Economia

Inflação e juros altos explicam desaceleração, diz IBGE

O PIB do país não cresceu no terceiro trimestre deste ano

O aumento das exigências para a concessão de crédito, uma das medidas adotadas pelo governo no final de 2010, impactaram no financiamento para a compra de veículos (VEJA)

O aumento das exigências para a concessão de crédito, uma das medidas adotadas pelo governo no final de 2010, impactaram no financiamento para a compra de veículos (VEJA)

DR

Da Redação

Publicado em 6 de dezembro de 2011 às 12h15.

Rio de Janeiro – A inflação alta, a elevação da taxa de juros até julho deste ano e a adoção de medidas, pelo governo, para frear a economia no final de 2010 são algumas explicações para que o Produto Interno Bruto (PIB) do país não tenha crescido no terceiro trimestre deste ano, avaliou a gerente de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Rebeca Palis.

Entre as chamadas “medidas macroprudenciais” adotadas pelo governo federal no final de 2010 estão o aumento das exigências para a concessão de crédito, que impactaram, por exemplo, no financiamento para a compra de veículos. Isso fez com que as compras de automóveis fossem reduzidas nos primeiros meses do ano e os estoques das montadoras de veículos aumentassem.

Segundo Rebeca Palis, com o aumento dos estoques, as montadoras reduziram a produção de automóveis no terceiro trimestre deste ano e chegaram a dar férias coletivas. Essa queda foi um dos principais motivos que levaram à redução de 1,4% da produção na indústria de transformação e de 0,9% na indústria geral.

A elevação da taxa básica de juros (Selic) de 10,5%, no primeiro trimestre deste ano, para 12,2%, no terceiro trimestre, também contribuíram para a desaceleração da economia.

Apesar da queda na indústria de transformação, outros segmentos como a indústria extrativa mineral (com alta de 0,9%) e a construção civil (com alta de 0,2%) tiveram crescimento. A extrativa mineral foi influenciada pela produção de minério de ferro. Já a construção civil continuou seu bom desempenho, em virtude das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e das intervenções para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.


A queda na produção da indústria acabou afetando também o setor de serviços, que caiu 0,3%, com destaque para o comércio, que registrou redução de 1%. O que evitou que a economia brasileira registrasse queda no trimestre foi o crescimento de 3,2% da agropecuária, puxada pelo aumento da produtividade de safras como as do feijão, da laranja e da mandioca.

Segundo Rebeca Palis, a economia no terceiro trimestre apresentou uma mudança de comportamento, já que vinha de altas seguidas, como o crescimento de 0,7% no segundo trimestre e de 0,8% no primeiro trimestre deste ano.

“A gente teve uma desaceleração importante da taxa de crescimento, inclusive apresentando crescimento nulo, e houve até uma mudança da estrutura do que vinha acontecendo. Anteriormente, o crescimento da economia estava sendo puxado pelos serviços. Nesse terceiro trimestre, foi puxado pela agropecuária”, disse.

Sob a ótica da demanda, o consumo das famílias caiu em 0,1% na comparação do terceiro com o segundo trimestre deste ano, em parte devido à desvalorização da renda familiar por conta da alta da inflação, cuja taxa anualizada, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), chegou a 7,31% em setembro.

Na comparação com o terceiro trimestre do ano passado, o consumo das famílias continuou crescendo, pelo 32º trimestre consecutivo, mas a uma taxa mais baixa que em períodos anteriores. Se no primeiro e segundo trimestres, os crescimentos foram de 6% e 5,6%, respectivamente, no terceiro trimestre, a alta foi de apenas 2,8%.

O consumo do governo também caiu (-0,7%), bem como a formação bruta de capital fixo, isto é, os investimentos (-0,2%). “O crescimento [da economia] vinha sendo muito puxado pelos investimentos, muito devido à importação de máquinas e equipamentos, que vinha crescendo bastante. Os investimentos tiveram um desempenho pior que o consumo das famílias, o que não vinha acontecendo”, disse.

O crescimento das exportações foi o único elemento do PIB, sob a ótica da demanda, a apresentar crescimento (1,8%), na comparação do terceiro com o segundo trimestre, resultado que superou, inclusive, as importações, que tiveram queda de 0,4%.

Acompanhe tudo sobre:Crescimento econômicoDesenvolvimento econômicoEstatísticasGoverno DilmaIBGEIndicadores econômicosInflaçãoJurosPIB

Mais de Economia

ONS recomenda adoção do horário de verão para 'desestressar' sistema

Yellen considera decisão do Fed de reduzir juros 'sinal muito positivo'

Arrecadação de agosto é recorde para o mês, tem crescimento real de 11,95% e chega a R$ 201,6 bi

Senado aprova 'Acredita', com crédito para CadÚnico e Desenrola para MEIs