Dinheiro (Juliano703/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 28 de setembro de 2020 às 10h25.
Última atualização em 28 de setembro de 2020 às 11h41.
Indexador usado para corrigir contratos de aluguel de imóveis, o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) deve fechar o ano com variação até cinco vezes maior do que o índice que geralmente é usado como parâmetro para os reajustes de salários. O IGP-M já acumula alta de 13,02% nos 12 meses encerrados em agosto e a previsão é bater em 15,28% até dezembro, enquanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) deve ficar em 2,45%.
Se essas projeções se confirmarem, um contrato de R$ 3 mil com aniversário em janeiro de 2021 poderá chegar a R$ 3.458,40, caso não haja uma renegociação entre locador e locatório.
Calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), o IGP-M também bate com folga o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 12 meses, o indicador usado para medir a inflação oficial do País está em 2,44%.
A discrepância está ligada à metodologia de cálculo dos índices. "A primeira grande diferença é que o IGP-M não é um índice 'construído', mas sim a média ponderada de três outros índices", diz o economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da FGV.
O primeiro componente do IGP-M está ligado aos preços no atacado para produtores, com peso de 60%. Os preços no varejo para os consumidores têm peso de 30% e na construção civil, de 10%. A pressão atual está justamente no atacado - ou na "inflação da porta da fábrica", como dizem os economistas.
Com a pandemia, os preços de várias commodities subiram, em meio à demanda maior vinda de outros países. Apenas em agosto, a soja em grão subiu 7%. "A economia global puxa a demanda por commodities para cima e, por consequência, toda a cadeia de derivados", diz Braz. "A desvalorização cambial (alta do dólar) também tem pesado bastante. Ela foi de 30% nos últimos 12 meses e ganhou mais fôlego durante a pandemia."
Já o IPCA é calculado com base numa ampla base de preços ao consumidor. Se por um lado o preço do arroz ficou mais alto, por outro há queda de custos em serviços como hotelaria e passagens aéreas, por exemplo.
O movimento do IGP-M ocorre em meio à retração do emprego, da renda e do consumo no Brasil, na esteira da pandemia. "Não há como repassar este aumento de 13% para o aluguel. Não há explicação plausível para o aluguel ter uma correção tão alta por um índice que está sendo elevado por fatores não ligados ao mercado", afirma o diretor executivo da Rede Lopes, Matheus de Souza Fabrício.
Segundo ele, inquilinos comerciais e residenciais estão procurando, neste momento, os proprietários dos imóveis para renegociar os valores. "O locador muitas vezes sabe que não pode aumentar o valor da locação agora ou o inquilino sai. E a economia não está tão bem assim. Não é um momento tão bom para se exercer o contrato sob o ponto de vista de correção", diz.
Nas negociações, diz Fabricio, as correções têm ficado entre 2% e 3% - algo mais próximo do IPCA. Essas renegociações, segundo ele, estão ocorrendo principalmente entre os empresários e os proprietários de pontos comerciais, em um cenário de dúvidas sobre o ritmo de recuperação da economia após o isolamento social.