Pessoas passam por uma loja fechada durante o bloqueio em Leicester, Inglaterra, em 1º de julho de 2020 (Darren Staples/Getty Images)
Bloomberg
Publicado em 1 de julho de 2020 às 13h35.
Última atualização em 1 de julho de 2020 às 19h13.
Os danos causados no mercado de trabalho global pela pandemia de coronavírus se mostram piores do que o inicialmente estimado. Segundo a Organização Internacional do Trabalho, será impossível reverter a situação no segundo semestre de 2020, mesmo no cenário mais otimista.
As horas de trabalho no segundo trimestre mostraram queda de 14% em relação ao nível antes do vírus, o que equivale a uma perda de 400 milhões de empregos em período integral, informou a organização com sede em Genebra. O forte aumento em relação à estimativa anterior de 305 milhões de empregos perdidos reflete uma piora nas últimas semanas, especialmente nas regiões em desenvolvimento, afirmou o documento.
Os dados reforçam evidências de que o impacto econômico do vírus está sendo desproporcionalmente sentido pelos menos favorecidos, agravando as desigualdades sociais e de riqueza existentes. Embora alguns empregos retornem, a demanda fraca pode persistir em muitos setores e uma recuperação total é improvável por algum tempo.
Formuladores de políticas devem prestar atenção especial “aos mais vulneráveis, desfavorecidos e mais afetados pela pandemia“, disse o diretor-geral da OIT, Guy Ryder. “Todos reconheceram que as desigualdades, a precariedade de muitos milhões de vidas profissionais das pessoas ficaram muito claras com a pandemia, e esses déficits deixaram custos humanos terríveis.”
A América do Sul sofreu a pior deterioração nos últimos três meses, onde a queda de horas trabalhadas foi superior a 20%, segundo a OIT. Na Ásia e no Pacífico, a redução foi de 13,5%, sendo a região com o maior impacto em números absolutos.
Os problemas crescentes nessas regiões estão alinhados com a mudança do epicentro da pandemia que matou mais de 500 mil pessoas no mundo todo. Primeiro, foi a China, depois, a Europa, e agora países em desenvolvimento com sistemas de saúde mais precários, como Brasil e Índia, sentem o impacto. Os EUA também registram aumento de casos em ritmo recorde.
As mulheres foram mais atingidas do que os homens pela crise, ameaçando desfazer alguns dos ganhos em igualdade de gênero obtidos antes da crise, disse a OIT. Um grande número delas trabalha nos setores mais afetados, como alojamento, serviços de alimentação e varejo. As mulheres também foram mais frequentemente afetadas por demandas crescentes para cuidar dos filhos durante a crise.
As perdas do mercado de trabalho registradas até agora não serão revertidas no segundo semestre, mesmo sob as premissas mais otimistas da OIT. No cenário básico, as horas de trabalho ainda cairiam 4,9% no quarto trimestre em comparação com o ano anterior, o equivalente a 140 milhões de empregos em período integral.