O preço que pagamos: a inflação, que há um ano estava em 10% ao ano, caiu para menos de 3% — e há quem diga que essa queda é um exagero (Alexandre Battibugli/Exame)
João Pedro Caleiro
Publicado em 10 de janeiro de 2018 às 09h09.
Última atualização em 10 de janeiro de 2018 às 13h26.
São Paulo - A inflação no Brasil foi de 0,44% em dezembro, a maior alta entre os meses do ano. Ainda assim, a inflação fechou 2017 em 2,95%, a menor taxa em quase duas décadas.
O acumulado anual foi o menor desde 1998, quando o IPCA foi de apenas 1,65%, e ficou 3,34 pontos percentuais abaixo dos 6,29% registrados em 2016.
Os números são medidos pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e foram divulgados na manhã desta quarta-feira (10) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A expectativa do mercado, na mediana de 26 estimativas compiladas pela Reuters, era de taxa mensal de 0,30% e taxa anual de 2,8%.
A meta para o IPCA de 2017 era de 4,5% com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima (6%) ou para baixo (3%).
Isso significa que a inflação ficou abaixo do piso da meta do governo pela primeira vez desde que o regime de metas de inflação foi estabelecido em 1999.
Grupos
O desemprego, o medo de ser demitido e a fraqueza da atividade econômica puxam a inflação para baixo pois reduzem o consumo das famílias e portanto a pressão de demanda.
No IPCA, o grande responsável pela queda da inflação é o grupo Alimentação e Bebidas, que responde por cerca de um quarto do índice e teve queda acumulada de 1,87% no ano.
Foi a primeira deflação alimentícia anual desde o início do Plano Real, consequência de uma safra 30% maior do que a de 2016, diz Fernando Gonçalves, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor, em nota do IBGE.
As frutas, por exemplo, caíram 16,52% e tiveram, sozinhas, o maior impacto negativo no acumulado anual: 0,19 ponto percentual negativo.
Também se destacam o feijão-carioca (queda de 46% com impacto negativo de 0,14 ponto percentual), o açúcar cristal (-22% e impacto de -0,09 p.p.) e o leite longa vida (-8,44% e impacto de -0,09 p.p.).
Na outra ponta, os três grupos que mais puxaram a inflação para cima foram Habitação, Transportes e Saúde e Cuidados Pessoais. Juntos, eles representaram 2,45 p.p., ou 83% da taxa final.
Em Habitação, a alta maior do que no ano anterior foi impactada por itens importantes no Orçamento como gás de botijão (alta de 16%), taxa de água e esgoto (10,52%) e energia elétrica (10,35%).
Em Saúde e Cuidados Pessoais, a pressão veio de grupos que pesam no bolso do brasileiro como os planos de saúde (alta de 13,53%) e dos remédios (4,44%).
Os Transportes, segundo grupo com mais peso no IPCA, teve como destaque a alta de 10,32% na gasolina.
A Petrobras começou em 03 de julho uma nova política de reajustes mais frequentes para acompanhar a taxa de câmbio e as cotações internacionais de petróleo e derivados.
Daquela data até 28 de dezembro, foram 115 reajustes nos preços da gasolina, acumulando 25,49% de aumento. Em julho também houve uma alta da alíquota do PIS/COFINS dos combustíveis.
Grupo | Variação 2016, em % | Variação 2017, em % |
---|---|---|
Índice Geral | 6,29 | 2,95 |
Alimentação e Bebidas | 8,62 | -1,87 |
Habitação | 2,85 | 6,26 |
Artigos de Residência | 3,41 | -1,48 |
Vestuário | 3,55 | 2,88 |
Transportes | 4,22 | 4,10 |
Saúde e cuidados pessoais | 11,04 | 6,52 |
Despesas pessoais | 8,00 | 4,39 |
Educação | 8,86 | 7,11 |
Comunicação | 1,27 | 1,76 |
Grupo | Impacto 2016, em p.p. | Impacto 2017, em p.p. |
---|---|---|
Índice Geral | 6,29 | 2,95 |
Alimentação e Bebidas | 2,17 | -0,48 |
Habitação | 0,45 | 0,95 |
Artigos de Residência | 0,14 | -0,06 |
Vestuário | 0,22 | 0,17 |
Transportes | 0,78 | 0,74 |
Saúde e cuidados pessoais | 1,23 | 0,76 |
Despesas pessoais | 0,85 | 0,47 |
Educação | 0,40 | 0,33 |
Comunicação | 0,05 | 0,07 |