Ilan Goldfajn: segundo presidente do BC, clima em relação ao Brasil em Davos estava "muito bom" (Adriano Machado/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 19 de janeiro de 2017 às 14h42.
Davos - O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, fez nesta quinta-feira, 19, um balanço positivo sobre a participação no Fórum Econômico Mundial de Davos. "Minha expectativa em relação à recepção sobre o Brasil foi ultrapassada", resumiu.
Segundo ele, o clima em relação ao Brasil foi "muito bom", o que significa que passa a percepção de uma inflexão sobre o ânimo.
"Da mesma forma que estamos em um momento de inflexão do crescimento, também tem uma inflexão em relação ao interesse sobre o Brasil."
Ilan Goldfajn salientou que participou de diversas reuniões bilaterais, de painéis e que esteve com vários líderes mundiais. "Acho que foi um bom conjunto de dias em Davos". Ele embarca de volta para o Brasil ainda na quinta-feira.
O presidente do Banco Central evitou comentar algumas percepções do mercado de que o Conselho Monetário Nacional (CMN) já possa reduzir na reunião deste ano a meta de inflação de 2019, de 4,5% para 4,0%, em razão de indicadores positivos sobre a economia - em especial sobre as variações de preços - correntes e previstas.
"Não vou adiantar nenhuma discussão em relação à meta de 2019", disse.
Segundo o presidente do BC, quando chegar a ocasião, os dados serão avaliados. "Vamos analisar o cenário e tomar uma decisão apropriada quando chegar lá", comentou.
Sobre o resultado do IPCA-15 de janeiro, que foi publicado mais cedo, de 0,31%, ele disse que o resultado veio em linha com o que a instituição vinha publicando na ata e o relatório trimestral de inflação.
"Nosso cenário é de desinflação e esse IPCA confirmou esse nosso cenário básico. Todos os dados são incorporados e analisados por todos nós ao longo do tempo."
O presidente do Banco Central lembrou que, nas divulgações, há sempre algo que sobe mais, algo que sobe menos. "Mas o dado corrobora o cenário básico que temos na ata, de desinflação", comentou.
Sobre a pressão vinda do preço internacional de petróleo, depois de um acordo capitaneado pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) para segurar a baixa dos preços, Goldfajn disse que o BC analisará sempre qual o seu impacto para os preços.
"A decisão sobre o preço da gasolina e do diesel é da Petrobras, que tem toda liberdade de definição. Acho que temos seguido determinado padrão, não se distanciando muito dos movimentos internacionais", considerou.
Em relação ao mercado de crédito, que ficou estagnado em 2016, alguns especialistas salientaram que, com a baixa da Selic, o aumento de financiamentos poderá ajudar na retomada da economia. "Minha impressão é que vai vir tudo junto", disse.
Segundo ele, quando houver essa inflexão na economia, a política monetária, as medidas já anunciadas, além de investimentos em infraestrutura, em conjunto, vão gerar recuperação. "Hoje o sistema financeiro está líquido e se a economia recupera, acho que vai acompanhar."
No dia em que o Banco Central aumentou de US$ 600 milhões para US$ 750 milhões a oferta no leilão diário de swaps cambiais, aproximando a possibilidade de realizar rolagem integral do volume de fevereiro, o presidente do BC reforçou que esta é a intenção da instituição. "Em princípio sim, esta é a ideia."
Ele disse, porém, que a autoridade reserva-se o direito de fazer mudanças ao longo do tempo. "A ideia é permanecer neutro, fazer a rolagem integral, mas isso pode mudar ao longo do tempo dependendo das condições."
Sobre a declaração feita por ele ontem durante entrevista também em Davos, em linha com a ata do Copom, de que a queda de 0,75 ponto porcentual da Selic seria o novo ritmo de baixa dos juros, Goldfajn afirmou que apenas repetiu verbalmente o que estava escrito. "Não houve mensagem adicional", avaliou.
O presidente do Banco Central afirmou que a instituição promoverá um seminário sobre spread bancário em fevereiro. O evento, de acordo com ele, contará com a presença de ex-presidentes do BC, bancos, economistas e formadores de opinião.
O evento tem relação com o Pilar 3 do BC, que trata da redução do custo de crédito. "Queremos abrir a discussão sobre spread bancário", disse, durante entrevista coletiva após participar do Fórum Econômico Mundial, em Davos.
Sobre a indústria do cartão, ele disse que o próximo passo após a medida anunciada para reduzir os juros do rotativo, é divulgar uma norma por meio do Conselho Monetário Nacional (CMN). As discussões sobre o cartão continuarão depois.
"Temos que repensar nosso modelo ao longo do tempo. O modelo hoje funciona, mas a gente acha que pode melhorar junto com o Sistema (Financeiro Nacional) todo", comentou.
O sistema hoje funciona e cresce, de acordo com o presidente do BC, mas a instituição está incomodada com o subsídio cruzado que existe em uma área em relação a outra - como o parcelado e o rotativo, por exemplo.
"No final, há um equilíbrio, mas uma parte paga pela outra", afirmou. A mudança, no entanto, tem que ser de forma "sustentável", de acordo com Goldfajn.
"Não dá para mudar um pedaço sem mudar o outro, por isso temos que pensar em conjunto", considerou. "A gente gostaria que cada parcela tivesse o seu próprio (critério), sem que uma parte precisasse subsidiar a outra", continuou.