Economia

Intenções protecionistas de Trump preocupam setor aeronáutico

O setor, cuja complexa rede de abastecimento depende do livre-comércio, acompanha com incerteza as manobras do presidente americano

Donald Trump: a preocupação também é palpável entre os industriais americanos (Win McNamee/Getty Images)

Donald Trump: a preocupação também é palpável entre os industriais americanos (Win McNamee/Getty Images)

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AFP

Publicado em 22 de junho de 2017 às 14h35.

A intenção do presidente Donald Trump de "devolver a grandeza" aos Estados Unidos por meio do protecionismo pode agradar aos eleitores, mas preocupa um setor aeronáutico cuja complexa rede de abastecimento depende do livre-comércio.

O salão internacional da aeronáutica de Le Bourget, perto de Paris, abriu suas portas um mês depois de a administração americana ter lançado um processo para renegociar o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta).

Denunciado por Trump como prejudicial para os interesses de seu país, o acordo permitiu nos últimos 20 anos o desenvolvimento da indústria aeronáutica no Canadá e no México.

O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, já avisou que "no âmbito da aeronáutica" defenderá sempre suas empresas e seus trabalhadores, uma firmeza compartilhada pelo ministro de Desenvolvimento Econômico da província canadense de Ontario, Brad Duguid, presente em Le Bourget.

"Washington saberá que, se o presidente Trump quiser alcançar seu objetivo de devolver a grandeza aos Estados Unidos, conseguirá o efeito contrário, se tomar medidas prejudiciais a suas importantes relações comerciais com Canadá e Ontario", disse Duguid à AFP.

O ministro defende os interesses de sua província, que destina 80% de sus exportações para os Estados Unidos, incluídos os componentes de aviões. Segundo ele, nove milhões de empregos americanos dependem de uma relação comercial sem obstáculos entre Canadá e o país vizinho.

A preocupação também é palpável entre os industriais americanos como Remy Nathan, vice-presidente de negócios internacionais da poderosa Associação Americana de Indústrias Aeroespaciais (AIA), que agrupa 341 companhias.

"Nossa organização acredita no comércio livre e equitativo", declara à AFP. "O setor aeroespacial e de defesa é um setor muito globalizado, que nos permite recorrer a provedores no mundo inteiro para clientes a melhor tecnologia ao melhor preço".

Incerteza

"Há algumas questões nos âmbitos da política internacional e interna que tornariam nosso setor mais competitivo, mas para nós a resposta deve consistir em boas políticas públicas, e não em deteriorar as relações existentes (...) com nossos parceiros internacionais", acrescentou.

O Nafta estimulou o crescimento das indústrias aeronáuticas canadense e mexicana e incitou as empresas americanas a investir.

O México, um dos alvos favoritos de Trump, atraiu cerca de 800 milhões de dólares em investimentos diretos americanos nesse setor, graças a uma mão de obra mais barata, segundo um estudo da consultora PwC.

"As negociações sobre o 'made in Estados Unidos' preocupam a AIA por suas consequências imprevisíveis sobre os fornecedores" caso se volte a erguer barreiras alfandegárias, opina Robin Lineberger, responsável mundial do setor aeronáutico na consultora Deloitte.

"No setor, produzimos peças que devem ser certificadas por motivos de segurança", explica à AFP. Portanto, repatriar uma linha de produção aeronáutica aos Estados Unidos seria "muito mais complexo do que no caso de uma fábrica clássica".

Os industriais também se perguntam se Trump traduzirá em ações sua retórica exaltada e às vezes contraditória. "Há uma preocupação em relação às consequências das políticas públicas, já que existem distintas versões", comenta Lineberger.

"No mundo todo, os negócios prosperam com previsibilidade. Se há certeza e estabilidade no processo político, orçamentário, normativo e financeiro, tudo isso sustenta o setor", opina Nathan.

Esta semana, a fabricante Lockheed Martin anunciou que seu avião de combate F-16 será logo produzido na Índia, inclusive para as exportações.

A companhia informou, contudo, que o contrato "apoia os milhares de empregos de Lockheed Martin e de fornecedores nos Estados Unidos".

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