Economia

Inflação sobe 1,15% em dezembro e fecha 2019 acima do centro da meta

A taxa mensal foi a maior para o mês em 17 anos, segundo o IBGE. Alta anual de 4,31% foi a maior desde 2016

Consumidores: preço da carne pesou no bolso do brasileiro (Cris Faga/NurPhoto/Getty Images)

Consumidores: preço da carne pesou no bolso do brasileiro (Cris Faga/NurPhoto/Getty Images)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 10 de janeiro de 2020 às 09h02.

Última atualização em 13 de janeiro de 2020 às 16h02.

São Paulo — O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de dezembro acelerou para 1,15%. Em 2019, o índice fechou em 4,31%, informou nesta sexta-feira (10) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A taxa anual ficou acima do centro da meta definida pelo governo, que era de 4,25% com tolerância de 1,5 ponto percentual para baixo (2,75%) ou para cima (5,75%).

A inflação de 2019 superou a do ano anterior, que foi de 3,75%, em 0,56 ponto percentual.

A previsão dos economistas e instituições financeiras, expressa pelo último Boletim Focus, era que a inflação teria sido um pouco mais baixa, de 4,13%. O Focus espera que o IPCA encerre 2020 em 3,6%.

“O destaque ficou com as carnes, cuja variação acumulada no ano foi de 32,4%, com a maior parte do aumento nos preços concentrada no último bimestre (27,61%). Pesou também a alta nos planos de saúde (8,24%), por conta do reajuste autorizado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). A alimentação fora do domicílio também influenciou o índice, em função do aumento das carnes”, diz o gerente do IPCA, Pedro Kislanov, em nota.

A escalada do preço da carne, levada sobretudo pelo aumento das exportações para a China, pesou no grupo Alimentos e Bebidas, que é de longe aquele com maior peso no consumo das famílias. Esse segmento registrou alta de 6,37% no ano. 

"Se não fossem essas pressões que aconteceram aí muito concentradas entre novembro e dezembro, a gente com certeza teria registrado uma inflação abaixo da meta", diz André Braz, coordenador do IPC do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

A expectativa do Ibre para a inflação de 2020 fica em torno de 3,6%, em linha com o Boletim Focus. 

Em 2018, o grupo havia registrado alta de 4,04% nos preços, resultado de uma queda na safra da agropecuária nacional (a segunda melhor da história, depois do recorde de 2017) e dos efeitos da greve dos caminhoneiros.

Dos nove grupos de despesa pesquisados pelo instituto para compor o IPCA, Alimentação e Bebidas foi o que teve a alta mais relevante.

Os demais grupos tiveram a seguinte taxa de inflação: Habitação (3,9%), Vestuário (0,74%), Transportes (3,57%), Saúde e Cuidados Pessoais (5,41%), Despesas Pessoais (4,67%), Educação (4,75%) e Comunicação (1,07%). O único a ter deflação foi Artigos de Residência, com taxa de -0,36% em 2019. 

"Para as próximas divulgações, temos a expectativa de que a dinâmica de alta das proteínas perca intensidade, pois se trata de um choque temporário cuja trajetória deve se corrigir no médio prazo, à medida que as condições entre oferta e demanda se equilibrem", diz a consultoria 4E em nota.

Eles ressaltam, porém, que alguma pressão nos preços deve ser conduzida pela retomada mais robusta da atividade econômica em conjunto com os impactos dos estímulos monetários.

Na opinião do Goldman Sachs, apesar da significativa aceleração da inflação em novembro e dezembro, o cenário principal permanece confortável, já que a maioria das recentes pressões inflacionárias concentrou-se num componente consumido em casa tradicionalmente volátil.

Por isso, para o banco, o hiato do produto ainda grande (medida de ociosidade da economia), o avanço lento das vagas no mercado de trabalho, as expectativas de inflação ancoradas e as perspectivas reduzidas para alta do PIB no curto prazo devem contribuir para manter a inflação controlada.

A instituição nota ainda que, apesar de os preços terem pesado mais no bolso do consumidor em dezembro, a inflação de serviços foi moderada (3,51% ante 3,40% em novembro).

"A baixa inflação de serviços básicos deve proporcionar conforto ao Banco Central. Entretanto, outras considerações, incluindo a gestão de riscos, provavelmente levarão o Copom a analisar cuidadosamente os dados, a fim de determinar se a proposta de custo-benefício de cortes adicionais moderados na Selic no primeiro trimestre de 2020 é justificada", diz Alberto Ramos, economista para América Latina da instituição, por meio de nota.

GrupoVariação em 2018 (%)Variação em 2019 (%)
Índice Geral3,754,31
Alimentação e Bebidas4,046,37
Habitação4,723,9
Artigos de Residência3,74-0,36
Vestuário0,610,74
Transportes4,193,57
Saúde e cuidados pessoais3,955,41
Despesas pessoais2,984,67
Educação5,324,75
Comunicação-0,091,07

Nesses 21 anos de sistema de metas, em apenas três a inflação verificada ficou a uma distância menor do que 0,5 ponto da meta estipulada (2000, 2007 e 2009). Em todos os outros, quase sempre, o resultado veio acima do esperado.

A perspectiva de uma inflação bem controlada em meio a uma recuperação econômica morna favoreceria a perspectiva de que ainda não é necessário subir os juros, que terminaram 2019 em 4,5%, no menor patamar da história.

O corte de dezembro foi o quarto consecutivo desde o início do ciclo de afrouxamento monetário iniciado em julho. Esse movimento começou em meio a uma combinação de desemprego alto, baixo crescimento econômico, inflação controlada e avanço na agenda de reformas.

Em seus últimos comunicados, o Banco Central deixa em aberto se a instituição vai continuar reduzindo os juros em 2020 e qual seria o tamanho de um eventual novo corte.

Sobre isso, o comitê disse após a última reunião do Copom, em dezembro, que “seus próximos passos continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação”.

As próximas reuniões de decisão sobre a taxa básica de juros da economia estão marcadas para 4 e 5 de fevereiro. Pela previsão do Focus, a taxa estará em 4,25% no final do ano.

 

(IBGE/Divulgação)

Entre as regiões metropolitanas e capitais pesquisadas pelo IBGE, Belém foi a que registrou maior alta da inflação em 2019, de 5,51%, segundo o IBGE, que remete o avanço também ao preço das carnes. Fortaleza vem em seguida, com inflação de 5,01%. Depois, vêm Campo Grande (4,65%), São Paulo (4,60%) e Goiânia (4,37%), todas acima da média nacional.

A menor taxa de inflação foi observada em Vitória (3,29%), influenciada pela queda na energia elétrica, ressalta o instituto. Os outros menores índices foram registrados no Recife (3,71%), em Brasília (3,76%), Rio Branco (3,82%) e Salvador (3,93%).

Dezembro registrou maior inflação em 17 anos

O IPCA, que ficou em 1,15% em dezembro, não atingia um número tão grande para o mês desde 2002, quando a inflação foi 2,10%, segundo o IBGE. Esse resultado também teve influência do preço da carne.

No mês anterior, a inflação foi de 0,51%. Já em dezembro de 2018, a taxa foi de 0,15%.

Outros itens que pesaram no bolso do consumidor no mês foram combustíveis, com alta de 3,57%, e as passagens áreas, que subiram de 4,35% em novembro para 15,62% em dezembro. "Os jogos de azar (12,88%) também impactaram a inflação de dezembro, em função do reajuste nos preços das apostas, vigente desde novembro”, disse o gerente do IPCA.

Salário mínimo

O IBGE divulgou hoje também o resultado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) de dezembro e de 2019. O índice, calculado com base no rendimento das famílias que ganham de um a cinco salários mínimos e usado como referência para os reajustes salariais, fechou o ano com alta de 4,48%, acima dos 3,43% de 2018.

Em dezembro, a variação foi de 1,22%. Foi o maior resultado para o mês desde 2002, quando registrou 2,70%, segundo o Instituto.

O salário mínimo de 2020 foi fixado pelo governo em R$ 1.039, uma alta de 4,1% em relação aos R$ 998 fixados em 2019. Isso significa que o reajuste do piso para esse ano ficou abaixo da variação da inflação no período.

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