(Bloomberg/BLOOMBERG BUSINESSWEEK)
Leo Branco
Publicado em 9 de junho de 2021 às 07h10.
Última atualização em 9 de junho de 2021 às 14h07.
Os falcões da inflação (termo usado nos Estados Unidos para economistas defensores de uma postura mais combativa do Federal Reserve, o Banco Central americano, em sinais de alta da inflação) estão estressados com os legisladores do Federal Reserve, como o presidente da instituição, Lael Brainard, que continuam a dizer que o atual surto de inflação é provavelmente “transitório” – como Brainard voltou a afirmar no dia 1º. de junho em uma videoconferência realizada pelo Clube Econômico de Nova York.
O receio deles é que o Fed esteja ficando para trás, perdendo o controle da narrativa e permitindo que expectativas de inflação alta se instaurem nas mentes dos consumidores, empresários e atores dos mercados financeiros.
Porém, talvez as expectativas de inflação não estejam de fato subindo tão depressa assim. Talvez esses consumidores, executivos e corretores estejam olhando através do ruído do curto prazo e percebendo, corretamente, que é provável que inflação vá se estabilizar em um ritmo modesto nos próximos anos. Dê uma olhada nas duas linhas deste gráfico:
Sem dúvida, a linha de cima é um pouco preocupante. Ela mostra a inflação esperada para os próximos cinco anos um pouco acima de 2,4%, o que está visivelmente acima da meta do Fed, que é de 2%.
O Fed vem prometendo deixar a inflação flutuar acima de 2% durante um certo período indefinido, para compensar a longa temporada em que ela ficou abaixo de 2%; porém, ainda assim, uma taxa média de 2,4% ao longo dos próximos cinco anos é botar o índice um tanto para cima. As pessoas podem se acostumar com essa taxa, e pode ser difícil para o Fed reduzir as expectativas até mesmo para menos de 2%.
Certo, agora olhe para a linha na parte de baixo. Ela mostra expectativas de inflação pouco menores de 1,5% para os próximos cinco anos — abaixo do que o Fed vem buscando. Se a linha mais baixa estiver correta, o Fed vai ter muito trabalho pela frente para tentar aumentar as expectativas de inflação, e não para reduzi-las.
Ou seja, qual linha está certa? A de cima se baseia em apenas uma variável, a saber, a diferença entre o rendimento dos títulos ordinários de cinco anos do Tesouro dos EUA e o rendimento dos títulos do Tesouro protegidos pela inflação.
Essa lacuna, conhecida como taxa de equilíbrio (breakeven rate, no original em inglês), representa mais ou menos o que os participantes do mercado do Tesouro esperam que seja a inflação anual.
(Não é exata porque outros fatores podem ampliar ou estreitar a diferença de rendimento, como as preferências diversificadas dos investidores por liquidez. Os títulos comuns do Tesouro têm mais liquidez, ou seja, são mais fáceis de comprar e vender.)
O resultado, criado pelo Banco do Federal Reserve de Cleveland, sintetiza dados de mercado e de pesquisa, que incluem a inflação prevista dos preços ao consumidor da Blue Chip Financial Forecasts (previsão mensal de inflação elaborada pela editora holandesa-americana Wolters Kluwer); dados sobre swaps de inflação, que são derivativos negociados; dados atuais e prévios do índice de preços ao consumidor; títulos de curto e longo prazo do Tesouro; além das expectativas colhidas na Pesquisa com Analistas Profissionais (Survey of Professional Forecasters).
“Se as expectativas de inflação permanecerem razoavelmente bem ancoradas, esse é um fator que vai puxar a inflação de volta para baixo”, afirmou Robert Rich, que dirige o Centro de Pesquisa em Inflação do Fed de Cleveland, a meu colega Steve Matthews, da Bloomberg. “Contanto que elas fiquem estáveis, esse será um ponto crucial da história.”
Considerando-se os benefícios comprovados da diversificação, é mais provável o número composto do Fed de Cleveland estar certo do que o número de equilíbrio de uma fonte só do Tesouro. O Conselho de Presidentes do Federal Reserve tem um número composto com ainda mais dados, conhecido como Índice de Expectativas para a Inflação Comum, mas ele só é atualizado uma vez a cada trimestre. Ele estava em 2,01% no primeiro trimestre, antes da disparada do último temor inflacionário.
Em sua palestra de 1º de junho, Brainard disse que nem mesmo os títulos protegidos pela inflação do Tesouro (apelidados de TIPS, sigla em inglês para Treasury Inflation-Protected Securities) vêm desenhando um quadro alarmante.
“De fato”, disse ela, segundo as notas que preparou para seu comentário, “desde a divulgação dos dados do índice de preços ao consumidor de abril, a compensação do equilíbrio da inflação baseada nos TIPS dos próximos cinco anos, assim como aquelas para cinco anos – cinco anos adiante – têm se mexido para baixo, não para cima.
As medições dos TIPS sugerem que, na comparação com o período antes da divulgação dos números da inflação de abril, os participantes do mercado vêm exigindo menos compensações pela inflação esperada no prazo mais longo, em vez de mais.”
Brainard ressaltou que o emprego ainda está 8 milhões de postos abaixo em relação ao período pré-pandemia, o que significa que ainda há muito espaço para as pessoas voltarem ao trabalho e aliviarem a pressão sobre os salários.
Ela disse ainda que os veículos usados, passagens aéreas e acomodações representaram quase um terço do aumento mensal nos preços com consumo pessoal, excluindo alimentos e eletricidade em abril, mesmo que eles representem apenas 3% do cesto de mercado do consumidor. De modo que o ganho de preços foi limitado e idiossincrático.
Não há espaço aqui para abordar todas as discussões sobre a inflação. Mas outra fonte reconfortante é uma entrevista de Danielle DiMartino Booth, da Quill Intelligence, com David Rosenberg, presidente da Rosenberg Research, que diz gostar do método usado pelo Fed de Cleveland para medir as expectativas da inflação.
Aí vai um breve resumo de alguns dos argumentos dela sobre oferta e demanda:
Os falcões ainda podem estar certos no fim, mas, por ora, a fartura de evidências diz que a alta inflação atual é anômala e transitória.
Tradução por Fabrício Calado Moreira
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