Economia

Indústria do aço na China enfrenta crise sem precedentes

Com preços em queda e demanda enfraquecida, maior produtora mundial alerta para um cenário mais desafiador do que as crises de 2008 e 2015

China é responsável pela produção de 7% do aço mundial. (Getty Images/Getty Images)

China é responsável pela produção de 7% do aço mundial. (Getty Images/Getty Images)

Fernando Olivieri
Fernando Olivieri

Redator na Exame

Publicado em 14 de agosto de 2024 às 10h48.

A indústria siderúrgica da China, a maior do mundo, está diante de uma crise de magnitude superior às quedas registradas em 2008 e 2015. A situação foi descrita como um "inverno rigoroso" pelo presidente da China Baowu Steel Group, Hu Wangming, durante a reunião semestral da empresa. Em sua análise, Hu destacou a necessidade de preservar o caixa e minimizar riscos, sugerindo que a crise pode ser mais prolongada e difícil de superar do que o esperado, segundo informações da Bloomberg.

O impacto desse alerta já se reflete nos mercados de minério de ferro e aço, com os futuros do minério atingindo seus níveis mais bainduixos desde o ano passado e os preços das barras de reforço em Xangai despencando mais de 4%, atingindo o menor valor desde 2017. A crise no mercado de aço chinês, amplamente influenciada pela desaceleração do setor imobiliário e pela menor atividade industrial, tem gerado uma queda acentuada na demanda doméstica, levando os preços a mínimos históricos e acumulando perdas significativas nas siderúrgicas.

O alerta de Baowu, responsável por cerca de 7% da produção mundial de aço, deve preocupar produtores em todo o mundo, especialmente na Ásia, Europa e América do Norte, que precisam lidar com uma nova onda de exportações chinesas. A crise atual, diferente das anteriores, não conta com a perspectiva de grandes pacotes de estímulos econômicos, já que o presidente Xi Jinping busca redesenhar a economia do país, afastando-se de medidas que tradicionalmente impulsionaram a recuperação em crises passadas.

Impacto global

Durante a crise financeira global de 2008-2009 e a desaceleração de 2015-2016, a indústria do aço na China foi severamente afetada, mas recuperou-se através de estímulos massivos. Contudo, as condições atuais são diferentes, e o foco agora está em estratégias de mitigação de risco, com as siderúrgicas buscando reduzir despesas, fortalecer controles financeiros e evitar fraudes. A Baowu Steel Group enfatizou a importância de assegurar o caixa da empresa, ressaltando que "cash é mais importante que lucro" neste momento de incerteza.

Enquanto as siderúrgicas lutam para se manter viáveis, os estoques de minério de ferro estão aumentando, e o preço das barras de aço, usadas na construção, atingiu o nível mais baixo desde 2017. A produção de aço está se tornando cada vez mais inviável, pressionando as usinas a reduzir a produção. Paralelamente, as exportações chinesas de aço estão em alta, projetadas para ultrapassar 100 milhões de toneladas em 2024, o maior volume desde 2016, aumentando a concorrência e pressionando ainda mais os preços no mercado global.

Essa crise na indústria do aço é um reflexo das complexas dinâmicas econômicas da China e representa um desafio não apenas para as siderúrgicas chinesas, mas também para os mercados globais que dependem de sua produção. As siderúrgicas fora da China, particularmente na Europa e na América do Norte, precisarão ajustar suas estratégias para lidar com a pressão crescente das exportações chinesas e a volatilidade dos preços no mercado global de aço.

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