Supermercado: previsão de inflação de 3,75% em 2020, com viés de alta (Germano Lüders/Exame)
Estadão Conteúdo
Publicado em 18 de novembro de 2020 às 13h50.
Última atualização em 18 de novembro de 2020 às 14h04.
O diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, afirmou nesta quarta-feira, 18, que a inflação no Brasil está "absolutamente sob controle". Questionado em evento virtual a respeito da possibilidade de uma hiperinflação no país, ele lembrou que a inflação em 2020 tende a terminar abaixo do centro da meta para o ano, de 4,00%.
"Até agora, se estamos tendo alguma dificuldade, é de levar a inflação ao centro da meta no horizonte relevante. Em 2020, a inflação dificilmente vai terminar o ano no centro da meta. Está por volta de 90 basis-points ("pontos-base") abaixo do centro da meta", comentou o diretor, que participou nesta quarta-feira de live promovida pelo jornal Valor Econômico. "Para 2021, apesar dos comentários, muito pouca gente acha que a gente vai conseguir entregar a meta (cujo centro é de 3,75%). Em 2022, as projeções de mercado estão absolutamente ancoradas no centro da meta (de 3,50%). Até com uma distribuição de frequência, está simétrica para baixo, inclusive para 2022, e as projeções do BC estão 20 basis-points abaixo do centro da meta", acrescentou.
Atividade
O diretor de Política Monetária do Banco Central avaliou que a reação da economia brasileira no terceiro trimestre do ano foi muito forte, melhor que o esperado, graças às medidas tomadas pelo governo durante a pandemia de covid-19. "É normal uma desaceleração no quarto trimestre, já que medidas vão terminando e perdendo força ao longo do tempo. A realidade econômica de hoje não é a do início de 2021. Não conseguimos perdurar no tempo com medidas com impacto fiscal, não temos capacidade de mantê-las por um tempo prolongado", afirmou.
Segunda onda
O diretor de Política Monetária do Banco Central avaliou que, onde uma segunda onda de contágio de covid-19 já está clara — como a Europa — os ativos financeiros não reagiram como no começo da pandemia. "As condições financeiras não foram apertadas como na primeira onda. Isso pode significar que a estrutura da economia já passou por uma adaptação e está reagindo melhor a essa segunda onda", afirmou.
Serra destacou que o desenrolar da pandemia no Brasil foi diferente do que ocorreu em outros países, o que dificulta previsões. "O primeiro choque foi desinflacionário na Europa, e não está claro se será assim na segunda onda. O diagnóstico não está claro", completou.
Cenário fiscal
O diretor de Política Monetária do Banco Central esclareceu que a avaliação do Comitê de Política Monetária (Copom), de que o regime fiscal permanece de pé para 2021, não é muito otimista. Para o diretor, esse é o cenário mais razoável.
"Naturalmente existem cenários em que as coisas mudam, nos quais o Executivo e o Congresso decidem algo diferente sobre o teto de gastos. Isso é possível, mas não é desejável. Nosso regime fiscal está escrito na Constituição, e mudar a Constituição está longe de ser uma coisa fácil, ainda mais em um tema dessa relevância", afirmou o representante do BC.
Autonomia do BC
O diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra Fernandes, negou que as mudanças no texto da lei de autonomia do BC aprovada pelo Senado tenham enfraquecido a atuação da autoridade monetária. "O texto aprovado foi muito adequado, com benefícios para a toda a economia, para a curva de juros, para a credibilidade do BC e da economia. Nos aproximamos de economias institucionalmente mais avançadas, o que é desejável", afirmou.