para garantir os investimentos neste ano.
“Os investimentos cresceram em 2013, em grande parte, por causa da compra de máquinas e equipamentos, principalmente caminhões, financiados pelo BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social]”, explica. De acordo com ele, o fortalecimento do banco de fomento é necessário porque as concessões de rodovias, portos e ferrovias previstas para este ano só deverão resultar em investimentos a partir de 2015.