Economia

Indexação perde força na economia brasileira

A economia brasileira parece ter alcançado um novo estágio na luta contra a inflação

COMÉRCIO: a fraqueza da inflação brasileira já havia ficado evidente no ano passado quando o IPCA avançou apenas 2,95%, menor taxa desde 1998 /  (Oli Scarff/Getty Images)

COMÉRCIO: a fraqueza da inflação brasileira já havia ficado evidente no ano passado quando o IPCA avançou apenas 2,95%, menor taxa desde 1998 / (Oli Scarff/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 12 de março de 2018 às 17h17.

Última atualização em 12 de março de 2018 às 17h23.

Desde os tempos de hiperinflação, a prática de aumentar os preços com base em reajustes passados foi um dos principais entraves para que o Brasil atingisse um patamar inflacionário mais civilizado. Agora, a economia brasileira parece ter alcançado um novo estágio na luta contra a inflação: a taxa de fevereiro, de alta de 0,32%, foi a menor para o mês nos últimos 18 anos. Os últimos números divulgados reforçam um cenário positivo e indicam que a indexação na economia brasileira está perdendo força.

São várias as razões que têm levado à perda de força da indexação no Brasil. Os preços estão subindo menos do que o esperado, o que limita qualquer tipo de repasse. Diante dos primeiros resultados do ano, os economistas trabalham com a expectativa de que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) alcance o patamar de 3,5%, abaixo das previsões iniciais de 4%.

A fraqueza da inflação brasileira já havia ficado evidente no ano passado quando o IPCA avançou apenas 2,95%, menor taxa desde 1998. O resultado foi influenciado pela queda no preço dos alimentos, resultado da supersafra; pela recessão, responsável por promover um ajuste nos gastos das famílias e nos preços dos serviços; e pela capacidade do Banco Central de ancorar as expectativas inflacionárias com a política monetária.

“É provável que o País tenha uma dinâmica cada vez mais favorável para a inflação, inclusive com a ajuda da menor indexação”, afirma Mirella Hirakawa, economista do banco Santander.

Neste ano, o aumento mais contido do salário mínimo também tem um papel fundamental para a fraqueza da indexação. O governo reajustou o valor em 1,81%, para 954 reais, portanto, abaixo da variação do IPCA. O salário mínimo baliza toda a economia e serve de referência para o pagamento de diversos benefícios do governo.

Todo esse cenário ainda tem a contribuição da política de reajuste dos preços de combustíveis promovida pela Petrobrás e das bandeiras tarifárias do setor elétrico. São medidas adotadas que deixaram a inflação mais previsível. Antes, o aumento desses preços administrados era “descarregado” de uma só vez. Agora, os repasses – quando ocorrem – são mais disseminados ao longo do ano, deixando os índices mensais mais estáveis. Em 2017, os preços administrados subiram 8%. Neste ano, a alta deve ser de 5%.

“A indexação está sendo comida pelas beiradas com essa nova política de preços”, afirma Heron do Carmo, professor de economia da Faculdade de Economia e Administração, da Universidade de São Paulo (FEA/USP). “Pela primeira vez em 70 anos, o Brasil está numa situação em que é possível manter uma inflação em torno de 3%”, diz.

Nos últimos anos, a economia brasileira sempre flertou com uma inflação próxima de 6%. Isso sem levar em conta alguns períodos em que a situação chegou a ser mais grave. Em 2015, como reflexo do represamento dos preços administrados, o IPCA subiu 10,67%.

“Com a inflação mais baixa, é provável que os reajustes de contratos sejam mais esparsos, até mesmo no setor público”, afirma Heron. “Os aumentos deverão ser aplicados a cada dois ou três anos, o que deve ajudar a reduzir a pressão na economia e a ancorar a inflação.”

No relatório Focus, elaborado pelo Banco Central e que colhe a expectativa de uma centena de economistas, as projeções mais otimistas de longo prazo apontam a inflação rondando a faixa de 3,5% até 2022. A mediana das projeções vê o IPCA próximo de 4%.

Se esse novo patamar inflacionário for confirmado, o Brasil deve passar a conviver com a taxa básica de juros em um nível mais baixo para os padrões históricos do país e os recursos aplicados na renda fixa devem migrar para o mercado de crédito e de capitais, tornando mais acessível a captação pelas empresas. “Esse efeito, se bem direcionado, sem gerar bolhas especulativas, pode fazer muita diferença na economia”, afirma Márcio Garcia, professor do departamento de economia da Pontifícia Universidade Católica, do Rio de Janeiro (PUC/Rio). “O crédito e o mercado de capitais podem ajudar muito o processo de crescimento econômico.”

A expectativa do mercado é que a Selic recue do atual patamar de 6,75% e encerre este ano em 6,50%, menor nível da história. Para 2019, a projeção é de alta, com a taxa de juros subindo a 8%.

Risco eleitoral. Embora positiva e inédita, a nova realidade inflacionária do Brasil passa pela eleição presidencial deste ano para ser chancelada. O país enfrenta uma crise fiscal e o próximo presidente vai ter de dar sequência ao processo de ajuste para garantir a estabilidade economia.

O cenário atual de bancos e consultorias indica a vitória de um candidato reformista. Se um nome populista for eleito, ocorreria uma piora de percepção de risco da economia brasileira, segundo especialistas, o que colocaria a perder todas as conquistas. Nesse cenário, o risco-País subiria, haveria depreciação cambial, com consequente impacto no aumento da inflação e dos juros.

“Será necessária um política econômica responsável com um tratamento para as contas fiscais e uma evolução para evitar medidas populistas, como congelamento de preços”, afirma Marcio Milan, economista da Tendências Consultoria Integrada.

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