Economia

Indústria corta 1,026 milhão de vagas; construção demite 702 mil

Total de trabalhadores da indústria caiu 8,2% entre setembro e novembro deste ano em relação ao mesmo período do ano passado

Indústria: setor foi um dos mais afetados pela recessão econômica (Dado Galdieri/Bloomberg)

Indústria: setor foi um dos mais afetados pela recessão econômica (Dado Galdieri/Bloomberg)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 29 de dezembro de 2016 às 14h18.

Rio de Janeiro - Em meio à persistência da crise na produção, a indústria permanece eliminando empregados no País.

A atividade cortou 1,026 milhão de trabalhadores no período de um ano, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O total de ocupados na indústria recuou 8,2% no trimestre encerrado em novembro ante o mesmo período do ano anterior.

"A indústria foi o grupamento que mais sentiu essa crise, é uma das maiores vítimas. Hoje você tem uma queda de cerca de um milhão de pessoas no contingente de trabalhadores da indústria, mas você está comparando com um ano em que o setor já estava em crise, que a situação já era crítica. Então você tem na indústria a queda de um milhão sobre uma base de comparação que já estava desgastada", ressaltou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.

Segundo Azeredo, as demissões na indústria preocupam porque atingem não apenas os trabalhadores diretos, mas também os indiretos e terceirizados, como prestadores de serviços ocupados em funções como motoristas, faxineiros, seguranças.

O setor de Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas - que inclui alguns serviços prestados à indústria - registrou um corte de 256 mil vagas em um ano, 2,6% de ocupados a menos.

Já a construção extinguiu 702 mil postos de trabalho em novembro ante um ano antes, queda de 9,0% na ocupação no setor.

"A construção é um grupamento que está muito ligado ao poder de compra da população. Com o cenário de recessão no País e a política econômica no sentido de reduzir o poder de compra da população, consequentemente as pessoas não vão investir na construção. Não é só comprar apartamento, é fazer uma obra, reformar a casa, pintar a parede todo fim de ano, consertar uma porta, as pessoas não vão fazer isso", justificou Azeredo.

O comércio, que costuma contratar funcionários temporários no fim do ano, dispensou 178 mil empregados no trimestre encerrado em novembro ante o mesmo período do ano anterior.

"Mas o comércio tem uma preparação (de contratação de temporários) mais para dezembro mesmo", ponderou Azeredo.

Outras atividades com corte de vagas foram agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-438 mil empregados) e serviços domésticos (-194 mil empregados).

"O emprego doméstico é um serviço que muitas vezes pode ser dado como possibilidade de luxo para alguns extratos de renda da população. Se essa população tem o poder de compra menor, com essa perda de renda efetiva uma das primeiras coisas que ela vai fazer é abrir mão do emprego doméstico", explicou o coordenador do IBGE.

Por outro lado, houve aumento em novembro no contingente de trabalhadores de alojamento e alimentação (+346 mil empregados), administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (+125 mil vagas), outros serviços (+287 mil pessoas) e transporte, armazenagem e correio (+103 mil ocupados).

Carteira assinada

O mercado de trabalho no País perdeu 1,323 milhão de vagas com carteira assinada no período de um ano. O total de postos de trabalho formais no setor privado encolheu 3,7% no trimestre encerrado em novembro, ante o mesmo período do ano anterior, segundo o IBGE.

Já o emprego sem carteira no setor privado teve aumento de 3,5%, com 350 mil empregados a mais. O total de empregadores aumentou 4,0% ante o trimestre encerrado em novembro de 2015, com 162 mil pessoas a mais.

O trabalho por conta própria encolheu 3,0% no período, com 673 mil pessoas a menos nessa condição.

"Ou seja, aqueles negócios que aquelas pessoas montaram com aquele dinheiro da rescisão do contrato, demitidas do setor privado, parece que não vingaram. Isso já vem acontecendo há alguns meses", explicou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.

Houve redução ainda de 157 mil vagas na condição do trabalhador doméstico, 2,5% de ocupados a menos nessa função. A condição de trabalhador familiar auxiliar também encolheu, -13,6%, com 331 mil ocupados a menos.

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