Companhias elétricas: "Tendo alavancagem maior ao longo do ano, limita a capacidade delas de fazer novos investimentos"
Reuters
Publicado em 25 de novembro de 2016 às 15h53.
São Paulo - Novas incertezas no cenário macroeconômico, como a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos e o reavivamento da tensão política no Brasil, poderão atrapalhar a recuperação prevista de algumas companhias elétricas brasileiras altamente alavancadas e mantê-las na ponta vendedora do mercado em 2017.
Esse cenário, que repetiria uma situação vivida neste ano, quando diversas empresas buscaram venda de ativos para reduzir dívidas, ocorreria no caso de se confirmar a expectativa de alguns de queda mais lenta dos juros no país, que teria impacto no ritmo da retomada econômica.
O dólar já subiu cerca de 8 por cento ante o real desde a vitória de Trump nas eleições, sendo impulsionado nesta sexta-feira pelas notícias relacionadas à queda do ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, que deixou o cargo após ser acusado de pressionar o ex-ministro da Cultura para que este autorizasse uma obra de seu interesse na Bahia.
A pressão no câmbio pode tornar mais lenta a queda nas taxas de juros do Brasil, em meio à pressão inflacionária de um dólar mais caro, o que seria prejudicial a empresas com grandes dívidas, como é o caso de muitas companhias de energia elétrica.
"Tendo alavancagem maior ao longo do ano, limita a capacidade delas de fazer novos investimentos. Pelo contrário, até em muitos casos aumenta a tendência a desinvestir, vender ativos para fazer liquidez. De fato, o mercado de fusões e aquisições foi bastante agitado em 2016 e continua (para 2017)", afirmou à Reuters o chefe de project finance em energia do banco Itaú BBA, Marcelo Girão.
O diretor da consultoria Excelência Energética, Erik Rego, concorda com a avaliação e aposta que o cenário favorece as companhias asiáticas como potenciais compradoras no mercado, devido ao preço menor dos ativos em dólar e ao interesse estratégico dos orientais no país.
Outras empresas estrangeiras, principalmente as que já têm presença no país, também poderão aproveitar oportunidades nesse ambiente, afirmou o professor de Finanças do MBA em Setor Elétrico da Fundação Getulio Vargas, Andriei Beber.
"É um ciclo que pode ser complicado, de fato essa consolidação do mercado em torno de grandes players, e muito provavelmente grandes players de capital internacional, parece que não encerra em 2016, continua em 2017", disse.
"Infelizmente, como o momento é de crise, em princípio existe uma grande chance de que esses ativos sejam mal vendidos, ou vendidos baratos demais", comentou.
Entre as elétricas que já anunciaram que tentarão vender ativos em 2017 estão a mineira Cemig e a estatal federal Eletrobras, ambas com o objetivo de reduzir elevadas dívidas.
Erik, da Excelência Energética, avalia que a crise atual pela saída dos ministros, mesmo somadas as preocupações vindas dos EUA, é menor do que a vivida anteriormente no Brasil, antes do impeachment de Dilma Rousseff.
O ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, que pediu demissão após acusar Geddel de pressionar por favores pessoais, disse à Polícia Federal que Temer teria tentado fazê-lo ceder às pressões de Geddel, o que o presidente negou por meio de um porta-voz.
"Tem essa crise com o Temer, mas já teve pior mais recente, acho difícil piorar ainda mais a situação financeira para o setor... o que pode fazer é retardar o crescimento, isso pode acontecer com os dois efeitos combinados, Trump e a situação política", afirmou Erik.
Girão, do Itaú BBA, afirmou que o risco seria a instabilidade política dificultar a aprovação das reformas no Brasil, como o teto de gastos públicos e a reforma da Previdência que o governo Temer pretende aprovar.
"O cenário político está um pouco mais volátil, e é fundamental que exista ainda coesão para aprovação das reformas... em cenário de atraso de aprovação das reformas, eu acho que de fato afeta de maneira mais relevante", disse.