Esplanada dos Ministérios: governo teme que importações chinesas presionem os setores têxtil, de aço e alumínio, de produtos eletrônicos e outras manufaturas (Leandro Fonseca)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 28 de maio de 2025 às 06h01.
O temor do governo de que a guerra comercial entre Estados Unidos e China poderia inundar o Brasil de produtos chineses ainda não se materializou, afirmaram à EXAME técnicos do governo que acompanham com lupa o assunto.
Segundos três integrantes da equipe econômica ouvidos reservadamente, os dados da balança comercial, as conversas com importadores e a visita à China mostram que esse movimento, por enquanto, ainda não se materializou.
Como mostrou a EXAME em abril, o deslocamento de parte da oferta de produtos chineses dos Estados Unidos para o Brasil era uma das preocupações do governo.
Esperava-se um aumento de importações nos setores têxtil, de aço e alumínio, de produtos eletrônicos e outras manufaturas no curto prazo, diante da mudança das rotas comerciais.
Em paralelo, os empresários brasileiros desses mesmos segmentos têm pressionado o governo para aumentar as tarifas de importação para produtos chineses, diante do que ele chamam de "concorrência desleal" praticada pelas empresas chinesas.
Os dados da balança comercial mostram que as importações da China, de Hong Kong e de Macau cresceram 27,3% de janeiro a abril de 2025, totalizando US$ 24,37 bilhões.
Já as exportações caíram 12%, totalizando US$ 28,95 bilhões. O saldo comercial ainda é positivo em US$ 4,58 bilhões. Os dados até maio serão divulgados na próxima semana pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
O aumento das importações de alguns produtos chineses já tem levado o governo a tomar medidas para frear essa expansão.
Como mostrou a EXAME, o Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex-Camex), colegiado do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), renovou por mais 12 meses, a vigência da alíquota de 25% sobre o aço importado da China.
Além disso, o governo elevou de 19 para 23 o número de produtos alcançados pela medida.
A renovação da tarifa de importação era um pleito do setor de aço, que pedia ao governo medidas adicionais ainda mais duras.
Executivos do setor têm afirmado que o aço importado, historicamente, representava 11% da demanda interna. Essa fatia mais que dobrou e já chega a 25%.
O setor pleiteava uma alíquota de imposto de importação superior a 25% e o fim do mecanismo de cotas.