Plantação de cana-de-açúcar: 18 milhões de toneladas a mais na nova safra (Cristiano Mariz/Exame)
Da Redação
Publicado em 22 de novembro de 2011 às 19h03.
São Paulo - A indústria de cana do Brasil já viveu um boom, mas agora está tendo de lidar com seus próprios limites e restringir suas expectativas irrealistas, depois de uma colheita frustrada e de um ambiente de investimentos ainda incerto.
Depois de anos de euforia que terminou com o auge da crise financeira em 2008, a indústria está adotando agora uma postura mais cautelosa quando fala de projeções para a produção de açúcar e etanol ao longo dos próximos anos. As previsões de demanda, porém, continuam brilhantes.
"Nós estamos revendo nossas metas de produção, e se os retornos não melhorarem, a expansão da produção será lenta", disse André Rocha, diretor da associação da indústria de cana do Estado de Goiás.
Rocha falou no intervalo de conferência da Datagro durante a Sugar Week do Brasil, que reúne centenas de traders, produtores e compradores de todo o mundo.
Goiás é o terceiro maior produtor de cana no centro-sul, região que responde por cerca de 90 por cento da produção de açúcar e etanol do Brasil. O sentimento é similar na região.
Para atender a demanda da crescente frota de carros flex fuel nacional e o ascendente consumo global de açúcar, a produção de cana do Brasil teria de crescer de 555 milhões de toneladas desta temporada para 886 milhões de toneladas em 2015/16.
O cálculo da indústria leva em conta que 50 por cento da frota de veículos leves do país estaria usando o combustível à base de cana.
Mas a meta, que parecia factível no ano passado, agora foi abandonada.
"Já sabemos que não chegaremos lá quando esperávamos", disse Marcos Jank, o presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), afirmando que a meta agora foi rebaixada para 785 milhões de tonelada em 2015/16.
A meta de 1,2 bilhão de toneladas de cana para 2020/21, entretanto, ainda é vista como possível.
Competitividade - Jank disse que, no médio prazo, o crescimento da produção depende fortemente do restabelecimento da competitividade do etanol hidratado no mercado brasileiro.
O etanol hidratado, que respondia por mais da metade do consumo da frota de veículos leves do Brasil poucos anos atrás, agora corresponde a apenas 36 por cento, de acordo com a Unica, por conta do aumento dos preços do biocombustível na bomba.
O controle governamental sobre os preços de gasolina, que está praticamente estável desde 2005 na bomba, na prática, impôs um limite aos preços de etanol, reduzindo a rentabilidade das usinas em um momento de custos elevados de produção.
As autoridades estão trabalhando em nova regulação para o mercado de etanol e alguns incentivos, como cortes de impostos e linhas de crédito. Embora alguns anúncios tenham sido feitos em maio, quase nenhuma medida foi adotada até o momento.
O setor de cana do Brasil cresceu a uma taxa anual de 10 por cento até 2008, quando a maior parte das companhias foi severamente afetada pela crise financeira.
A taxa de crescimento despencou para 3 por cento, mas nesta temporada a safra vai registrar uma queda devido ao clima adverso e aos poucos investimentos no replantio de cana.
O maior grupo de açúcar e etanol do Brasil, a Cosan também está postergando metas que haviam sido definidas no início de 2010.
O grupo esperava atingir uma capacidade de esmagamento de cana de 100 milhões de toneladas até 2015/16, mas a meta agora é improvável devido aos altos custos de novas usinas e aos altos preços dos ativos existentes, disse o presidente-executivo da companhia, Marcos Lutz.
A Cosan atualmente tem mais de 20 usinas com uma capacidade total de moagem de 65 milhões de toneladas de cana por ano.
"Provavelmente, não faremos quatro unidades, esses greenfields (novas unidades) devem acontecer parcialmente... Provavelmente, não faremos no período, teríamos que estar fazendo e não tivemos condições econômicas para fazer isso", afirmou Lutz, em entrevista a jornalistas, na segunda-feira à noite, após participar de evento do Cosan Day, em São Paulo.