Economia

Incerteza e excesso de shoppings eleva rotatividade de lojas

Segundo Alshop, rotatividade média nos shoppings aumentou para 10% das lojas em 2014, ante taxa de 6 a 7 por cento nos últimos três a quatro anos


	Consumidora caminha em shopping center de Recife: de cada 100 lojas em shoppings, 10 fecharão e darão lugar a outras durante o ano
 (REUTERS/Bruno Domingos)

Consumidora caminha em shopping center de Recife: de cada 100 lojas em shoppings, 10 fecharão e darão lugar a outras durante o ano (REUTERS/Bruno Domingos)

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Da Redação

Publicado em 2 de outubro de 2014 às 23h02.

Rio de Janeiro/São Paulo - As incertezas do cenário econômico e o elevado número de inaugurações de shopping centers nos últimos anos vêm aumentando a rotatividade de lojas nesses empreendimentos, com o maior impacto sendo sentido por lojistas de menor porte, dizem especialistas do setor.

Segundo a Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), a rotatividade média nos shoppings aumentou para 10 por cento das lojas em 2014, ante taxa de 6 a 7 por cento nos últimos três a quatro anos.

Na prática, isso significa que de cada 100 lojas em shoppings, 10 fecharão e darão lugar a outras durante o ano.

"Este ano estamos tendo uma movimentação muito maior de saída de lojistas dentro dos empreendimentos", disse à Reuters o presidente da associação, Nabil Sahyoun, lembrando que nos últimos três anos, incluindo 2014, o país viu a inaguração de cerca de 100 shoppings.

A associação do setor, Abrasce, prevê encerrar o ano com 521 shoppings no país. Há oito anos, eram 351.

Para Sahyoun, o fechamento de lojas também está ligado às incertezas econômicas, em um cenário de menor crescimento do consumo e com maior impacto para os pequenos lojistas, que respondem por 75 por cento dos pontos de venda nos shoppings.

Segundo dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as vendas no varejo do país em julho tiveram o pior resultado desde outubro de 2008, contribuindo para o setor não registrar crescimento por seis meses.

Já em agosto, segundo dados do setor compilados por Cielo e IDV, houve alta nas vendas, compensando a fraqueza vista em julho.

"Dentro dos shoppings, a gente atingiu situação de muitos pequenos lojistas que ficaram em situação de atraso, inadimplência, porque o movimento das lojas não aconteceu", disse Sahyoun.

A situação foi enfrentada, por exemplo, por uma franqueada de uma rede de vestuário feminino em shopping da BR Malls em Juiz de Fora (MG).

"Os custos são muito altos e depois (de algum tempo após a inauguração) as vendas caíram", disse a comerciante que manteve a loja por cinco anos antes de fechá-la, pedindo para não ser identificada.

Quando o contrato venceu e o aluguel ia aumentar, ela optou por fechar as portas. "Os grandes não têm custo alto igual ao que a gente tem. Eles são isentos de taxas. O aluguel deles é mais barato porque eles chamam clientes. O pequeno paga pelo grande", acrescentou.

Empresas de maior porte também se desfizeram de pontos em shoppings neste ano. A Inbrands - dona de marcas com presença maciça em shoppings - encerrou o segundo trimestre com cinco lojas próprias a menos da Ellus ante igual período do ano passado.

Para a marca Mandi, a redução foi de quatro pontos, para a Salinas, de três. Richards e Selaria Richards, por sua vez, somaram quatro lojas a menos.

Questionada sobre o cenário de rotatividade em shoppings, a companhia, que também controla marcas como VR e Bobstore, se limitou a informar que, contabilizadas todas as lojas abertas e fechadas, registrou diminuição líquida de seis pontos próprios no período, sendo dois em shoppings.

A receita líquida da empresa no segundo trimestre caiu 6,2 por cento na comparação anual, a 189,2 milhões de reais.

Desde o começo do ano, a varejista de moda Marisa também encerrou atividades de quatro unidades em shoppings do país. Os pontos foram fechados em empreendimentos de Ribeirão Preto (SP), Barueri (SP), Caxias do Sul (RS) e Vitória da Conquista (BA).

À Reuters, a companhia informou que a decisão fazia parte de sua estratégia de negócio, "uma vez que se tratavam de lojas com pouco impacto de venda e alto custo de operação".

No saldo geral, contudo, a empresa terminou junho com 413 lojas, avanço ante as 380 de um ano antes.

Na avaliação do vice-presidente financeiro da Guararapes, Tulio Queiroz, há "mudanças importantes" na dinâmica das satélites (lojas menores) em shoppings, mas a disputa por crescimento no ambiente das lojas âncoras (grandes redes de varejo) continua forte.

A Guararapes controla a varejista de moda Riachuelo.

"Podemos observar que todos os principais concorrentes que operam âncora mantêm seus níveis de investimento, mantêm seus planos de expansão; temos agora a chegada de alguns grupos internacionais", afirmou o executivo em agosto, em teleconferência de resultados.

Reflexo para Shoppings

Enquanto mudanças no ambiente econômico vêm afetando a rotatividade nos shoppings de maneira geral, seu impacto sobre a ocupação de empreendimentos já estabelecidos tem sido nulo, disse o analista do banco Fator Tales Paes.

"Entre as grandes companhias de shoppings, em 2013 e 2014, a taxa de ocupação de áreas têm tido zero reflexo de desaceleração econômica e aferrecimento do varejo", disse Paes, acrescentando que o processo de troca de lojas é frequente.

A taxa de ocupação das empresas listadas no segundo trimestre variou entre 94,5 por cento, no caso da Sonae Sierra e 98,4 por cento, da Multiplan.

"Quando avaliamos as vendas de grandes companhias, ainda vemos uma resiliência muito grande. Na nossa visão, se o nível de vendas continuar o mesmo em 18 meses, não vemos razão para que o aluguel seja um problema", disse.

Os empreendimentos mais recentes, no entanto, mostram um sinal de alerta para o setor, tanto é que as companhias colocaram o pé no freio no lançamento de novos projetos.

De acordo com uma pesquisa do Ibope divulgada em maio deste ano, a taxa média de vacância nos 36 empreendimentos inaugurados no ano passado foi de 50 por cento.

Entre os shoppings inaugurados a partir de setembro, a taxa média de ocupação em 21 deles foi de 38 por cento.

Para o superintendente de relações com investidores da Aliansce, Eduardo Prado, o cenário é desafiador diante do aumento da oferta de empreendimentos e da situação da economia.

"Você tem que ter um mix completo para atrair o consumidor para estar cada vez mais dentro do shopping. Estando lá dentro, facilita muito o desempenho do shopping", disse.

A companhia abriu cinco empreendimentos entre 2012 e 2013 e vem trabalhando para "rentabilizar ainda mais estes ativos", afirmou o executivo.

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