(Leandro Fonseca/Exame)
Carolina Riveira
Publicado em 27 de abril de 2022 às 13h06.
Última atualização em 29 de abril de 2022 às 10h28.
A prévia da inflação em abril, medida pelo IPCA-15, veio levemente abaixo do consenso do mercado: a variação no mês ficou em 1,73%, enquanto o consenso era de 1,84%.
Ter a inflação abaixo da expectativa foi visto como boa notícia, uma vez que os índices haviam aparecido acima das projeções do mercado nos últimos meses.
Ainda assim, a inflação no Brasil seguirá alta ao menos até o segundo semestre, e a prévia de abril é mostra do cenário difícil, puxado por alimentos e combustíveis. O acumulado em 12 meses ficou em 12,03%, muito acima do acumulado do mês anterior (10,79%).
A inflação mensal no IPCA-15 também foi a maior para abril desde 1995, quando o Plano Real ainda começava a se consolidar.
"A inflação está agora não só muito alta, como altamente disseminada", escreveu o banco Goldman Sachs em relatório nesta quarta-feira, 27. A projeção da instituição é que o IPCA siga acima de 10% até agosto.
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O IPCA-15 mede os preços entre meados do mês anterior e o mês em questão, e costuma caminhar lado a lado com a inflação definitiva, por isso é chamado de "prévia".
No caso de abril, os preços foram coletados entre 17 de março e 13 de abril, e comparados ao período anterior, entre 12 de fevereiro e 16 de março.
Abril foi, na prática, o primeiro mês em que as pressões inflacionárias decorrentes da guerra da Ucrânia se mostraram com mais força no mundo.
No Brasil, a queda momentânea do dólar em relação ao real não tem sido suficiente para atenuar as altas de preço (a moeda americana segue perto de R$ 5 na cotação atual, embora com risco de voltar a subir).
O Goldman aponta ainda que, nos próximos meses, pode haver um componente "inercial" de inflação, à medida em que contratos salariais, de imóveis e outros incorporam os aumentos do ano passado. Em 2021, mesmo antes da guerra, o IPCA já havia fechado o ano em 10,06%, uma das piores altas desde o Plano Real.
A inflação brasileira chegou aos dois dígitos em setembro do ano passado, e de lá nunca mais saiu (veja no gráfico abaixo).
A expectativa é que o IPCA termine o ano abaixo de 8%, segundo o boletim Focus divulgado nesta semana.
Mas as próprias projeções do mercado vêm subindo semana após semana, com pressões inflacionárias internas e externas sem dar trégua. O risco de que o país feche novamente o ano com IPCA perto de dois dígitos existe, apesar das altas sucessivas de juros do Banco Central.
A Selic está hoje em 11,75%, e novas altas são previstas para a próxima reunião do Copom, em 3 e 4 de maio.
Os combustíveis seguem sendo os principais vilões.
O grupo "Transportes" no IPCA, que inclui os combustíveis, subiu ao todo 3,43% só no mês de abril.
A gasolina, sozinha, subiu 7,51%, e foi o item que individualmente mais impactou a cesta do IPCA no mês. Diesel (13,11%) e etanol (6,60%) também tiveram fortes altas.
Na mesma linha, na frente "Habitação", o grande impacto veio do gás de botijão, que subiu sozinho 8,09% em abril. Em março, a Petrobras anunciou aumentos nos preços dos combustíveis e do GLP usado no gás de cozinha, o que se mostra nas altas ao consumidor, segundo o IBGE.
"A surpresa altista em relação à nossa projeção veio de “Habitação” e “Artigos de Residência”, que avançaram 1,73% e 0,94%, respectivamente, enquanto esperávamos 1,53% e 0,12%", escreveram analistas do banco Safra.
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A frente de "Alimentação e bebidas" surpreendeu "para baixo", afirmam os analistas do banco, sobretudo na frente de alimentação fora de casa, que desacelerou.
O grupo, ao todo, subiu 2,25% em abril, enquanto o subgrupo de "tubérculos, raízes e legumes" liderou e subiu quase 15% no mês.
Os alimentos também devem seguir com preços altos, segundo as projeções, em meio a problemas na safra, desafio dos fertilizantes, alta global das commodities agrícolas (como grãos) e os custos de frete com o preço dos combustíveis.