Economia

Inflação interrompe dois meses seguidos de queda e sobe 0,26% em junho

Alimentos foram a maior fonte de pressão junto a combustíveis, que subiram após apresentarem quedas nos últimos quatro meses, em especial da gasolina

Pessoas sentadas em um restaurante no bairro Vila Madalena, em São Paulo: mudança de perfil (Jonne Roriz/Getty Images)

Pessoas sentadas em um restaurante no bairro Vila Madalena, em São Paulo: mudança de perfil (Jonne Roriz/Getty Images)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 10 de julho de 2020 às 09h01.

Última atualização em 10 de julho de 2020 às 16h12.

A inflação no Brasil interrompeu dois meses seguidos de queda com variação de  0,26% em junho, de acordo com dados divulgados nesta sexta-feira (10) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A taxa medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) veio levemente abaixo da expectativa do mercado (0,29%). Com o resultado, o índice reverteu tendência de queda que vem sendo registrada desde o início do ano.

No acumulado de 12 meses até junho, o IPCA teve alta de 2,13%, bem abaixo da meta de inflação de 4% do governo para 2020, que tem tolerância de 1,5 ponto percentual baixo (2,5%) ou para cima (4,5%). No ano, o índice acumula alta de 0,10%.

Alimentos e combustíveis foram a maior fonte de pressão. Os combustíveis tiveram aumento em junho depois de quedas nos últimos quatro meses, em especial da gasolina, que teve o maior impacto individual (0,14 p.p.), com alta de 3,24%, disse o instituto. E a expectativa é que essa tendência siga sendo vista nos próximos meses:

"Esperamos que a recuperação dos preços internacionais do petróleo, bem como a recomposição da demanda chinesa por carnes continuem a impactar os preços ao consumidor no curto prazo", diz a consultoria 4E em relatório.

O dado dá um sinal ao mercado sobre os próximos passos da política monetária do Banco Central. Nesta semana, Roberto Campos Neto, presidente da instituição, disse que o impacto da atividade econômica no índice será determinante para decidir sobre outro corte na taxa básica. 

Os sinais de que o pior da crise ficou para os meses de abril e que o ritmo de retomada tem aumentado - sobretudo após o relaxamento das medidas de distanciamento social. -, foi visto também no estirão do varejo de 14% em maio, anunciado nesta semana, e na indústria, apesar da base de comparação baixa. 

Para o fim de 2020, a expectativa do mercado medida pelo Boletim Focus aponta para inflação de 1,63% em 2020 e de 3% em 2021.

Mesmo com o sinal de aceleração e perspectivas positivas para os preços no curto prazo, no entanto, as perspectivas para o crescimento da economia ainda são muito fracas, o que não impediria novos cortes na Selic, apesar de improvável, diz Alberto Ramos, economista-chefe paraAmérica Latina do Goldman Sachs, em relatório:

"Preocupações com a dinâmica cambial, fluxos de capital, pressões entre fundos de renda fixa, risco político e fiscal de médio prazo e o fato de a taxa já estar em um nível acomodatício sem precedentes podem limitar severamente (ou até eliminar) as possibilidades de flexibilização adicional", diz.

Grupos

Sete dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE apresentaram alta no mês, com destaque para Transportes, que vinham apresentando queda há quatro meses e em junho deram a segunda maior contribuição para a alta do índice, de 0,06 pontos porcentuais (veja na tabela).

O movimento do setor está intimamente ligado com a alta de preços dos combustíveis, que chegou nas bombas e impactou o consumidor final, explica Pedro Kislanov, gerente da pesquisa, no material de divulgação.

A principal contribuição para a alta do IPCA foi do grupo Alimentos e bebidas (0,38%), que vem apresentando aumentos em função da demanda elevada durante a pandemia, quando a atenção do consumidor esteve mais voltada para a compra de produtos essenciais. Em maio, o segmento já havia subido 0,24%. Além disso, a política de isolamento fez com que mais pessoas cozinhase em casa.

O item consumo no domicílio passou de 0,33% em maio para 0,45% em junho, pressionado por esse movimento e influenciado sobretudo pelos preços das carnes (1,19%) e do leite (2,33%).

Outro grupo que apresentou alta foi o Saúde e cuidados pessoais (0,35%). No lado das quedas, o instituto destaca a variação de Vestuário (-0,46%), que contribuiu com -0,02 p.p. no índice de junho. 

Variação em maio (%)Variação em junho (%)
Índice Geral-0.380.26
Alimentação e Bebidas0.240.38
Habitação-0.250.04
Artigos de Residência0.581.3
Vestuário-0.58-0.46
Transportes-1.90.31
Saúde e Cuidados Pessoais-0.10.35
Despesas Pessoais-0.04-0.05
Educação0.020.05
Comunicação0.240.75
Impacto em maio (%)Impacto em junho (%)
Índice Geral-0.380.26
Alimentação e Bebidas0.050.08
Habitação-0.040.01
Artigos de Residência0.020.05
Vestuário-0.03-0.02
Transportes-0.380.06
Saúde e Cuidados Pessoais-0.010.05
Despesas Pessoais0-0.01
Educação00
Comunicação0.010.04

(Com a colaboração de Alex Halpern)

 

 

Acompanhe tudo sobre:economia-brasileiraIBGEInflaçãoIPCA

Mais de Economia

ONS recomenda adoção do horário de verão para 'desestressar' sistema

Yellen considera decisão do Fed de reduzir juros 'sinal muito positivo'

Arrecadação de agosto é recorde para o mês, tem crescimento real de 11,95% e chega a R$ 201,6 bi

Senado aprova 'Acredita', com crédito para CadÚnico e Desenrola para MEIs