Economia

Inflação brasileira não chegava a dois dígitos desde 2002

Com esta alta, a inflação deve superar dois dígitos este ano, o que não acontecia desde 2002, quando ficou em 12,53%


	Inflação: “É um conjunto de fatores: inflação alta, juros altos, desemprego e inadimplência crescendo"
 (Marcelo Camargo/ABr)

Inflação: “É um conjunto de fatores: inflação alta, juros altos, desemprego e inadimplência crescendo" (Marcelo Camargo/ABr)

DR

Da Redação

Publicado em 29 de dezembro de 2015 às 09h06.

Os consumidores enfrentaram em 2015 um forte aumento dos preços, principalmente os administrados pelo governo, como energia elétrica, gasolina, gás, transporte público e alimentos.

Com esta alta, a inflação deve superar dois dígitos este ano, o que não acontecia desde 2002, quando ficou em 12,53%.

A previsão do Banco Central (BC) é que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegue a 10,8%, em 2015.

Além do reajuste nos preços administrados e de alimentos, a inflação em 2015 foi impactada também pela inflação no setor de serviços, e pela alta do dólar.

O diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac) Miguel de Oliveira lembrou que a inflação alta ocorre em ambiente de retração da economia e do emprego.

“É um conjunto de fatores: inflação alta, juros altos, desemprego e inadimplência crescendo. Então é um quadro extremamente desfavorável ao consumidor”, destacou.

Para 2016, a expectativa é de inflação menor, mas ainda alta. Para o diretor da Anefac, a inflação em 2016 deve ficar em 6,9%. O BC projeta 6,2%.

“Pode ser pior porque temos uma retração que segura o aumento de preços, mas temos a questão do câmbio”, disse. Oliveira destacou que se o dólar continuar a subir muito no próximo ano, sobem os preços de produtos importados e dos fabricados no país, mas com insumos do exterior.

Em 2015, o processo de ajuste de preços administrados, represado anteriormente pelo governo, foi mais intenso e mais longo do que esperado pelo BC.

Já o aumento dos preços de alimentos foi influenciado pela alta do dólar e por condições climáticas adversas.

Taxa Selic

Na tentativa de evitar que a inflação seguisse na trajetória de alta, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC elevou a taxa por sete vezes consecutivas.

Nas reuniões do comitê em setembro, outubro e novembro, o Copom optou por manter a Selic em 14,25% ao ano.

Ao reajustar a Selic para cima, o BC contém o excesso de demanda que pressiona os preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança.

Com as dificuldades do BC de controlar a inflação, economistas defendem que a ação do BC está menos eficaz devido à deterioração das contas públicas.

“A deterioração das contas fiscais e a dificuldade de ajustá-las de modo a permitir uma trajetória sustentável da dívida pública causaram perda da confiança dos agentes econômicos e forte desvalorização do real. O resultado foi elevação das expectativas inflacionárias e pressão altista nos preços correntes”, diz o documento Economia Brasileira – Edição Especial do Informe Conjuntural, elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

A CNI também cita, como um fator que reduz a eficácia da ação do BC, o aumento da participação do crédito direcionado no crédito bancário total (49% em outubro de 2015 ante 36% no início de 2007).

Como as taxas do crédito direcionado são inferiores à Selic e muito abaixo das taxas cobradas nos recursos livres, é preciso um aumento maior na taxa básica de juros para reduzir o volume de crédito necessário para a contenção da inflação.

“Portanto, para maior eficácia da política monetária é essencial equilibrar as contas públicas de modo a permitir a convergência da inflação à meta de forma vertiginosa e menos onerosa à atividade econômica”, acrescenta a CNI.

Meta 2016

O Conselho Monetário Nacional (CMN) definiu como meta de inflação 4,5% para 2015, 2016 e 2017, sendo que o limite de tolerância é de 2 pontos percentuais para 2015 e 2016, e 1,5 ponto em 2017.

Quando a meta é ultrapassada, o presidente do BC tem de enviar carta aberta ao ministro da Fazenda, com as explicações para o descumprimento. A última vez que isso aconteceu foi em 2003, quando a inflação atingiu 9,3%.

No dia 8 de janeiro, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará o IPCA de 2015.

Acompanhe tudo sobre:economia-brasileiraEstatísticasIndicadores econômicosInflaçãoSelic

Mais de Economia

Governo anuncia bloqueio orçamentário de R$ 6 bilhões para cumprir meta fiscal

Black Friday: é melhor comprar pessoalmente ou online?

Taxa de desemprego recua em 7 estados no terceiro trimestre, diz IBGE

China e Brasil: Destaques da cooperação econômica que transformam mercados