O Índice de Perda de Qualidade da Vida (IPQV) da população teve uma retração de quase 30%: caiu de 0,227 entre 2007 e 2008 para 0,157 entre 2017 e 2018 (Germano Lüders/EXAME.com/Site Exame)
Agência de notícias
Publicado em 23 de junho de 2023 às 10h29.
A qualidade de vida do brasileiro melhorou num intervalo de nove anos, com avanço em áreas como moradia, saúde, educação e lazer. Mas a desigualdade permaneceu estacionada: famílias em que a pessoa de referência é preta ou parda ou mulher ou ainda que possui menor renda ou baixo grau de instrução apresentam têm menos bem-estar. É o que revelam os dados das duas edições da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), cujos dados comparados foram divulgados nesta sexta-feira pelo IBGE.
A pesquisa observa dimensões do bem-estar das famílias para além dos gastos com produtos e serviços. Ou seja, não considera a renda . O Índice de Perda de Qualidade da Vida (IPQV) da população teve uma retração de quase 30%: caiu de 0,227 entre 2007 e 2008 para 0,157 entre 2017 e 2018.
O índice varia de 0 a 1 e, quanto menor o indicador, menor a perda de qualidade de vida. Já o Índice de Desempenho Socioeconômico (IDS) cresceu 12,8% no mesmo período, passando de 5,452 para 6,147.
Diversas políticas públicas contribuíram para a melhora da qualidade de vida da população brasileira, avalia Leonardo Santos de Oliveira, analista da pesquisa. O recuo do Índice de Perda de Qualidade de Vida foi generalizado: todas as regiões do país, além das diferentes faixas etárias, faixas de renda, gênero, raça e composição familiar tiveram redução no IQPV. No entanto, a melhora não foi suficiente para eliminar as variadas desigualdades existentes no país.
" Como elas caem a taxas parecidas, a desigualdade permanece — explica Santos.
No caso das famílias em que a pessoa de referência é da cor preta ou parda, o índice é de 0,183, enquanto é de 0,122 nas famílias em que a pessoa de referência é branca. O índice nas áreas rurais foi de 0,244, bem maior que a média brasileira e que o indicador nas áreas urbanas, que ficou em 0,142.
Nas regiões Norte e Nordeste, o índice ficou em 0,223 e 0,207, respectivamente. No Centro-Oeste, em 0,158. Abaixo da média brasileira (0,157) aparecem as regiões Sul (0,114) e Sudeste (0,126). Outras desigualdades foram verificadas quando a pessoa de referência era mulher, tinha menor nível de instrução, menor renda, e a família tinha ao menos uma criança.
As questões relacionadas à educação, ao acesso aos serviços financeiros e padrão de vida e ao transporte e lazer foram as que mais pesaram contra a qualidade de vida do brasileiro.
Nesse sentido, segundo Soares, do IBGE, a pesquisa mostra o que precisa ser priorizado no combate às perdas da qualidade de vida da população brasileira. Contudo, a qualidade de vida tem um caráter multidimensional. Por isso, é necessário considerar que diferentes áreas da vida impactam o bem-estar das famílias.
A pesquisa também aponta que uma mesma área da vida - como é o caso da moradia - pode impactar de modo diferente as famílias. Há uma larga distância entre o que afeta os lares das famílias brasileiras quando se observam os 10% mais ricos e os 10% mais pobres.
Entre os mais pobres, aspectos ligados à estrutura do domicílio (66,1%) - como a quantidade de dormitórios, se há presença de umidade na casa, inadequação de piso ou telhado, ou violência próxima ao lar - são mais importantes do que fatores associados ao meio ambiente (33,1%).
Neste, são considerados aspectos como problemas ambientais causados por trânsito, esgoto a céu aberto e se a área está sujeita a deslizamento ou inundação. Entre os 10% mais ricos, a situação se inverte: o meio ambiente passa a ter uma importância maior (52,8%) do que a estrutura do domicílio (47,2%).
O desempenho socioeconômico do país, por sua vez, também avançou no intervalo de nove anos. Segundo Santos, do IBGE, o Índice de Desempenho Socioeconômico (IDS) do Brasil passou de 5,452 para 6,147 puxado pelo avanço da renda disponível e da redução das perdas da qualidade de vida.
Todos estados tiveram melhora no desempenho socioeconômico no período, sendo os maiores observados em Roraima (32%), e Sergipe (25,8%) e os menores no Rio Grande do Sul (9,1%) e Rio de Janeiro (5,6%). Os maiores desempenhos foram registrados no Distrito Federal (6,981) e São Paulo (6,878), e os menores no Maranhão (4,909) e Pará (5,108).
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A educação e o acesso a serviços financeiros foram os fatores que mais afetaram negativa o desempenho socioeconômico do país. Dessa forma, pesou contra o indicador o fato de as famílias terem dificuldades na posse de bens ou de pagar as contas em dia, por exemplo.
"Esse estudo se refere a um período anterior à pandemia, mas acredito que depois da crise sanitária se tornou ainda mais importante a aquisição de bens duráveis e a necessidade de melhora da educação — avalia Santos.
Pela primeira vez o IBGE trouxe uma comparação de dois indicadores - o Índice de Perda de Qualidade da Vida (IPQV) e o Índice de Desempenho Socioeconômico (IDS) - entre as duas últimas edições da POF, sendo a primeira realizada entre 2007 e 2008 e a segunda entre 2017 e 2018.
O IPQV é formado a partir de um conjunto de 50 indicadores, organizados em seis categorias — moradia; serviços de utilidade pública; saúde e alimentação; educação; acesso a serviços financeiros e padrão de vida; e transporte e lazer.
Todos são não monetários, ou seja, não há influência de rendimento na pesquisa. São considerados fatores como as condições de moradia e dos serviços básicos (coleta de lixo e energia elétrica, por exemplo), oferta de transporte público, acesso a bens dúraveis, entre outros. Os valores do IPQV variam de 0 a 1, sendo que, quanto mais perto de zero, menor a perda de qualidade de vida.
Já o Índice de Desempenho Socioeconômico (IDS) é calculado a partir da renda per capita e do Índice de Perda de Qualidade de Vida (IPQV). Quando maior o índice, melhor a capacidade de um estado transformar os seus recursos em qualidade de vida e bem-estar para população