Economia

Imigrantes criam mais empregos do que tomam, diz estudo

Imigrantes aumentam competição mas também estimulam demanda da economia local - e 1,2 emprego novo aparece para cada recém-chegado, diz estudo do NBER

Imigrantes no departamento de Imigração dos Estados Unidos em Phoenix, Arizona (Samantha Sais/Reuters)

Imigrantes no departamento de Imigração dos Estados Unidos em Phoenix, Arizona (Samantha Sais/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 5 de maio de 2015 às 12h23.

São Paulo - Um imigrante a mais é um emprego a menos. Certo?

Errado - pelo menos de acordo com um estudo publicado em abril pelo Escritório Nacional de Pesquisa dos Estados Unidos (NBER, na sigla em inglês) por Gihoon Hong, da Universidade de Indiana, e John McLaren, da Universidade de Virginia.

A literatura econômica (e os políticos) costumam olhar a imigração do ponto de vista da oferta de trabalho. A chegada de estrangeiros aumentaria o estoque de trabalhadores disponíveis, criando competição com os nativos e achatando os salários.

Mas há o outro lado da moeda. Como os recém-chegados são ao mesmo tempo novos consumidores, eles também aumentam a demanda por trabalho - por mais garçons, vendedores, professores e tudo mais.

O que Hung e McLaren fizeram foi criar um modelo econômico que divide a economia local em dois setores: os "transacionáveis" (produtos e serviços que podem vir do mercado global) e os "não-transacionáveis" (que são por definição 100% locais, como um corte de cabelo).

O efeito da imigração no emprego foi medido usando dados do Censo de várias áreas metropolitanas dos Estados Unidos em três momentos: 1980, 1990 e 2000. A suposição, baseada em outros estudos, é que a chegada de imigrantes não causa uma saída de locais.

A conclusão: "cada imigrante criou 1,2 empregos locais para trabalhadores locais, a maioria indo para nativos, e 62% deles no setor "não-transacionável", um efeito que os autores chamam de "shot in the arm" ("injeção na veia", em tradução livre).

Aumenta também a diversidade de serviços locais, outra boa notícia para os moradores. Os salários tendem a cair no setor transacionável e subir no não-transacionável: o efeito final depende do tamanho da injeção na veia e da composição da economia local.

Referências

Um trabalho similar em espírito ao de Hong e McLaren foi feito em 1996 por Elise Brezis e Paul Krugman. A conclusão foi que inicialmente, os imigrantes pressionam os salários para baixo, mas a resposta do investimento e dos retornos de longo prazo causa um movimento contrário no longo prazo. 

O desafio é dar tempo para o efeito acontecer: o ciclo só se torna virtuoso se não for interrompido. "O otimismo ou pessimismo sobre o sucesso de uma economia em absorver imigrantes pode constituir uma profecia auto-realizável", escreviam os autores na época.

O efeito geral da imigração é uma questão ainda não resolvida na teoria econômica. As interações entre qualificação, consumo, cultura, empregos, salários, comércio internacional, empreendedorismo (e bravatas políticas) são complexas demais para serem capturadas por um único modelo. Ainda assim, a tendência é de ver a imigração como positiva no balanço.

Uma pesquisa da Universidade de Chicago com dezenas de economistas consagrados em 2013 fez a seguinte pergunta: o americano médio estaria em melhor situação se um número maior de trabalhadores estrangeiros de baixa qualificação pudesse entrar no país todo ano? 50% disseram que sim, 28% demonstraram incerteza e 9% discordaram.

Quando a pergunta é sobre o efeito da entrada de imigrantes bem qualificados, aparece um consenso: 89% concordam (fortemente ou não) que o efeito é positivo e 5% estão incertos.

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